Pelo fim da Empaer. Esta é a política do governador Mauro Mendes (União) executada pelo presidente daquela empresa estatal, o historiador e articulista Suelme Fernandes. Um dos passos decisivos nesta direção é a venda de quatro áreas de pesquisas e a transformação da estrutura em Várzea Grande em um conjunto habitacional. Em defesa da Empaer a Assembleia Legislativa realiza uma audiência pública na segunda-feira, 24, às 14 horas. A audiência foi requerida e será presidida pelo deputado Júlio Campos (União) atendendo servidores e o sindicato que os representa, o Sinterp.
A Empaer permanece sob ameaça de extinção desde 2003, quando o então governador Blairo Maggi tomou posse. Quem sustenta a afirmação é Gilmar Brunetto, o Gauchinho, presidente do Sinterp. Ano a ano, segundo ele, a empresa é boicotada, mas seus servidores e pesquisadores levam adiante o trabalho para o fortalecimento das 145 mil famílias da agricultura familiar nos 141 municípios.
O objetivo da audiência é alertar e mobilizar a população contra o desmantelamento da Empaer, e convencer Mauro Mendes da necessidade de manutenção e fortalecimento da empresa.
Na semana passada, o Sinterp e um grupo de servidores da Empaer discutiram o cenário com Júlio Campos e o deputado estadual Wilson Santos (PSD), no gabinete do presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (União). Os participantes asseguraram que levarão a luta adiante, mas sabem que enfrentarão muita dificuldade, pela obstinação de Mauro Mendes e do vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) em extinguir a Empaer.
Dessa reunião surgiu a proposta para se convidar os prováveis candidatos ao governo em 2026, para que os mesmos assumam compromisso de reerguer das cinzas o que restar da empresa. Assim, foram relacionados os seguintes nomes: Otaviano Pivetta; senadores Jayme Campos (União), Wellington Fagundes (PL) e Carlos Fávaro (PSD), que é ministro da Agricultura; a deputada estadual Janaína Riva (MDB); e o empresário Odílio Balbinotti, considerado filiado ao PTB, mas que pode ter migrado para o PL.
Ainda sobre presença, Gauchinho ao longo da semana passada convidou servidores de todos os municípios onde a Empaer se faz presente, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, secretários municipais de Agricultura e figuras do governo, com destaque para Suelme e o secretário de Agricultura Familiar (SEAF) Luiz Artur de Oliveira Ribeiro, o Luluca Ribeiro – a Empaer é vinculada à SEAF.
ENTENDAM – Gauchinho destaca que há pouco mais de dois meses Suelme assumiu a presidência da Empaer, para levar adiante a política pelo seu sucateamento. Para o historiador e articulista chegar ao cargo, Mauro Mendes exonerou sumariamente o então presidente Renaldo Loffi, o Alemão, que não estaria rezando por sua cartilha. Pela postura de Suelme, Gauchinho considera que ele esteja com “confusão mental”, pois seu histórico foi de luta pela agricultura familiar. O governo e Suelme preferem a comodidade do silêncio deixando o barco correr.
No período de Suelme na presidência, por meio do Conselho Deliberativo que define as ações da Empaer, ficou estabelecido seu verdadeiro desmonte. Esse Conselho, com representantes do governo estadual, Famato, Embrapa, Fetagri, Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Sinterp – com o voto contrário do Sinterp – abre a porteira para a venda dos campos experimentais de Rosário Oeste e Cáceres; de parte dos campos experimentais em Sinop e Tangará da Serra; e pela desativação da unidade urbana em Várzea Grande, com 76 salas – essa unidade foi construída em 1983 quando Júlio Campos era governador.
ÁREAS– A decisão é pela venda integral dos campos em Cáceres e Rosário Oeste. Gauchinho destaca que no primeiro foram desenvolvidas pesquisas sobre capim e produzidas mais de 100 mil mudas de banana-da-terra da variedade anã.
Para o campo de Tangará da Serra a meta é a venda de 149 hectares, área que é nascente do rio São José, afluente do Sepotuba, do Pantanal. Gauchinho considera essa hipótese “inconcebível”. Segundo ele, trata-se de uma reserva natural distante 20 km da cidade e que poderia ser mantida como centro de pesquisa e de conservação ambiental.
Quanto ao campo de Sinop, a meta do governo é vender parte da área. O dirigente sindical alerta que o campo é vizinho à Penitenciária Regional Ferrugem, e que a mão de obra carcerária poderia ser utilizada pela Empaer dentro do programa de ressocialização liderado pelo desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri.
SUGESTÃO – A área em Várzea Grande que Mauro Mendes quer transformar em conjunto habitacional poderia ser oferecida em parceria à Embrapa, que planeja instalar uma unidade de pesquisa naquela cidade, para atender a Baixada Cuiabana. Gauchinho pondera que a estrutura existente é suficiente para abrigar todos os laboratórios e demais dependências necessárias, e que ali, os técnicos da Embrapa e da Empaer poderiam trocar experiências pela resolutividade da ciência agronômica.
A instalação da Embrapa em Várzea Grande foi anunciada pelo ministro Carlos Fávaro (Agricultura) como sendo em atendimento a um pedido do deputado estadual Lúdio Cabral (PT), mas Fávaro esqueceu-se de citar que o pedido original partiu do Sinterp.
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PENÚRIA – Mato Grosso tem 145 mil famílias na agricultura familiar em assentamentos, comunidades tradicionais e áreas quilombolas. Para atendê-las a Empaer conta com 220 técnicos e apenas 12 pesquisadores. Desde 2016, quando foram convocados os últimos aprovados em curso público no governo de Silval Barbosa (2010/14) a Empaer não realizou concurso público.
Paralelamente a isso, por falta de produção de hortifrútis, Mato Grosso importa anualmente 1,5 milhão de reais da Ceasa em São Paulo e de outros fornecedores.
O AMANHÃ – O resultado da audiência pública será importante para o amanhã da Empaer, acredita Júlio Campos, que além de parlamentar e político que exerceu vários cargos, é engenheiro agrônomo e conhece bem, de ofício, a relevância da pesquisa agronômica, que na esfera da Empaer leva em conta também os aspectos sociais.