PS – Sobre o colonizador André Maggi escrevi em 24 de abril de 2001, no Jornal Diário de Cuiabá, o texto abaixo:
“Arado em outras mãos
A saga de André Antônio Maggi em Mato Grosso não termina com a doença que o vitimou no domingo passado, em São Paulo. A cada safra, a cada novo habitante em Sapezal, a cada resultado de pesquisa da Fundação Mato Grosso, a cada comboio carregado de soja que singrar os rios Madeira e Amazonas rumo a Europa e Ásia, a cada fardo de algodão descaroçado seu tino empresarial se fará presente.
A visão empresarial de André Maggi encontrou o campo ideal para ser posta em prática no cerrado mato-grossense, onde ele revolucionou os conceitos da economia agrícola. E nenhum título lhe cairia melhor do que “O Último Bandeirante do Século XX”, que lhe foi outorgado pela Fundação Mato Grosso através de seu ex-presidente Gilberto Goellner.
Bandeirante que nos anos 1980 fundou Sapezal e arrastou grandes produtores para a maior área agricultável contínua do mundo, o Chapadão do Parecis. Que estimulou a pesquisa através da Fundação Mato Grosso, em Rondonópolis, para assegurar produtividade de grãos e plumas. Que estabeleceu relação de confiança entre produtor e comprador de soja. Que lançou novos cultivares de soja no mercado. Que inovou em sistema de transporte utilizando hidrovia para escoar safra em larga escala.
André Maggi foi exemplo também fora da área da iniciativa privada, onde sempre se pautou pela pontualidade nos pagamentos, pelo respeito e valorização de seus incontáveis funcionários. Na vida pública, na condição de primeiro prefeito de Sapezal, demonstrou lisura e honradez no trato das finanças de seu município, a tal ponto que se viu obrigado a renunciar ao cargo por não compactuar com o subterrâneo do poder que lamentavelmente insiste em destruir ou corromper o político avesso à corrupção e ao festim com o erário público.
Ao setor produtivo primário André Maggi deixa um legado ímpar, que seguramente inspirará e motivará aqueles que entoam a canção da produção lavrando a terra de Itiquira a Guarantã do Norte, de Aripuanã a Barra do Garças, de Alto Taquari a Vila Rica, de Comodoro a São Félix do Araguaia.
À classe política deixa o exemplo do respeito ao erário público, algo que ao mesmo tempo é tão irreal por parte de mandatários quanto é intensamente desejado pelo povo brasileiro.
Mato Grosso despede-se de uma das figuras mais importantes de sua economia, de um dos principais agentes de seu desenvolvimento. Sapezal perde seu fundador e patrono. André Maggi entra para a história e ocupa lugar de destaque na galeria dos grandes colonizadores do Estado.
O colonizador, agricultor e empresário deixa o arado com os herdeiros e seus funcionários e seu corpo volta ao pó depois de cumprir sua missão na Terra. A viúva Lúcia Borges Maggi, filhos Blairo, Fátima, Rosângela, Marli e Vera, genros e netos perdem o convívio do patriarca. Mato Grosso ganha uma lenda, aquela que narra a vida de um filho de imigrantes pobres do Rio Grande do Sul e que se tornou o maior produtor de soja do mundo: André Antônio Maggi”.
EDUARDO GOMES
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