Aos ‘patriotas’ e aos comunistas que comem criancinhas

Eduardo Gomes

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Governador Milton Campos

Com o Orçamento da União pendente de aprovação pelo Congresso, o Tesouro Nacional proibiu a contratação de financiamento agrícola com os recursos do Plano Safra. Bastou isto para o radicalismo dos novos cristãos da direita entupirem as redes sociais com toda sorte de críticas contra o presidente Lula da Silva e seu ministro da Agricultura, o xomano Carlos Fávaro. Pura leviandade verbal e digital, e em maio aos ataques Haddad anunciou que na próxima segunda-feira o Diário Oficial publicará uma medida provisória que assegurará 4 bilhões para o financiamento aos produtores rurais.

Existe o Brasil, o Brasil da polarização, e ambas as partes da luta ideológica (diria fisiológica) tentam criar um outro Brasil.

Nesta semana o vice-presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Campos (União) fez um pronunciamento para revelar que acionará a Unale – a entidade que reúne os parlamentos estaduais – por uma campanha nacional de conciliação em busca de anistia ampla, geral e irrestrita, como aquela que botou fim às mortes entre a direita e a esquerda no auge do período ditatorial instalado em 31 de março de 1964.


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A proposta de Júlio Campos é boa e o Brasil deve abraçá-la. Chega da insana luta que presenciamos, basta de condenações a penas abusivas. É tempo de paz, de harmonia, de mãos estendidas.

Vejo o quadro atual com preocupação, mas, mesmo assim encontro espaço em minha memória para buscar o exemplo de uma atípica proposta de conciliação em Minas, que não pode se repetir, pois precisamos de um entendimento maior que as mágoas, os rancores, o ódio estampado na cara e o coração insensível dos que acreditam serem donos da verdade, que não respeitam o pensamento contrário e tentam sufocar a liberdade de expressão.

O caso em Minas.

O estadista, advogado e jornalista ateu Milton Campos governava Minas no pós-ditadura Vargas. À época, UDN e PSD eram dois redutos de inimizade mortal em Mutum, nos altos dos montes no Vale do Rio Doce. Udenista matava pessedista e vice-versa. O sangue jorrava no chão de Mutum. Os sinos da matriz entoavam o ritmo fúnebre. A cidade era um mar de lágrimas. Aquele  cenário era inaceitável e o governante enviou uma delegação ao município, para preparar um encontro entre os presidentes dos dois partidos, em Belo Horizonte, sob sua presidência.

Em dias diferentes os dirigentes dos dois partidos embarcaram no trem da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para BH. Mineiro habilidoso, Milton Campos preparou dois auditórios para evitar o encontro entre os adversários e também inimigos. Somente depois de receber garantia de ambos os lados, o governante os levou para uma sala onde aconteceriam os apertos de mãos, não por trégua, mas por uma anistia ampla, geral e irrestrita.

Tudo certo para o ponto alto da solenidade. Os fotógrafos ajustavam suas máquinas Kodak. Milton Campos convidou os dois presidentes para o grande momento. Ambos deixaram suas cadeiras e foram ao encontro do governador. O coronel do PSD estendeu a mão. Seu colega da União, não, e dirigindo-se ao anfitrião fez uma observação, “Dotô Milton, a gente promete nunca mais dar um tirinho sequer nessa gente, mas primeiro temo que apagar dois, pra empatar, pra que não haja ganhador nem perdedô”.

A iniciativa de Milton Campos fracassou, mas, pelo menos, ele tentou. Não podemos permanecer de braços cruzados e indiferentes às loucuras na internet, e isso sem necessidade que haja empate entre os loucos dos dois lados do falatório.

Foto: Acervo Governo de Minas Gerais