Canarana é uma das marcas de Schwantes em Mato Grosso

Eduardo Gomes

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Nas comemorações dos 44 anos de Canarana, neste sábado, 15 de fevereiro de 2025,  o blog reverencia a memória de seu fundador, o pastor Norberto Schwantes

Pastor luterano, escritor, colonizador, político e defensor dos direitos humanos, Norberto Schwantes foi o cidadão mais importante para Mato Grosso nos anos 1970 e na década seguinte, quando o vazio demográfico local foi literalmente ocupado por brasileiros em busca de paz, terra para plantar e o direito ao sonho com o amanhã.

Schwantes escreveu com cidades sua passagem pela Terra de Rondon, Canarana, Água Boa e Querência, no Vale do Araguaia; e Terra Nova do Norte e Nova Guarita, no Nortão, nasceram de sua visão.

Íntegro, semeou horizontes no campo onde milhares de famílias passaram a cultivar em paz. Essa paz é extraterritorial para Mato Grosso, uma vez que posseiros em Tenente Portela, Nonoaí, Guarita, Planalto e Miraguaí, no Rio Grande do Sul, enfrentavam pressão indigenista para deixarem suas áreas, e a Terra de Rondon surgiu para elas como solução.

Não havia gleba para receber os sulistas no eixo da Rodovia Cuiabá-Santarém acima de Itaúba. Schwantes foi ao presidente Ernesto Geisel e recebeu sinal verde para colonizar uma área de 360 mil hectares de treinamento do Exército, apesar da resistência de setores militares.

Graças ao pedido de Schwantes a Geisel, Mato Grosso ganhou Terra Nova do Norte e Nova Guarita. A conquista daquela área começou em 5 de julho de 1978, quando chegaram a Terra Nova do Norte 85 famílias em 10 ônibus procedentes do parque de exposições de Esteio (RS) onde estavam acampadas por terem sido expulsas, juntamente com outras centenas, das terras dos índios caingangues.


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Em 30 de junho de 1978, os colonos que se dirigiam à Terra Nova do Norte passaram por Cuiabá e foram recepcionados pelo governador Cássio Leite de Barros. O líder da caravana, José Almir da Silva, ganhou uma Bandeira de Mato Grosso de Cássio Leite e a guarda em sua residência. Depois de cinco dias de viagem da capital até o destino, os primeiros moradores ali desembarcaram e iniciaram a ocupação da terra.

José Almir presidia o Grêmio Estudantil José de Alencar, em Ronda Alta (RS) e foi convidado por Schwantes, em 8 de março de 1978, para coordenar a transferência dos acampados em Esteio. José Almir aceitou o desafio e desde então transferiu-se para aquela localidade, onde foi exator, fundou e preside o Sindicato Rural.

Até mesmo para sintetizar o significado de Schwantes para Mato Grosso seria necessário um grande espaço. Em meus textos não me canso de reverenciar sua memória, que precisa ser perpetuada com seu nome batizando um município.

Schwantes foi um raio de luz em Mato Grosso. Norberto Schwantes nasceu em Carazinho, no Rio Grande do Sul, em 18 de marcou de 1935. Fechou os olhos para sempre em 17 de setembro de 1988, vencido por um câncer de pele. Seu legado vai além da linha do horizonte, lugar onde a visão não alcança. Quando morreu, Schwantes era suplente de deputado federal constituinte em exercício, pelo PMDB, substituindo o correligionário Percival Muniz, que exercia o cargo de secretário de Estado.

VACA – Depois de muitas aventuras nos céus, ora na Segunda Guerra Mundial ora transportando o playboy Baby Pignatari, em 21 maio de 1976 esse lendário bimotor DC-3 foi incorporado à Viação Aérea Canarana (VACA), que era um dos braços da Cooperativa de Colonização 31 de Março (Coopercol), com sede em Barra do Garças.

A Coopercol era liderada por Schwantes, que usava a VACA no transporte de colonos do Rio Grande do Sul para Mato Grosso. Beberrão, o DC-3 não apresentava resultado satisfatório para a Coopercol. A pavimentação de rodovias em alguns trechos em Mato Grosso facilitava a viagem dos pioneiros até os projetos que Schwantes levava adiante. Em 1981, por sugestão do gerente da cooperativa, Guido Afonso Rauber, o velho e bom bimotor saiu dos ares e ganhou pijama de aposentadoria.

Essa aeronave está exposta sobre um pedestal em Canarana, na praça Siegfried Roewer, chamada de praça do Avião. À sua frente um busco de Schwantes completa o registro histórico da fundação de Canarana e a incorporação daquela região ao processo produtivo mato-grossense.

Fotos:

1 – Arlindo Schwantes

2 – Prefeitura de Canarana

PS – Texto extraído do livro DNA do melhor lugar do mundo, de minha autoria, publicado em 2023 sem apoio das leis de incentivos culturais.

Situado no Vale do Araguaia, Canarana tem 28 mil habitantes, é sede de comarca e foi distrito de Barra do Garças.

O município tem expressiva presença indígena e ostenta dois títulos: Portal do Xingu e Capital Mundial do Gergelim.