CUIABÁ – Filas nos postos para abastecer enquanto rodovias permanecem trancadas

Fila para abastecer em Cuiabá

Em seu quarto dia consecutivo e a cada vez aumentando a adesão, a paralisação nacional dos caminhoneiros dá os primeiros sinais de travamento da vida nas cidades, longe das rodovias. O movimento pede redução do preço do litro do diesel nas bombas, desoneração do diesel e política administrativa sensata da Petrobras.

Em Cuiabá a quinta-feira foi de correria para abastecimento dos automóveis. O produto (incluindo etanol e gasolina aditivada) começou a faltar no começo da tarde. Supermercados também aumentaram as vendas, principalmente de leite, verduras e frutas, pois há rumores sobre desabastecimento. No período da tarde de hoje, um acordo entre empresas de transporte de passageiros urbanos na capital e a prefeitura reduziu pela metade a frota em circulação. Os depósitos do combustível nas garagens dos ônibus está na quota mínima. Se o movimento grevista não permitir a reposição do produto, todas as linhas incluindo as de Várzea Grande entrarão em colapso. Também nessa tarde, centenas de caminhoneiros deixaram o bloqueio no Distrito Industrial da capital (BR-364/163/070) e percorreram ruas centrais da cidade fazendo buzinaço.

A Secretaria de Segurança Pública não comenta, mas é visível a redução do patrulhamento policial motorizado na capital. Em alguns municípios o transporte escolar está ameaçado – em vários a frota roda com os últimos litros dos tanques dos ônibus e não há onde reabastecê-los.

A paralisação estrangula o escoamento da safra agrícola para exportação e poderá comprometer, ainda que temporariamente, a balança comercial mato-grossense. O querosene de aviação ainda não afetou as frequências mato-grossenses, mas nacionalmente todas as luzes estão acesas e há registros de desvio de rotas para garantir a gasolina dos jatos.

Bloqueio na BR-364/163/070 em Cuiabá

Rodovias federais e estaduais estão bloqueadas em Mato Grosso, mas os manifestante não interferem na circulação dos veículos leves, motos e no transporte de cargas vivas. A passagem dos pesadões é impedida por manifestantes em cerca de 20 barreiras em Rondonópolis, Confresa, Tangará da Serra, Nova Mutum Cuiabá, Várzea Grande, Barra do Garças, Primavera do Leste, Água Boa, Campo Novo do Parecis, Comodoro, Sapezal, Cáceres, Lucas do Rio Verde, Pontes e Lacerda, Campos de Júlio, General Carneiro, Campo Verde, Jaciara, Guarantã do Norte e várias outras cidades.

Entidades estão solidárias com o manifesto. Em alguns pontos sindicatos rurais  reforçam os bloqueios. A classe política faz silêncio sobre a paralisação. Faixas de protesto contra o presidente Michel Temer, Petrobrás e políticos se espalham pelo Estado.Também há  faixas e cartazes de apoio ao juiz federal Sérgio Moro.

Não há uma organização que realmente lidere o movimento, pois a greve começou a circular espontaneamente em redes sociais e grupos de WhatsApp de caminhoneiros. Mas uma das principais entidades participantes é a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que representa a maioria dos sindicatos de motoristas autônomos. Outros sindicatos se juntaram aos protestos, como a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) e a União Nacional dos Caminhoneiros do Brasil (Unicam). O movimento acabou fortalecido  pelos caminhoneiros de frota também – que são contratados, com carteira assinada, por transportadoras.

O último balanço dos grevistas, do começo da noite de quarta-feira, relacionou 253 pontos de protestos, em 23 estados  e o Distrito Federal.

Numa tensa reunião na tarde dessa quinta, em Brasília, entre representantes do Palácio do Planalto e das entidades à frente do movimento,  o líder da Abcam, José de Fonseca Lopes, saiu do recinto recusando-se a dar um voto de confiança no governo, concedendo entre 15 e 30 dias de trégua para que autoridades encontrem saída para o impasse. Dirigentes de outras entidades do transporte levaram adiante a discussão, mas nem mesmo os participantes sabem o que acontecerá na prática no tocante aos bloqueios  O encontro com as lideranças dos caminhoneiros teve a participação dos ministro Elizeu Padilha (Casa Civil), Valter Casimiro (Transportes) e do general Echegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).

 

GOVERNO  – Nos próximos 15 dias não haverá aumento do petróleo. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANT) flexibilizou exigências abrindo mão da mistura do álcool à gasolina e permitindo uma informal bandeira verde na movimentação do combustível entre distribuidoras. Os manifestantes mesmo assim não arredam o pé, não aceitam remendos na legislação tributária e querem desoneração total. O Congresso terá sessões na sexta-feira para tratar do caso.

 

ARES – A Infraero, que opera vários aeroportos importantes produziu nesta quinta um relatório citando que falta querosene de aviação nos aeroportos de Ilhéus (BA), Carajás (PA), Palmas (TO), São José dos Campos (SP,) Uberlândia (MG) e Juazeiro do Norte (CE). E que em outros cinco, o combustível só é suficiente por mais 12 horas: Navegantes (SC), Recife, Goiânia, Londrina (PR) e Maceió.

 

DURA LEX – Em Nierói, o juiz da 4ª Vara Federal, William Douglas Rosinete dos Santos, concedeu à concessionária Autopista, liminar de reintegração de posse da BR-101 nos 322 quilômetros entre Niterói e a divisa com o Espírito Santo e determinou que o Exército dê cobertura a ação da Polícia Rodoviária Federal para o cumprimento de seu mandado.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Eduardo Gomes

2 – Dinalte Miranda

 

PS – Material postado às 18 horas. A situação, por se tratar de greve, pode mudar a qualquer momento.