Dá uma rezinha…

A velha guarda do Dom Bosco certamente guarda boas lembranças de Bil, um implacável “matador” que passou pelo azulão em 1991, quando o time, sob o comando de Hélio Machado, ganhou o único título do Campeonato Mato-grossense de Futebol. O gordinho Bil, no entanto, não participou da reta final do certame, porque ele era chegadinho numas biritas e a diretoria do clube achou por bem dispensá-lo antes que o centroavante arrastas¬se companheiros dombosquinos para o vício…

Jogador cujo passe pertencia ao Goiás, antes de vir para o Dom Bosco Bil jogou um bom tempo no América, do México, e adorava esnobar sua posição financeira. De vez em quando, Bil ia comprar um simples pé de alface e fazia questão de pagar com dólar só para ver a cara de espanto do quitandeiro…

Extrovertido, Bil era do tipo que se saía muito bem das situações mais difíceis. Dentro ou fora de campo. Com ele não tinha moleza também: jogando ou treinando, o jogador era de uma dedicação fora do comum
Certa vez, Bil perdeu a hora de levantar e para não chegar atrasado a um treino matinal do Dom Bosco no Dutrinha teve que pegar um táxi. Quando chegou ao estádio, Bil viu no taxímetro do carro que o valor da corrida era supe¬rior ao dinheiro que ele tinha no bolso…

Sem rodeios, Bil disse ao taxista com a maior cara de pau: “O senhor pode dar uma rezinha até a rua Major Gama porque meu dinheiro dá para pagar a corrida só até lá!…”

Nelson Severino, o autor

Quando Bil estava no Goiás, seu time foi jogar em Itumbiara. No alviverde goiano os destaques eram Bil e Radar, ambos atacantes. Radar chegou a fazer grande sucesso jogando pelo Flamengo, do Rio de Janeiro, além de ter atuado também no exterior. Terminado o jogo em Itumbiara, Bil e Radar pegaram seus respectivos carrões e voltaram para Goiânia. Com um carro com motor mais potente, Radar tomou a dianteira de Bil e foi embora.

A certa altura, Bil foi parado pela Polícia Rodoviária Federal numa rodovia goiana. Bil já desceu do carro impondo banca: “Eu sou o Bil, do Goiás…”

– Não interessa quem o senhor é. O senhor estava correndo a 120 quilômetros por hora e está multado… – reagiu o policial rodoviário, já preenchen¬do o formulário da multa.

– E quem foi que me entregou? – inquiriu Bil.

– Foi o radar, moço… – disse o policial rodoviário, evidentemente se referindo àquele aparelhinho utilizado nas rodovias para flagrar motoristas que gostam de afundar o pé no acelerador sem saber que estão sendo vigiados à distância pela jeringoncinha.

– Filho da puta, fazer isso comigo depois das duas bolas açucaradas que lhe passei pra ele marcar dois gols…

– foi a reação de Bil.

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.