Dom Francisco de Aquino Corrêa

Transcorria mansamente o ano de 1885, e nova fase auspiciosa surge para Mato Grosso, com a chegada ao mundo de outro menino, na chácara Bela Vista à beira do Cuiabá em 2 de abril. Ele não mudou o mundo, mas contribuiu para catapultar seu Estado Natal, um exemplo nacional. !

Como sói acontecer em casos desta natureza, era filho caçula de um simplório casalː Antônio Tomás de Aquino Corrêa e Maria d’Aleluia Guadie Ley, sentiu logo cedo a perda do amor materno aos 7 anos. Possuía 2 irmãs, Eulália e Regina que também escolheram a vida religiosa, enquanto o seu irmão Manuel ingressou na carreira militar, galgando até ao generalato.

Mudando-se a família para a rua Nova, hoje avenida Dom Aquino, ficou na vizinhança do Colégio São Gonçalo, que veio a freqentar, desde cedo manifestando seus incomuns valores sendo um aluno expoente, muito admirado pelos mestres e colegas. Findo os estudos preliminares, aos 17 anos ele chega ao Noviciado Salesiano, localizado no Patronato Santo Antônio do Coxipó. Mais adiante, aos 19 anos segue o caminho a “Cidade Eterna“, onde durante 5 anos dedica-se ao estudo na consagrada Universidade Gregoriana de Roma. Não sendo aí diferente, doutorando-se em Filosofia e Teologia, recebe a nota máxima magna cum laude e conquista admiração da banca.

Recebe a ordenação aos 24 anos – em 17 de janeiro de 1909, retornando para sua terra é recebido com glórias e pompas, a cidade muito orgulhosa do valoroso filho que finalmente volta. Exerce de início as funções de professor do Liceu São Gonçalo, decorridos apenas 2 anos diretor! Nessa notável escalada em 12 de maio de 1912, lança a pedra fundamental do Santuário Nossa Sra. Auxiliadora. Depois através do Papa Pio X, aos 29 anos em 2 de abril 1914 – seu aniversário, obteve elevação ao episcopado, tornando-se o 1º Bispo Salesiano, ainda o mais novo do mundo!!! D. Aquino, ecoava até em Roma, tanto que o Papa Bento XV, confere o título de Conde Palatino.

Estando Mato Grosso atravessando séria e profunda crise política, acalma os ânimos no célebre discurso onde pregava a Paz e o Perdão, surgindo como o apaziguador por todos acatados. Neste momento ascende a estrela do político, e com apenas 32 anos, em 11 de outubro de 1917, veio a ser proclamado Presidente do Estado, consolidando-se por ser qualificado um conciliador. Durante sua gestão no governo, foi criado o Brasão de Armas de MT, inaugurou modernidades na Capital como iluminação elétrica, assim como introduziu os primeiros automóveis nestas plagas, conduziu litígios de fronteira com outros estados, e promoveu as festas do bicentenário de Cuiabá.

Nesta oportunidade foi pela primeira vez apresentado um poema seu … “Canção Mato-grossense“, musicado pelo maestro e Ten. PM Emílio Heine, que mais tarde em 1983 será o belo Hino de MT.

Dom Aquino foi alçado ao Arcebispado de Cuiabá aos 16 de abril de 1922, tinha apenas 37 anos.

Fluindo paralelamente às atividades clericais e políticas, atuou intensamente em instituições de caráter culturais, sendo um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de MT em 1919, depois em 1921 do Centro Matogrossense de Letras – futura Academia de Letras. Foi recebido como sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, em 1926. Logo após em 9 de dezembro de 1926, elege-se membro da Academia Brasileira de Letras – ABL, concorrendo até com Pontes de Miranda na cadeira nº 34 antes de Lauro Müller, cuja posse foi deveras concorrida, presença até do Presidente da República Washington Luis e vários Ministros. Foi o 1º mato-grossense na ABL, esta solenidade ocorreu em dezembro 30 de 1927, tinha 42 anos.

Possuía aguçada capacidade de articulação política, sua qualidade de orador habilidoso e as posições conservadoras no interior da Igreja Católica abriram a partir de 1930 as portas de aproximação com o governo de Getúlio Vargas.

O bom relacionamento do campo religioso e o regime varguista tornou a pessoa Arcebispo Dom Aquino Corrêa muito conhecida nacionalmente. Até mesmo sendo escolhido, como por exemplo em 1940, para celebrar a missa campal alusiva aos 10 anos do governo de Dornelles, decorrendo o estreitando das relações entre o Estado, Igreja. Esta empatia parece que produziu efeitos acima da casualidade, como a visita do primeiro Presidente da República à Cuiabá em 7 de agosto de 1941, no exato dia em que Vargas foi eleito para a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras, sendo Dom Aquino um dos seus anfitriões. Nesta oportunidade é recepcionado pelo interventor Júlio Strubring Müller, após reestruturar a via central, recebe o nome atual… Presidente Getúlio Vargas. Foi entregue ainda um pacote de obrasː Palácio da Justiça, quartel do 16º Batalhão de Caçadores, energia, projeto da 1ª ponte do Cuiabá!

Dom Aquino era poeta plural, em 4 idiomas, intelectual, inteligente e muito inspirado. Deixou inúmeras peças literárias escritasː Odes, Terra Natal, A Flor d’Aleluia, Discursos, O Brasil Novo, Castro Alves e os Moços, Oração aos Soldados, Nova et Vetera, Cartas Pastorais, outros … O poema “Véu de Noiva”, inspirado na beleza de Chapada originou o nome da famosa cachoeira!
Ainda em 1952, obtém uma dupla celebração as Bodas de Prata da Academia Brasileira, Bodas de Ouro da Vida Religiosa Salesiana, sendo lema de seu episcopado Sanctifica in Veritate.

Faleceu em São Paulo no dia 22 de março de 1956, uma quinta-feira Santa, estando fraco dos rins. Por fim, sepultado com honras de chefe de Estado e Igreja, na Catedral Metropolitana de Cuiabá.

 

Ubiratã Nascentes Alves, membro da AML – cadeira nº 1
ubirata100@gmail.com