Breves palavras sobre a partida do ator-autor

 Pode ser um lugar comum, mas não há como deixar de repeti-lo num instante de lamento. O passamento de  Luiz Carlos Ribeiro causa um vácuo em nossa escassa história do teatro em Mato Grosso.

Conheci-o, através dessa sempre presente e ativa Lúcia Palma, em 1974, numa das minhas esporádicas vindas a Cuiabá. Fui a um sarau e lá estava ele declamando, com a mesma ênfase e a perfeita locução de sempre. Desde então mantivemos um relacionamento de fraterna amizade. Acompanhei o seu esforço, quase solitário, de organização dos grupos teatrais amadores em Mato Grosso, como cofundador, e depois presidente, da Federação Mato-grossense de Teatro – FEMATA. Posteriormente, se tornaria um dos diretores da Confederação Nacional de Teatro, a CONFENATA.

Ator e diretor autodidata alcançou o auge no inicio dos anos oitenta quando participou do Projeto Mambembão, atuando como ator e assistente de direção de “Rio Abaixo- Rio Acima, ou Ergue o Mocho e Vamos Palestrar”. Essa peça, de autoria e sob a direção de Maria da Gloria Albués, a “Glorinha”, outra figura marcante do teatro e da cultura atual mato-grossense, recebeu elogios de importantes críticos, um dos quais, o respeitado Yan Michalski, que a indicou para receber dois prêmios mambembes. Nesse período, escreveu e dirigiu “Gudibai Meu Boizinho”, peça que apresentaria em diversas comunidades rurais e pequenas cidades. Depois viria a trilogia “Pelos Cotovelos”, “A Virgindade Contestada” e “Vespa Sete”, escritas e dirigidas por ele.

Em 2006, LC publicaria o seu primeiro texto não teatral, o livro de contos “A Mala de Fugir e Outras Histórias”. No entanto, a atração do palco lhe era tão vital que logo ele o adaptaria para uma peça, com o mesmo nome, na qual atuou como ator. Em 2009, com esse incansável Flávio Ferreira, diretor da Companhia Cena Onze encenam a peça “Fica, Pedro”, de sua autoria, uma biografia do bispo Pedro Casaldáliga.

Quando estive, pela segunda vez, presidente da AML promovi uma série de palestras e apresentações musicais, abrangendo todas as áreas da cultura. Luiz Carlos fez uma excelente apresentação sobre a história do teatro em Mato Grosso, abordando aspectos até então pouco conhecidos. Vi-o pela ultima vez na comemoração do Centenário de Manoel de Barros, em evento realizado na Universidade Federal. A dicção, o gesto correto, a cadencia estudada, numa comunhão perfeita do interprete com o texto interpretado eram a sua marca.

Luiz Carlos Ribeiro, o ator e o ativista cultural, será recordado sempre não somente pelos amantes da arte teatral, mas por todos aqueles que tiveram a oportunidade de com ele conviver. A figura de aparência tranquila, o seu conhecimento discreto, a cordialidade na melhor tradição cuiabana estão inscritas em sua trajetória.

 O artista curva-se em reverencia ante a plateia. É o ato final. O adeus vem com um leve sorriso. A satisfação do papel desempenhado com empenho e amor. Descerram-se as cortinas. A vida continua … .

 

Sebastião Carlos Gomes de Carvalho é membro da Academia Mato-Grossense de Letras. Historiador. Publicou, entre outros, “No distante Oeste a primeira crítica teatral no Brasil”.