Cadê o PT que estava aqui?

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

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Um a um os petistas foram sumindo, os mandatos encolheram e líderes escafederam. O partido do presidente Lula não conseguiu eleger prefeito nem vice-prefeito em Mato Grosso e das 1.413 cadeiras nas câmaras municipais, ocupará apenas 21. A bancarrota é visível, mas em meio aos escombros eleitorais os companheiros apostam no renascer representado pelo deputado estadual Lúdio Cabral, que disputou a Prefeitura de Cuiabá, chegou ao segundo turno, cravou 147.127 votos (46.20%) e saiu da disputa de cabeça erguida.

Excluindo a candidatura de Lúdio, em Mato Grosso o PT foi um grande fiasco, inclusive na disputa proporcional em Cuiabá, onde não conseguiu eleger vereador. Não é o fim da picada, pois uma eleição não tem nada a ver com a outra, mas o resultado, quando nada, acende todas as velas possíveis, senão vejamos.

Não creio que a cassação da vereadora Edna Sampaio, em Cuiabá, pela Câmara, por improbidade administrativa , tenha influenciado o resultado da eleição, pois escândalo político é o que mais acontece em Mato Grosso.

Serys deixou o PT

Historicamente o PT elegeu deputados federais e estaduais, e em 2002 chegou ao Senado com Serys Slhessarenko. Acontece, que o partido não se renovou e, paralelamente a isso, os ex-deputados federais Gilney Viana e Carlos Abicalil, pegaram a BR-364 e escafederam. Serys, que foi deputada estadual em três legislaturas consecutivas e cumpriu um mandato no Senado, deixou a legenda, fez turismo partidário e foi contratada pelo deputado estadual Wilson Santos (PSD) para sua assessoria política.

Dos petistas que seguravam a peteca no ontem restaram poucos: Lúdio; o deputado estadual e presidente da sigla, Valdir Barranco; a ex-deputada estadual Verinha, na militância; a ex-vereadora por Cuiabá, Enelinda Scala, na militância; o ex-deputado federal Ságuas Moraes, que tomou Doril; o ex-deputado estadual Ademir Brunetto, desaparecido; e o ex-prefeito de Juína, Altir Peruzzo, embrenhado no anonimato.

Desfalcado, mas não desfigurado, o PT foi às urnas, mas com sede de cargo familiar. Barranco lançou sua mulher, Rose Barranco, candidata a vereadora por Cuiabá, e o irmão Claudemir Barranco, o Dr. Barranco, para prefeito no município de Terra Nova do Norte, e além de ser derrotado, o mano não conseguiu eleger um vereador sequer; Dr. Barranco recebeu apenas 1.940 votos sendo massacrado nas urnas pelo prefeito Pascoal Alberton (MDB), que foi reeleito com 4.501 votos (69,90%). Lúdio, também revelou seu lado Lar Doce Lar lançando o irmão James Frank Mendes Cabral (PT) candidato a vice-prefeito do pepista Sérgio Adriano Gomes de Arruda, em Cáceres, e sua chapa ficou em terceiro lugar na disputa com outras duas.

A ambição de Fávaro

FEDERAÇÃO – Engessado numa federação com o PCdoB e o PV, o PT virou uma espécie de anão que carrega outros dois nas costas – já que nenhum soma eleitoralmente. Para agravar, os petistas aceitaram em sua coligação em Cuiabá, o PSD de Carlos Fávaro, pai de Rafaela Fávaro (PSD), que foi companheira de chapa de Lúdio. Fávaro estava na campanha em 2024, mas de olho em 2026, para disputar o governo ou o Senado, dependendo do curso dos acontecimentos. O projeto de Fávaro não inclui o PT; não inclui ninguém a não ser ele mesmo. Segundo dizem, quando Deus distribuía virtudes e defeitos, ao procurar a ambição não viu o saco onde a guardava. Elevando o olhar o Senhor viu Fávaro correndo com ele nas costas.

Portanto, nas eleições estaduais o PT não deve esperar nada de Fávaro, nem mesmo para apoiar Lula, que o fez ministro – a menos que os ventos indiquem a possibilidade de reeleição do presidente.

Em Mato Grosso o PT não se renova e permanece como uma grande reserva de mercado para seus líderes. Em Cuiabá, o ex-juiz federal Julier Sebastião da Silva coleciona derrotas nas urnas, porque os companheiros não investem em sua inteligência, preferindo mantê-lo longe do poder. Candidato a vereador nesta eleição, Julier recebeu a porta da cara de Barranco, que optou pela tentativa de fazer de sua mulher, Rose, vereadora.

O mal do PT é que ele teima em manter debaixo do tapete suas grandes ações em Mato Grosso, preferindo pela luta ensandecida por cargos públicos. O transporte escolar na zona rural, a universalização da energia no campo, regularização fundiária e o avanço da ferrovia nunca entram na pauta dos discursos petistas.

O transporte escolar pelos famosos ônibus amarelos retira a criança e o adolescente do isolamento na zona rural e os interage com a cidade, o que representa grande ganho social.

O Luz para Todos do presidente Lula e inicialmente executado por sua então ministra Dilma Rousseff, literalmente tirou o campo das trevas, levou conforto domiciliar e modernizou muitas atividades rurais.

Lula e Dilma avançaram na regularização fundiária tanto rural quanto urbana, muito embora o mosaico fundiário continue longe do ideal.

Com o PT a antiga Ferronorte, rebatizada Rumo Logística, avançou de Alto Taquari para Alto Araguaia, Itiquira e Rondonópolis, onde o trem apitou pela primeira vez em  19 de dezembro de 2012, pouco antes da inauguração oficial da ferrovia por Dilma e o governador Silval Barbosa.

O perfil populacional mato-grossense levaria ao fortalecimento do PT por sua atuação, mas o partido não tem competência ou interesse – ou ambos – em despertar o eleitorado por sua atuação, que além dos temas acima abordados, também foi positivo no setor rodoviário, com a conclusão da pavimentação da BR-163 em Mato Grosso e o avanço da BR-158 no Vale do Araguaia; sobre a BR-163 é preciso que se tenha em conta a visão de Luiz Antônio Pagot, quando o mesmo presidiu o Dnit.

Fracasso

Pior resultado para o PT, impossível. Derrotado na disputa pelas prefeituras, o partido também foi um desastre para as câmaras municipais. Das 1.413 cadeiras nos 142 legislativos, o União Brasil conquistou 303, o PL (201), MDB (194), Republicanos (167), PSB (164), PP (101), PSDB (63), o novato PRD (52), Podemos (43) e os companheiros apenas 21.

Os petistas não elegeram vereador em Cuiabá, Várzea Grande, Sinop, Sorriso, Primavera do Leste e outras grandes cidades. Sua bandeira, nas câmaras, somente será vista em 15 municípios, a exemplo de Alto Paraguai, com os vereadores Sílvio do Vadico e Vanilda Fernandes; em Santa Carmem, Poxoréu, Nossa Senhora do Livramento, União do Sul, Planalto da Serra, Nova Brasilândia, Cocalinho e outros municípios incluindo Campinápolis.

Campinápolis é o único município mato-grossense com população indígena predominante. Dentre os xavantes, foi eleito o vereador Pedro Paulo Tsereparan, e da zona rural, Dionísio da Jacu. São dois petistas para uma legislatura com 11 cadeiras.

Casaldáliga deixou legado que o PT não sabe aproveitar

Em São Félix do Araguaia, sede da Prelazia de São Félix do Araguaia, onde o bispo Dom Pedro Casaldáliga, de esquerda, foi o grande líder popular, o PT não conseguiu ocupar espaço político e está ausente da Câmara.

Em 1974 o projeto  da Colonizadora Frenova Sapeva que resultou na cidade de Confresa sofreu levas de invasões de agricultores em busca de terras para cultivar. De 1991 a 1996 Confresa saltou de 3.293 habitantes para 17.196 (com 7.573 mulheres e 9.623 homens). Com esses números, Confresa registrou no período uma taxa de crescimento anual de 39,96%, muito acima da mato-grossense, de 1,9%, e da brasileira, de 1,53%.

Em Confresa, que poderia ser um núcleo petista, o partido de Lula não lançou candidato a prefeito nem a vice, e não elegeu vereador.

A maior vitória proporcional para prefeito foi a de Emerson Sabatine (PL) em Itanhangá: 94,64%. O petista Dirceu Luiz Cappelesso recebeu 5,36% dos votos. O assentamento que resultou em Itanhangá foi instalado em 12 de agosto de 1994, na Fazenda Vale do Arinos, município de Tapurah – presenciei aquele marco da reforma agrária. Os petistas que lideram o partido não encontraram ambiente eleitoral naquele que em tese deveria ser um município identificado com o Partido dos Trabalhadores.

RESUMO – O encolhimento do PT abre espaço político para o PL, de direita e ligado ao agronegócio e beneficia os partidos de mote socialista a exemplo do MDB, PSB, PDT, PTB, PV e outros, nanicos. Lamentável, mas faz todo o sentido a pergunta: Cadê o PT que estava aqui?

Comentários (1)
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  • Inacio Roberto Luft

    Defender uma pauta como o PT faz em questões de somenos importância, leva a isso. O povo enxerga. Não é mais bobo. As redes sociais ”’deram voz a idiotas”’, e por isso, os ”’idiotas”’ não votam mais na promessa da picanha que não vem.