Um forte sentimento nacional sacudiu o Brasil contra a corrupção então institucionalizada em 2018. Direitistas, apolíticos e até mesmo figuras socialistas ou ditas de esquerda se uniram em defesa do nome do deputado federal fluminense Jair Bolsonaro e o elegeram presidente da República. Transcorridos dois anos não se pode negar que o erário público saiu das garras das quadrilhas suprapartidárias que o solapavam. Também é preciso que se leve em conta que o mesmo Bolsonaro que acendeu o pavio da esperança pela moralidade seja uma figura ambiciosa, personalista, despreparada para a relação internacional e, pior, insensível diante da morte de milhares de brasileiros vítimas da pandemia de covid-19.
O momento de contenção da roubalheira passou. Tudo passa na vida, inclusive ditadores e populistas. Não estão mais entre nós Alfredo Stroesnner, Pinochet, Fidel e Raúl Castro, Idi Amin, Nicolae Ceauşescu , Stalin, Mao, Hugo Chávez, Lula, Temer, Trump. O ciclo natural da vida se encarrega tanto dos bons quanto dos maus. Pela guarda dos cofres públicos não se justifica mais a presença de Bolsonaro em Brasília, embora o mesmo tenha legitimidade para permanecer no cargo, pois essa lhe foi confiada nas urnas.
Não precisamos de Bolsonaro guardião do erário. Nesse momento de pandemia o Brasil esperava tê-lo enquanto chefe de Estado, estadista, diplomata e, principalmente, na condição de figura humana. O presidente não preenche nenhum desses requisitos.
Bolsonaro age com o fígado. A Presidência lhe confere todas as informações necessárias ao exercício do cargo, mas ele opta pelo intempestivo. Com a sensibilidade de um hipopótamo numa loja de brinquedes, o presidente descarrega verborreia sobre a China, nosso maior parceiro na balança comercial nos dois sentidos; ataca o regime mandarim e ofende Pequim. Inconsequente anuncia uma imaginária importação da Índia de vacinas contra covid-19. Belicoso, ingere internamente na política venezuelana. Em meio a tudo isso milhares de brasileiros morrem e milhões são infectados pelo vírus da pandemia.
Os ataques contra China e Venezuela partem não somente da garganta do presidente, mas de seu núcleo familiar formado por seus filhos, dentre os quais o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que preside a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. A esses ensandecidos falatórios se junta o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
A ofendida China tem os insumos que precisamos para a produção de vacina contra covid-19.
Índia e China são membros dos BRICS, ao qual pertencemos. A Venezuela é nossa vizinha e irmã, tanto quanto a Colômbia, que chorou conosco a queda do avião da Chapecoense de triste memória para todos nós.
A Venezuela apedrejada é a mesma que ontem, 19 de janeiro, doou ao Brasil um carregamento de oxigênio de 107 mil metros cúbicos transportados ao longo de 1.500 quilômetros por cinco caminhões-tanque, de Puerto Ordaz a Manaus.
O circo permanente de Bolsonaro, desafiando a ciência e tentando desqualificar a pandemia é delirantemente aplaudido num cercadinho ao lado do Palácio, por figuras que aparentemente não trabalham. Esse mesmo espetáculo é repetido em nervosas postagens defendendo o Mito, o Capitão e o “Grande” presidente. Pobre Brasil!
O Brasil morre enquanto Bolsonaro sorri o sorriso da hiena. Nos falta líder. Nos falta um ser humano na Presidência. Que Bolsonaro cumpra o restante de seu mandato. Que o Brasil reflita sobre sobre ele, sem que isso signifique recuar ao tempo da roubalheira ou avançar para a esquerda. Que entidades, instituições e o povo brasileiro ocupem cada vez mais as funções que deveriam ser exercidas pelo presidente.
Que Deus nos aponte negociadores. (Quem sabe o vice-presidente general Mourão?) para restabelecermos as relações com os chineses, indianos e venezuelanos que tantos coices tomaram.
Que a China supere as agressões diplomáticas sofridas por parte do governo brasileiro, que não fala por seu povo.
Que a Índia não nos negue as vacinas que precisamos. Que os indianos entendam que apesar de Bolsonaro o povo brasileiro tem que receber imunização contra covid-19.
Obrigado Venezuela. Obrigado presidente Maduro.
Que não juntemos nossas vozes aos coices de Bolsonaro e dos seus.
Que Mato Grosso saia do silêncio covarde diante da falta de UTIs Pediátrias na rede pública para vítimas de covid-19 e que grite pela urgente instalação de mais leitos de UTIs para nossas crianças. Não podemos repetir aqui, em outras circunstâncias, o atentado contra a vida, que é marca registrada do Mito, do Capitão.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTOS:
1 – Agência Brasil
2 – Governo do Amazonas
3 – Meramente ilustrativa