Blairo Maggi declara apoio político a Mauro Mendes e Adilton Sachetti. Em tese, por duas razões Blairo poderia tranquilamente assumir tal posicionamento. Porém, a realidade é bem outra.
Em tese, por ser amigo de Mauro Mendes (DEM), Blairo pode apoia-lo ao governo. Também em tese, por ser amigo de juventude, contemporâneo de faculdade, compadre e vizinho de Adilton Sachetti (PRB) em Rondonópolis, Blairo pode vestir sua camisa ao Senado.
A essa tese junta-se ainda a realidade das regras eleitorais, que desde a eleição de 1986 aboliu o voto vinculado, que exigia que o eleitor votasse para todos os cargos em candidatos do mesmo partido.
No entanto, por questão ética e de respeito Blairo deveria observar a realidade de seu mundo político. Senador eleito pelo PR com mais de um milhão de votos (1.033.079) – maior votação recebida por candidato em um só pleito em Mato Grosso – e posteriormente filiado ao PP, Blairo foi nomeado ministro da Agricultura pelo presidente Michel Temer.
O Ministério da Agricultura faz parte do loteamento de cargos na coalização que governa o Brasil. Sua nomeação foi chancelada partidariamente – é cota do Partido Progressista. Em Mato Grosso o PP integra a coligação “A força da união” liderada pelo PR e composta também pelo PMN, PROS, PCdoB, Podemos, PT, PV, PTB e PRB. Por essa aliança os progressistas lançaram para deputado federal o presidente regional da sigla, Ezequiel Fonseca – que busca a reeleição – e o ex-ministro da Agricultura Neri Geller; e para a Assembleia Legislativa 16 nomes, dentre os quais Wener Klesley dos Santos, que é irmão de Cidinho dos Santos (PR) – suplente de Blairo no Senado.
A força da união tem ao governo o senador republicano Wellington Fagundes numa chapa com a vice Sirlei Theis (PV) e para o Senado a professora Maria Lúcia Cavalli (PCdoB) e Adilton Sachetti (PRB). Com seu posicionamento Blairo menospreza os compromissos partidários do PP, muito embora apoie Adilton para senador, mas esse apoio é no plano pessoal, motivado pela amizade que os une.
Ao pinçar Adilton numa coligação e isolar os demais componentes da mesma Blairo passa a imagem – ainda que eventualmente não pense assim – que seu amigo será seu porta-voz no Senado relegando Mato Grosso a segundo plano, desde que atenda os interesses de seu grupo econômico.
Lamentável a postura de Blairo. Em 2002 logo após a proclamação do resultado da eleição ao governo o entrevistei. Emocionado com a vitória, disse que quando cruzou a ponte do rio Correntes – divisa MT/MS – vindo do Paraná, era apenas um lavoureirozinho e que não pensava em política.
A política mato-grossense foi generosa com Blairo. Em 1994 o elegeu primeiro suplente do senador Jonas Pinheiro. Em 2002 e 2006 elegeu e reelegeu governador em primeiro turno. Em 2010 o fez senador. Em nenhuma dessas eleições Blairo foi eleito sem a participação de grupo político – e, claro, com o voto mato-grossense. O Senado e o Ministério da Agricultura são atividades passageiras para todos, inclusive para Blairo.
Em nome da ética, da moral na vida pública, em respeito ao grupo que o apoiou, em observância ao princípio da lealdade partidária Blairo deveria entregar o cargo de ministro, para subir ao palanque de quem bem entendesse, sem faltar com o respeito a quem lhe deu poder. Fora disso, salvo melhor juízo, é oportunismo. Oportunismo de um homem que tudo recebeu de Mato Grosso, que no governo realizou importantes obras e muito contribuiu com o desenvolvimento mato-grossense, mas que nem por isso tem o direito de se sentir acima do bem e do mal, de ser dono de suas decisões políticas enquanto ministro, porque esse cargo não foi conquistado por meritocracia, mas por entendimento político – o mesmo entendimento que seu íntimo teima em desqualificar.
Eduardo Gomes de Andrade/blogdoeduardogomes
FOTO: Assessoria de campanha de Mauro Mendes