Chico, Jayme, Selma e Fávaro, Mato Grosso é vexame no Senado

A posse do biônico Fávaro

Um senador por Roraima com dinheiro na cueca e nas nádegas tentando escondê-lo da Polícia Federal pode parecer um fato alheio a Mato Grosso, mas não é, pois seu desdobramento passa por Jayme Campos (DEM). Bem antes desse rocambolesco episódio revelado pela Operação Desvid-19, que investiga desvio de dinheiro público para enfrentamento do novo coronavírus naquele Estado, a senadora Selma Arruda (Podemos) foi cassada por caixa 2 e abuso de poder econômico, e o candidato derrotado ao Senado, Carlos Fávaro (PSD) foi contemplado com uma decisão monocrática do então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Tofoli que o nomeou senador biônico.

 

Até nas nádegas o senador Chico escondeu dinheiro

O senador democrata Chico Rodrigues (RR) se deparou com a Polícia Federal na porta de sua casa em 14 deste outubro, numa operação em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU) autorizada pelo ministro Luis Roberto Barroso, para apurar desvio de recursos oriundos de emendas parlamentares federais para enfrentamento da pandemia em Roraima. Chico escondeu R$ 30 mil em notas de duzentos reais, na cueca e nas nádegas – algumas estavam sujas de fezes – mas não conseguiu driblar os policiais.

O político somente não foi preso em flagrante por sua imunidade parlamentar.

Selma foi cassada

Chico era vice-líder do governo Bolsonaro e um dia após o vexame deixou a função.  Dois dias depois da apreensão da dinheirama, o ministro Luiz Fux (STF) pediu seu afastamento do Senado, mas o ministro Luis Roberto Barroso determinou que afastamento ou não fosse decidido pelo pleno do STF no dia 21. Chico sentiu que a situação era desconfortável, e antes que o STF entrasse em cena pediu licença particular por 121 dias. Com seu adeus o STF tirou da pauta seu caso. Chico jura que o dinheiro tem origem lícita e que pagaria funcionários com ele.

Licença de senador não autoriza a imediata posse do suplente. Cabe ao presidente, no caso, Davi Alcolumbre (DEM/RR) marcar a data da posse do substituto. Alcolumbre sabe que o filho de Chico e seu correligionário Pedro Arthur Rodrigues ficará com a cadeira do pai, e que está atolado até a sobrancelha no escândalo do desvio dos recursos. Para fugir das críticas da oposição e da Imprensa, Alcolumbre botou essa pauta no gelo e nem mesmo seu anjo da guarda sabe quanto tal procedimento ocorrerá.

Jayme enquanto presidente do Conselho recebeu um pedido dos partidos Rede e Cidadania para apuração dos fatos que são considerados quebra de decoro parlamentar, mas Jayme não desempenhou com altivez seu papel. Sugeriu ao companheiro e colega que pedisse licença. Por analogia seria o mesmo que o policial dizer ao bandido: eu vou pela direita e você pela esquerda. Triste postura do mato-grossense Jayme. 

Jayme ensinou o caminho das pedras ao colega de Roraima

O abafa foi cristalizado com a conivência de Jayme. Chico é o empresário pernambucano Francisco de Assis Rodrigues, 69 anos, que se mudou para Roraima e há longo tempo milita na política exercendo importantes cargos eletivos. Seu primeiro suplente e filho é Pedro Arthur Rodrigues, 41 anos, baiano.

O triste papel de Jayme no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar não é o único tropeço de representante mato-grossense no Senado, na legislatura em curso. Eleita em 2018 a juíza Selma Arruda (PSL e depois Podemos) foi cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral por caixa 2 e abuso de poder econômico. Com ela também foram degolados os suplentes Beto Possamai e Clerie Fabiana (ambos PSL).

Degolada a senadora, o advogado de Fávaro e ex-ministro José Eduardo Cardozo conseguiu uma proeza: o presidente do STF, Dias Toffoli, em decisão monocrática no dia 31 de janeiro deste ano, em pleno recesso forense, determinou que o Senado desse posse a Fávaro e que o mantivesse no cargo até a eleição de um senador ou senadora na eleição suplementar de novembro. Em 28 de abril,  Davi Alcolumbre entregou a cadeira a ele. Vale observar que na fundamentação de José Eduardo Cardozo havia um chororô do governador democrata Mauro Mendes pelo mandato manga curta pra Fávaro, pois Mato Grosso estaria sendo prejudicado por contar com apenas dois senadores.

AVALIEM – Para poupar Chico e seu filho Pedro Arthur o Senado não vê desvantagem na representação de Roraima, que fica com dois senadores. No caso em Mato Grosso, a proeza de José Eduardo Cardozo convenceu Dias Toffoli que a falta de um senador seria nociva aos interesses mato-grossenses – daí surgiu a bionicidade.

A realidade é essa.

Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes

FOTOS: Agência Senado

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