Calé Marien foi mestre grafiteiro e contestador

Eduardo Gomes

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Mestre grafiteiro, por mais de nove anos Calé Marien dedicou-se enquanto voluntário a ensinar a arte e a magia do grafite a crianças e adolescentes em Rondonópolis. Nesse período, mais de mil interessados matriculados na rede pública de educação e atendidos pelo Centro de Assistência Psicossocial aprenderam a botar com lápis, no papel, aquilo que suas mentes guardam no cantinho da criatividade.

 O grafite sempre esteve na alma desse artista do povo, que fez dessa arte um instrumento de inclusão social. Esse e outros trabalhos comunitários com crianças e adolescentes levaram o governo de Mato Grosso a homenageá-lo. Calé Marien é o nome de um centro de multiuso e de atos ecumênicos em Rondonópolis.

Calé Marien foi uma mistura de grafiteiro, poeta com mais de 300 obras publicadas, escritor, artista plástico, ambientalista, político e contestador. Foi a voz mais ouvida entre os comunitários de Rondonópolis; os dois movimentos organizados do setor – União Rondonopolitana de Associação de Moradores de Bairros (Uramb) e  a União da Associação de Moradores de Bairros da Região Salmen (Unisal) o elegeram Presidente de Honra.

REENCONTRO – Em 1985 Calé Marien aposentou-se em São Paulo, depois de uma longa jornada numa multinacional de cosméticos. Naquele ano optou por novamente viver em Rondonópolis, cidade que conhecia desde a infância, pois seu pai, o missionário francês naturalizado brasileiro e professor Alfredo Marien, lecionou na cidade quando de seus primórdios.

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PERFIL – Bem humorado e eternamente sonhador. Assim foi Calé Marien, mato-grossense nascido em Chapada dos Guimarães com o nome civil de Calebinho Mendes Marien. Em 2008 o entrevistei. Foi simples e familiar ao responder quem é Calé Marien, “sou viúvo e avô coruja”. Sobre grafite o resumiu da seguinte forma, “grafite é a arte do lápis no papel, que não usa borracha, não copia, sempre cria, porque a mente é fonte permanente de criação desde que estimulada para tanto”.

ADEUS – Rondonópolis, berço adotivo de Calé Marien, acompanhou sua trajetória, bebeu de seu saber e sentiu seu adeus. O ciclo da vida do mestre do grafite foi de 81 anos: começou em 19 de julho de 1933, na mística Chapada, e chegou ao fim em 6 de dezembro de 2014, com ele debilitado, enfrentando o Alzheimer e acometido de complicações renais e pulmonares.

Fisicamente Calé Marien não está mais entre nós, mas seus exemplos continuam firmes, como verdadeiros marcos da construção da cidadania rondonopolitana.

Infografia:

Marco Antônio Raimundo

Foto:

Evilázio Alves

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