De fruto

Com alegria e dor no esporte, 1994 deu ao Brasil de Romário o tetra no futebol e levou Ayrton Senna. O calendário também marcava data para o eleitor bater à porta da democracia, o que resultou na eleição de Dante de Oliveira (PDT), socialista, ao governo de Mato Grosso, substituindo Jayme Campos (PFL), conservador. Essa é a síntese histórica daqueles 12 meses, mas para a economia mato-grossense foi um ano divisor de águas: o antes com a febre aftosa campeando solta e o depois com aquela doença varrida das invernadas.

Nas águas anteriores focos de aftosa eram notificados no atacado. À época, a tradição pecuária recomendava querosene na nuca do boi para afastar o risco da doença. Da porteira para dentro o pecuarista era acuado. Do outro lado, o mercado internacional simplesmente nos desconhecia e nacionalmente éramos vistos com o canto dos olhos.

Vitrine da cadeia pecuária, Rondonópolis é santuário do boi, mesmo com rebanho intermediário. No ano de glória do Romário e do adeus de Senna a aftosa em invernadas rondonopolitanas foi decisiva para que Mato Grosso deflagrasse uma verdadeira guerra sanitária animal para reverter à situação antes que fosse tarde demais.

Naquele ano, enquanto correspondente do Diário de Cuiabá em Rondonópolis, denunciei focos de aftosa ao lado a Exposul – nossa maior feira pecuária estadual. A reação da diretoria do Sindicato Rural foi a mais enérgica possível. Forças políticas entraram em cena tentando desqualificar a informação que se repetia em várias matérias. Numa reunião na cidade, a delegada do Ministério da Agricultura, Alzira Catunda, vetou o aspecto nacional da Exposul e proibiu a tradicional cavalgada. O secretário de Agricultura do Estado, Aréssio Paquer, autorizou leilões de elite, excluindo os animais a campo; e exigiu reforço de vacinação. Aréssio cedeu parcialmente, porque seria candidato a deputado federal.

Com o alerta sobre a aftosa rondando a maior das exposições, a Federação da Agricultura (Famato – hoje também da Pecuária) entrou em cena tendo à frente seu presidente Zeca D’Ávila. Começava assim, a divisão das águas.
Mato Grosso ganhou o Fundo Emergencial da Febre Aftosa (Fefa), mais tarde extinto. A doença foi vencida graças ao trabalho de Zeca em companhia de alguns líderes do segmento e, principalmente, com a participação dos pecuaristas.

A divisão das águas aconteceu em 1994, mas não foi reinvenção da roda, simplesmente antecipou o enfrentamento do problema. Não tenho mérito quanto a isso, mas mesmo assim, durante muitos anos foi hostilizado pelo reflexo das matérias no caixa da Exposul. Agora, 24 anos depois, o Brasil recebe certificação de país livre da doença com vacinação. Aqui, fizemos nossa parte. Valeu a pena a luta. Colha bem esse fruto, ministro Blairo Maggi.

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista

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