Cuidado com a fala de Raoni sobre asfalto

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

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A segunda aprovação de Raoni…

Raoni, o lendário cacique que lidera o povo Kaiapó, à margem do rio Xingu, disse ao governador Mauro Mendes (União) que quer a pavimentação da MT-322 e o governante anunciou que vai a Brasília tratar do assunto. A fala de Raoni Metuktire ganhou o máximo de espaço na Imprensa que cobre Mauro Mendes. Não é a primeira vez que o líder indígena bate nesta tecla. É preciso que se tenha em conta que a decisão ou não sobre a pavimentação é da Funai. Nesta reportagem, além desta questão, saibam mais sobre a rodovia citada.

… e a primeira aprovação, em 2014

Em 23 de janeiro de 2014 Raoni e os caciques Bedjai e Megaron Txucarramãe receberam o então governador Silval Barbosa em São José do Xingu. No encontro, Raoni defendeu a pavimentação dos 270 km entre aquela cidade e Matupá (à margem da BR-163). À época, o governo estadual pavimentava um trecho da MT-322 no sentido Matupá-São José do Xingu, e havia resistência da Funai e dos aldeados no percursos contra a obra no entorno do Parque Indígena do Xingu (PIX) e no trecho da rodovia que separa o PIX da Terra Indígena Capoto-Jarina.

Num clima ameno, Raoni disse a Silval na presença de servidores estaduais, autoridades locais e poucos repórteres, com todas as letras, que seu povo precisava da pavimentação. Perguntei-lhe se a aprovação incluia a construção de uma ponte com mais de 1.000 metros de extensão sobre o Xingu. Ele respondeu que sim, e ainda argumentou que os pilares da obra causariam menos impactos no rio do que o vaivém das balsas que fazem a travessia.

No final de janeiro, alguns dias após ouvir Raoni, publiquei a edição mensal da revista MTAqui, com o título: O fiador Raoni.

Dias depois do encontro com Silval em São José do Xingu, Raoni recuou, possivelmente diante das pressões feitas por ongs internacionais ao Instituto Raoni, que movimenta cifras de cair o queixo. A Funai nunca se posicionou favorável ao asfalto, nem mesmo no curto tempo em que prevaleceu o sim do líder xinguano.

A fala de Raoni é retórica política. Quem decide pela aprovação ou não por obra em território indígena é a Funai, a quem compete expedir o Componente Indígena, documento que é parte do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima). Somente a Funai pode se manifestar nos processos de licenciamento ambiental.

Mesmo em caso de aprovação pela Funai, o Ministério Público Federal poderá discordar.

Travessia do Xingu na MT-322

MT-322 – Originalmente sua nomenclatura rodoviária era BR-080, rodovia que entra em Mato Grosso pelo município de Cocalinho, e que no trecho xinguano liga São José do Xingu a Matupá, formando um corredor Leste-Oeste entre as rodovias federais 158, em Confresa, e Matupá. Seu trajeto, uma vez consolidado será importante ganho logístico para Mato Grosso, Tocantins e Maranhão na ligação com o Oeste paraense pelas cidades de Novo Progresso, Trairão, Jacareanga, Itaituba, Placas, Santarém e outras.

O engenheiro civil, empresário e político João Carlos de Souza Meirelles deixou suas impressões digitais na locação da MT-322 (à época BR-080) no chamado trecho xinguano, de São José do Xingu a Matupá. Meirelles conhece os limites do PIX como a palma da mão, pois trabalhou em sua demarcação. Engenheiro responsável pela obra, Meirelles locou a rodovia na área que divide do PIX de Capoto-Jarina, para que no futuro nenhum daqueles territórios alegasse que a BR-080 ocupava sua área. Portanto, a (agora) MT-322 é vizinha das terras indígenas, mas não as atravessa.

 

Uma mancada rodoviária

 

Santa Cruz do Xingu beneficiada com a Estrada Perdida

Mais dia menos dia a colonização de Santa Cruz do Xingu aconteceria, mas ela foi antecipada graças a um erro de engenharia na locação da BR-080, no começo da década de 1970.


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Moradores antigos na região contam que na fase de implantação da BR-080 ligando Mato Grosso ao Pará, cruzando o rio Xingu, via Matupá – onde a mesma se juntaria à BR-163 – um cálculo errado de engenharia no agora entroncamento conhecido como Bituca, ao invés de direcionar o picadão à esquerda o manteve reto e o levou adiante até a área onde se situa a cidade de Santa Cruz do Xingu. Por conta desse erro a sabedoria popular apelidou aquela mancada de Estrada Perdida.

A abertura do picadão da Estrada Perdida facilitou o acesso ao imóvel da Corebrasa e aos demais na região. Após a constatação do erro na implantação daquele trecho da BR-080 sua obra foi retomada no rumo definido por seu projeto, passando por São José do Xingu e prosseguindo até Matupá à margem da BR-163. Essa rodovia foi estadualizada e rebatizada MT-322.

Fotos:

1 – Secom/MT

2 – Mayke Toscano/Secom-MT

3 – Capa Edson Xavier

4 – Eduardo Gomes

5 – Antônio Mendes – SCXingu

 

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