Entre nós um sobrevivente da bomba atômica

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

 

Japão, 6 e 9 de agosto de 1945. Ataques atômicos destroem Hiroshima e Nagasaki, horrorizaram o mundo. Transcorridos 78 anos, ambiento em Mato Grosso um fato sobre um personagem vítima daquela amarga página da humanidade.

Japão, 9 de agosto de 1945. Um cogumelo subiu ao céu. Deixou 39 mil mortos. Nagasaki virou escombros. Masanobu Kazurayama não entendia o que acontecia. Era criança. Continuava a brincar na estrada perto da cidade que a ignomínia da guerra acabara de destruir até que alguém o levou para uma vala no quintal de sua casa onde a vizinhança se escondia dos bombardeios.

O menino Kazurayama escapou ileso, mas passou a infância testemunhando a dor física dos atingidos pelo ataque, e o sofrimento dos que perderam parentes, amigos e conhecidos para o poder avassalador da terrível arma utilizada pelos Estados Unidos contra a população japonesa.

Kazurayama virou hibakusha, como são conhecidos no Japão os sobreviventes das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial.

O hibakusha Kazurayama cresceu sonhando com o paraíso ensolarado chamado Brasil. Em 1961, zarpou num navio realizando seu sonho. Chegou ao Paraná. Três anos depois estava em Mato Grosso, onde venceu na área empresarial. Construiu uma casa na barranca do rio Cuiabá, perto da capital. Vive em paz com a família. Divide o tempo entre a piscicultura e o hobby da pintura.

Nas discretas reuniões da colônia nipo-brasileira em Mato Grosso, Kazurayama prega a cultura da paz com a credibilidade de quem sobreviveu ao horror atômico. Seus ensinamentos repercutem entre os conterrâneos e seus descendentes nascidos brasileiros e que há décadas contribuem para o desenvolvimento mato-grossense.

O nosso hibakusha Kazurayama é um rosto a mais na numerosa colônia japonesa, que tem papel importante em Mato Grosso, desde 1953, quando o japonês Yassutaro Matsubara iniciou a exploração econômica da Gleba Rio Ferro, então município de Chapada dos Guimarães, que foi a porta de entrada dos filhos da Terra do Sol Nascente em Mato Grosso. Seu patrício Noda Guenko, que residia em Rondonópolis, fundou Pedra Preta, no Vale do Jurigue, no polo de Rondonópolis; segundo o japonês Jinya Konno, que foi o encarregado de Guenko no projeto, a colonização urbana começou em 28 de agosto de 1956 numa área de 3.872 hectares inicialmente chamada de Vale do Jurigue, posteriormente denominada Alto Jurigue e finalmente Pedra Preta. A cidade fica à margem da BR-364 e o município é um dos principais polos sementeiros mato-grossenses. Konno e sua mulher, Tokiko Konno, nissei nascida em Marília (SP) foram os pioneiros no lugar.

Araputanga, na faixa de fronteira, no polo de Cáceres nasceu por iniciativa do nissei paulista Shigeyoshi Sato, o João Sato, na Gleba Paixão, em 23 de maio de 1963. Araputanga é um dos principais polos da pecuária leiteira do Centro-Oeste e sede da cooperativa Coopnoroeste que responde por parte do abastecimento de leite e lácteos em Mato Grosso.

Filhos da Terra do Sol Nascente e seus descendentes ocupam lugar na comunidade científica e intelectual, participam ativamente da vida acadêmica, política, esportiva e social, transmitem tradições e cultura e miscigenam a população que a cada dia é mais cosmopolita nesta terra abençoada por Deus e cercada de América do Sul por todos os lados.

Foto: Arquivo