Ao fio da navalha Tangará sonha com água do Sepotuba

 

Tangará em busca de segurança hídrica

Não cabe mais o jocoso apelido que a mais importante cidade do Chapadão do Parecis ganhou em 2016: Tangará da Seca.  Mas, ainda é precoce chamá-la de Tangarágua da Serra. Ainda que ao fio da navalha e torcendo pra São Pedro mandar chuvas abundantes, Tangará da Serra dá conta do recado e garante água nas torneiras de seus 103.750 habitantes, que o prefeito Fábio Junqueira (MDB) insiste que são 126 mil, “porque nós temos cruzamentos de números que atestam esse quantitativo”. Essa garantia fica condicionada a fatores climáticos. Se a estiagem for prolongada, não há como evitar o caos. A saída sonhada pelo prefeito se chama Sepotuba – importante rio formador do Pantanal.

Queda de braço com o IBGE à parte, Junqueira se sente tranquilo quanto ao fornecimento de água aos moradores da quinta maior cidade mato-grossense. O abastecimento é alicerçado nos reservadores do sistema formado pelo rio Queima-Pé e córregos de sua bacia, e também por postos artesianos. “Temos um conjunto de reservatórios que nos tranquilizam; além disso, as chuvas começam a chegar”, observou Junqueira numa conversa com o site na tarde da quarta-feira, 9, na Assembleia Legislativa.

Um dos reservatórios do sistema Queima-Pé

Mesmo com água em reservatórios no leito do rio e afluentes, Junqueira é cauteloso. Por meio do Samae – órgão municipal que capta, trata e distribui água – a prefeitura elaborou um plano estratégico de fornecimento de água. Alguns bairros atendidos pela Estação de Tratamento (ETA) alimentada pelo Queima-Pé, que bombeia para uma central de distribuição em Vila Alta, são abastecidos regularmente todos os dias; outros, dia sim, dia não, mas que saem do rodízio em algumas datas e, nesses casos, são contemplados diariamente. Os bairros que recebem água de poços artesianos  não enfrentam rodízio. Em campanhas de conscientização a prefeitura pede a todos que economizem água no período da estiagem, que neste ano começou em maio e que somente deverá ser revertido em novembro.

Junqueira e o sonho com a água do Sepotuba

Água em Tangará continuará cobertor curto, até que a prefeitura consiga capta-la no rio Sepotuba – o maior da região e no qual o Queima-Pé desagua. No mês passsado, Junqueira e o executivo do Samae, Wesley Torres, se reuniram com diretores da Caixa Econômica Federal correndo chapéu por financiamento da obra de captação e adução da água do Sepotuba. Preliminarmente a prefeitura tem um projeto elaborado pela BrDU Urbanismo, empresa presente em vários municípios e inclusive em Tangará, onde atua na área de loteamento urbano.

Um projeto para levar água do Sepotuba a Tangará exige, no mínimo, a construção de 25 quilômetros de adutora em terreno acidentado. Para se chegar à obra será necessário o cumprimento de um ritual ambiental e burocrático sem tamanho. Somem-se a isso a falta de recursos municipais para tanto. A prefeitura teria que recorrer aos governos federal e estadual, receber emendas parlamentares federais e estaduais, e buscar financiamento. Faltando um ano e dois meses e meio para concluir seu segundo mandato consecutivo de prefeito, Junqueira não estará no poder para cortar a fita simbólica da obra, caso a mesma se viabilize – como ele espera, em nome da “segurança hídrica“.

Superados os quesitos burocráticos e com recursos assegurados, a prefeitura terá que definir se passará a distribuir água exclusivamente do Sepotuba ou se a ela juntará o sistema do Queima-Pé e os poços artesianos.  Também terá que prevê o crescimento da cidade, que entre o censo de 2010 e a estimativa da população divulgada neste ano, registrou aumento populacional de 19,59%

REALIDADE – Enquanto sonha com chuvarada e com o projeto de captação no Sepotuba, Junqueira trabalha com a frieza dos números. O Samae tem capacidade para tratar 340 litros por segundo ou 1.224.000 litros por hora ou ainda 24.480.000 litros em 20 horas de funcionamento diário, o que em média daria 237,6 litros per capita por habitante, sem considerar o consumo industrial, comercial e institucional. Porém diante da redução do volume de água represado, a quantidade tratada cai para 250 litros por segundo ou 18.000.000 diários, o que puxa a média per capita para baixo: 174, 7 litros. Esses números, arredondados, e imaginariamente apurados num sistema que não poderia falhar nem contar com vazamentos nas redes de distribuição – que atormentam todas as cidades brasileiras –  que sempre alcançam a casa de dois dígitos.

CRISE – Em 2016 uma grande estiagem provocou racionamento de água na cidade e o nível do volume do sistema Queima-Pé ficou perto de zero. Desde então a prefeitura investe em reservatórios complementares, em terrenos rurais particulares, mas com outorga do município.

A capacidade máxima de armazenamento aumentou com os novos reservatórios, mas para alcança-la será preciso que chova com intensidade na região.  Antes que se alcance o teto, o nível varia de acordo com as questões climáticas. Não há número oficial sobre o máximo da capacidade dos lagos formados pelos reservatórios.

O nível dos reservatórios varia de acordo com a quantidade destinada ao tratamento na ETA, vazão, evaporação e as chuvas na região. Nesse final de ano, caso se confirmem as previsões de chuvas intensas em dezembro e janeiro, será possível alcançar e conhecer o teto da capacidade do sistema Queima-Pé.

(Atualizada em 10 de outubro às 8h09)

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS:

! – José Medeiros

2 e 3 – Divulgação Prefeitura de Tangará da Serra

 

 

 

 

manchete