Homem público somente faz jus a esse título quando tem grandeza de espírito. Vida pública não é endereço para os fracos, mas muitos insistem em permanecer nela apesar de suas fragilidades. Não podemos pensar que um dia teremos entre nós alguma autoridade capaz de se entregar num haraquiri japonês quando se sentir culpada por graves erros. Isso, não. Mas, não devemos abrir mão da crença na melhora do nível de nossas figuras públicas.
Somos povo – povo mato-grossense – conduzido pela fragilidade de espírito e de postura de boa parte das autoridades que carregam o dever constitucional de nos governares, de legislares por nós e de julgarem as prestações de contas dos órgãos públicos. E o que vemos? Nada; não é possível enxergar uma réstia de luz pela fresta na curva do tempo.
A Assembleia Legislativa chafurda em denúncias que vão muito além daquelas constantes na delação do ex-governador Silval Barbosa ao Ministério Público Federal. Nada se ouve dos deputados na sintonia da decência sobre essa anomalia. Quando abrem a boca o fazem para jurar inocência, para tentarem desqualificar áudios e vídeos que para o conceito popular é o chamado batom na cueca.
No Tribunal de Contas do Estado (TCE) cinco conselheiros estão afastados por suspeita de improbidade, sendo que um deles, Sérgio Ricardo, acumula dois afastamentos judiciais. Ao invés de dar a mão à palmatória os conselheiros atingidos pela decisão do ministro do STF, Luiz Fux, apresentam argumentos e mais argumentos. Tentam nos convencer que Silval mente, mas não conseguem justificar a aprovação de todas as contas de Silval – que segundo ele teria custado R$ 53 milhões ao propinoduto mato-grossense.
O governo de Mato Grosso está afundado no escândalo do criminoso grampo telefônico, que segundo o desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, teria atingido a privacidade de 70 mil cidadãos. Repito: 70 MIL CIDADÃOS.
Governo é uma instituição abrangente. No caso do grampo, ele teria participação direta por meio da Casa Militar, da Casa Civil e de policiais militares incluindo o ex-comandante da corporação, coronel Zaqueu Barbosa, ora preso.
A instituição governo lava as mãos sobre o episódio, mas é preciso saber se a água utilizada para tanto é limpa ou não, pois por entre os dedos pode escorrer sujeira.
Nesta quarta-feira ensolarada e muito quente em Cuiabá o secretário de Segurança Pública delegado Rogers Jarbas foi afastado do cargo e de sua função na Polícia Civil, por determinação do desembargador Perri, que lhe impôs medidas restritivas, dentre as quais o uso de tornozeleira eletrônica.
Logo após o cumprimento da decisão do afastamento de Jarbas, o governador Pedro Taques concedeu coletiva, partiu em defesa do secretário e foi além. Taques chamou a decisão do magistrado de “esdrúxula e absurda” e extravasou o que pensa, “pior do que criminoso é o magistrado que se vale do seu poder e ofende o principio da imparcialidade”. Taques também desqualificou o crime do grampo tratando-o a distância.
Vivemos o vácuo de homens públicos ou quase isso, porque ainda restam alguns dignos.
O posicionamento da Assembleia, do TCE e de Pedro Taques é o da proteção grupal, do corporativismo, mas nunca aquilo que a honorabilidade exige, que a população espera, que a dignidade impõe, que a sensatez recomenda.
Que fiquem com suas desculpas e justificativas.
No amanhã, quando o sol da verdade lançar seus raios sobre Mato Grosso veremos que a causa dos problemas sociais, o agravamento da violência e a estagnação administrativa de agora nascem da estrutura acéfala de poder que nos guia ao bailado da ciranda da inconsequência. Que aconteça um milagre e os raios solares que substituirão as trevas da nossa institucionalidade tragam também a luz da renovação política.
Eduardo Gomes de Andrade
Editor
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