Criticando oposição o governador Pedro Taques diz que cumpriu todos os compromissos com servidores, mas reconhece que falhou no diálogo
EDUARDO GOMES
Da Reportagem
Reeleição para governo é pleito plebiscitário. O eleitor não vota pela promessa nem por ouvir dizer sobre o postulante. Voto é sua resposta ao mandato que se tenta dobrar. Pedro Taques (PSDB) está em cena tentando segurar por mais quatro anos a faixa governamental que recebeu de Silval Barbosa. Na urna, o “sim” demonstrará o percentual que o aprova. O “não” será o duro troco daqueles que não o aceitam. Em outubro, a voz mato-grossense será a colheita – sem trocadilho nesta terra de grãos e plumas – do que foi plantado política, social, econômica e administrativamente pelo rosariense, várzea-grandense e cuiabano José Pedro Gonçalves Taques, nascido em 15 de março de 1968. Não fui o criador da tríplice naturalidade de Taques. Essa versão, ouvi dele, ao se dirigir ao vereador por Várzea Grande Claido Celestino Batista, o Ferrinho, numa solenidade de inauguração de uma obra da prefeita Lucimar Campos. O governador fugiu do tema que abordava e com naturalidade revelou a Ferrinho – e aos demais presentes – que seus pais Eda e Alinor (seo Nego) moravam na vila de Currupira, município de Rosário Oeste. Ela, com as primeiras contrações para o parto, foi trazida para Cuiabá percorrendo a estrada de chão entre as duas localidades. Quando o veículo entrou em Várzea Grande, a bolsa estourou. Seu nascimento foi concluído no Hospital Santa Helena, nesta capital. Daí a pluralidade do berço, que oficialmente, na papelada, confere a naturalidade cuiabana a ele, ex-procurador da República, ex-senador que se elegeu governador no primeiro turno em 2014 e que tenta se manter no cargo.
DIÁRIO DE CUIABÁ – O que um retrovisor lhe mostraria de seu governo?
PEDRO TAQUES – Nós enxergaríamos os avanços que Mato Grosso teve nas áreas de Educação, Segurança, Infraestrutura, Agricultura Familiar. Nós diminuímos a roubalheira no Estado de Mato Grosso. Não estamos com os políticos que fizeram com que Mato Grosso chegasse nessa dificuldade que chegamos até agora.
DIÁRIO – Alguns secretários criaram embaraços…
TAQUES – Todos os governadores tiveram dor de cabeça com alguns secretários. Eu posso ser responsável pelos atos que eu fiz, mas nós caminhamos bastante nas áreas a que fiz referência (acima) e vamos continuar com o governo, com certeza, com um secretariado misto de técnico e político. Político porque precisamos chegar mais perto do cidadão. Uma das dificuldades que nós tivemos foi a interlocução para falar o que fizemos para Mato Grosso. Veja que a famosa rejeição nossa tem diminuído muito porque agora o cidadão está tomando conhecimento do que fizemos.
DIÁRIO – Fica a mágoa pelos aliados que o deixaram?
TAQUES – Uma pessoa que vem de onde vim, filho de uma professora e de um cidadão que tem três hectares de terra; que estudou em escola pública e sem ser de uma família tradicional política, ser senador e ser governador de Mato Grosso não tem direito de ter mágoa de quem quer que seja. É bom que eles estejam do outro lado porque eu não aceitei determinados pedidos.
DIÁRIO – Quais pedidos?…
TAQUES – Acabar com o Indea e a Unemat, cortar os ganhos salariais dos professores. Eu não aceitei e eles foram para o outro lado porque entendem um Estado diferente do meu.
DIÁRIO – Para mantê-los seria preciso firmar algum tipo de acordo?
TAQUES – Mas, com determinado tipo de político eu não faço acordo e, além disso, cortei o ‘leitinho’ de muitos políticos.
DIÁRIO – Em caso de reeleição, como será sua relação com o servidor?
TAQUES – Vai ser uma relação de compromisso. Aliás, se você buscar os compromissos que assumi com o servidor público, eu os saldei todos. Mantivemos os ganhos salariais dos 40 mil profissionais da Educação. Não vou cortar salário de professor. Mantive os ganhos salariais dos 15 mil servidores da Segurança Pública. Não vou mudar jornada de trabalho igual o candidato Mauro Mendes (DEM) já está dizendo e falando em cortar os aumentos salariais ofertados por administrações passadas. Eu não farei isso e paguei toda a RGA.
DIÁRIO – RGA foi uma espécie de calcanhar de Aquiles…
TAQUES – Houve um erro no diálogo naquele momento? Sim! Mas eu saldei todos os compromissos que assumi.
DIÁRIO – Será possível articular com a Assembleia o próximo orçamento?
TAQUES – Nós apresentamos o projeto de lei orçamentária. Precisamos ter diálogo com a Assembleia e os outros poderes para que todos possam contribuir nesse momento em que Mato Grosso está arrumando a casa.
DIÁRIO – Otaviano Pivetta diz que pagamento à vista em seu governo tem em média seis meses de inadimplência…
TAQUES – Otaviano Pivetta (candidato a vice-governador de Mauro Mendes) teve uma boa administração em Lucas (do Rio Verde) com dinheiro. Sem dinheiro ele perdeu a eleição (para prefeito em 2016). Aliás, Lucas tem somente 20 UTIs com 16 funcionando porque o Estado de Mato Grosso banca. Otaviano Pivetta fez boa administração em Lucas, mas não fez sozinho: que fez foi Marino Franz, e as pessoas se esquecem de Marino Franz (prefeito por oito anos consecutivos) que administrou num momento importante de Lucas. Quando (Pivetta) ficou sem dinheiro, perdeu a eleição.
DIÁRIO – Afinal, sobre inadimplência, Pivetta está ou não com a razão?
TAQUES – Não. Ele desconhece as contas do Estado.
DIÁRIO – E como estão as contas do Estado?
TAQUES – Bem melhores do que nós as encontramos, porque agora nós temos um caminho a ser percorrido, que é a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos, que foi aprovada em novembro de 2017.
DIÁRIO – O fato de ser cuiabano soma para seu desempenho eleitoral na capital e no entorno?
TAQUES – Independentemente de eu ser cuiabano ou não, o cidadão do Vale do Rio Cuiabá está fazendo uma reflexão e tomando conhecimento do que nós fizemos. Nós não tínhamos escola em tempo integral e hoje temos 40 e quero fazer mais 100 no próximo mandato; nós tínhamos uma escola militar, agora temos oito, terminaremos o ano com 12 e eu quero mais 40 no próximo mandato, inclusive uma no bairro Pedra 90 (em Cuiabá); nós tínhamos um Ganha Tempo, e hoje temos oito e eu quero mais 10 unidades do Ganha Tempo, incluindo uma no bairro Cristo Rei (Várzea Grande) e uma no Pedra 90. Aliás, hoje (sexta-feira, 14) estamos inaugurando a unidade do Ganha Tempo em Barra do Garças, que também atenderá cidadãos de Pontal do Araguaia.
DIÁRIO – Como foi seu governo para o Vale do Rio Cuiabá?
TAQUES – Nós fizemos 2.600 quilômetros de pavimentação. Quero fazer mais 4 mil quilômetros. Se você buscar todas as saídas do Vale do Rio Cuiabá, fomos nós que as duplicamos. Todas as rodovias estaduais no Vale do Rio Cuiabá estão em excepcional qualidade: Rosário Oeste a Cuiabá (MT-010); Cuiabá-Chapada dos Guimarães, que só falta o trecho no Parque Nacional da Chapada; Chapada-Campo Verde; Campo Verde-Dom Aquino está sendo refeita; Dom Aquino-Chaleira Preta está pronta; Jangada-Acorizal, pronta: Barra do Bugres ao trevo para Jangada está em andamento; MT-251 a Coxipó do Ouro em obra de pavimentação depois de 300 anos; Água Fria, que é um sonho. Portanto, fizemos muito pelo Vale do Rio Cuiabá, sem falar do hospital e pronto-socorro de Cuiabá, que nunca nenhum governador teve a coragem de fazer e nós estamos fazendo. Veja o caso do Hospital São Benedito, no qual a prefeitura não investiu no custeio em 2015 e 2016 – se não fosse o governo do Estado a Saúde Pública em Cuiabá estaria em piores condições, porque o candidato (a governador) Mauro Mendes fez uma péssima administração, e inclusive teve 53 dias de greve e ninguém se recorda disso. Veja a UPA do Pascoal Ramos, que somente funciona porque o Estado de Mato Grosso investe R$ 350 mil por mês. Assim que eu assumi (o governo), nós melhoramos a Saúde Pública em Cuiabá porque o governo do Estado passou a investir nessa área.
DIÁRIO – E a Saúde Pública em Várzea Grande?
TAQUES – Só funciona (a Saúde Pública) porque o Estado de Mato Grosso banca, investe R$ 1,3 milhão no pronto-socorro. Veja a UPA do Ipase, que só foi instalada porque o Estado de Mato Grosso ajudou.
DIÁRIO – O que está em curso para melhorar a Saúde em Cuiabá e como descentralizá-la?
TAQUES – Vamos terminar o de Cuiabá com investimento de R$ 50 milhões do Estado e de R$ 27 milhões do município. O Estado vai equipar esse hospital e precisamos, sim, de três hospitais regionais, mas enquanto isso nós aumentamos o repasse do hospital de Barra do Bugres de R$ 160 mil para R$ 960 mil; assinamos uma portaria com o Hospital Municipal de Tangará da Serra para repasse de R$ 400 mil e precisamos renovar essa portaria. Estamos ajudando os hospitais filantrópicos. Precisamos de hospital regional no Sudoeste do Estado e na região Nordeste. Agora, a pergunta que vem a mim: será que eu teria o dever de resolver todos esses problemas em três anos e oito meses? Ou financeira e humanamente seria possível nós resolvermos todos os problemas de Mato Grosso em três anos e oito meses?
DIÁRIO – Qual sua resposta para essa indagação?…
TAQUES – Júlio Campos que apoia Mauro Mendes não fez, Carlos Bezerra que apoia Mauro Mendes não fez, Chico Daltro e Silval Barbosa que apoiam Mauro Mendes não fizeram e por que tenho que fazer em três anos e oito meses?
DIÁRIO – Por que escolheu seu companheiro de chapa Rui Prado?
TAQUES – Rui Prado foi presidente do Sistema Famato, do Sindicato
Rural de Campo Novo do Parecis e da Aprosoja. É uma pessoa que conhece Mato Grosso e o setor produtivo, que é importante para o nosso Estado; ele tem tudo para colaborar com a próxima administração.
DIÁRIO – O servidor público vota em Pedro Taques?
TAQUES – Eu não vou querer ser unanimidade em absolutamente nada, mas estamos notando que muitos servidores públicos estão fazendo reflexão e eu peço que façam essa reflexão, pois nós saldamos todos os compromissos que assumimos com o servidor. Aliás, diferentemente do Mauro Mendes, eu não trato servidores e colaboradores como animais. Mauro Mendes está sendo processado em Rondônia por maus-tratos a colaboradores dele: 800 pessoas estão lá (em Rondônia) passando fome porque Mauro Mendes não paga seus salários. A juíza do Trabalho já condenou a empresa que ele é o proprietário por maus-tratos aos seus colaboradores. Como uma pessoa que é milionária na pessoa física e quebrada na pessoa jurídica, aqui em Mato Grosso posa de bom moço e de empresário do futuro tendo trabalhadores em situação degradante, iguais a animais em outro Estado?
DIÁRIO – Em caso de novo mandato, o trem apitará em Cuiabá?
TAQUES – Sou favorável à chegada da ferrovia em Cuiabá. Aliás, participei de várias reuniões, fiz várias gestões para que a ferrovia passe por Cuiabá, diferentemente do vice de Mauro Mendes, Otaviano Pivetta, que inclusive deu declarações contrárias à vinda da ferrovia para Cuiabá, porque, segundo ele, Cuiabá não produz nada. Sou absolutamente favorável e defendo que a ferrovia passe por Cuiabá e chegue a Sorriso e inclusive fiz reuniões com a Rumo Logística (detentora da concessão da ferrovia), fiz reunião no Palácio dos Bandeirantes para utilização da outorga da malha paulista para fazer a ferrovia chegar a Mato Grosso conforme consta na Medida Provisória 752.
DIÁRIO – Quais seus erros e acertos no governo?
TAQUES – Todo governo tem erro. Nós iniciamos muito rápido o governo. Nós conhecíamos o governo, mas a máquina pública é muito grande. Hoje o conheço muito mais do que conhecia quando o assumi. Por isso Mato Grosso não pode voltar à estaca zero, não pode regredir. Acertos, tivemos vários. Acertamos na Educação, com melhora nos indicadores. Acertamos na Segurança, na Infraestrutura, na Agricultura Familiar, melhoramos muito a ambiência negocial no Estado: a Sema demora hoje, em média, 97 dias para expedir licença ambiental, e antes ela demorava 600 dias em média. A nossa Secretaria de Desenvolvimento Econômico não ‘vende’ incentivos fiscais como na administração passada, da qual seus líderes estão apoiando o candidato Mauro Mendes.
DIÁRIO – A Zona de Processamento de Exportação de Cáceres (ZPE) continua desafiando governantes…
TAQUES – O decreto de criação da ZPE foi assinado em 6 de março de 1990 e o governador era Carlos Bezerra. Aí passou Carlos Bezerra e não fez nada; passou Jayme Campos e não fez nada; passou Dante, que começou a tratar da saída para o Pacífico asfaltando até San Matias; passou Blairo Maggi e não mexeu na ZPE; passou Silval Barbosa e não mexeu na ZPE. Assumi o governo, fiz o processo licitatório, o município de Cáceres fez o projeto e a empresa do Berinho Garcia, que é pai de Fabio Garcia, o coordenador geral do Mauro Mendes, não conseguiu terminar a obra. Aliás, essa empresa não terminou as obras do Aeroporto Marechal Rondon, dois COTs, três escolas técnicas e a canalização do córrego 8 de Abril. A culpa é minha? Não. A culpa é daqueles que na administração passada mergulhavam no preço do processo licitatório para obterem vantagens e na nossa administração cortamos o ‘leitinho’ desse povo.
DIÁRIO – O VLT sai ou continua na estaca zero?
TAQUES – Falar que o VLT fica pronto em um ano é mentira. É desconhecer o processo do VLT. Vamos terminar o VLT, mas eu não coloco um real do Estado no VLT enquanto não se resolver a bandalheira que foi a administração de Silval Barbosa; a Operação Descarrilho demonstrou que ele recebeu dinheiro do consórcio e agora estamos fazendo um processo de manifestação de interesse para que empresas possam construir e administrar o VLT.
PS – Entrevista publicada no Jornal Diário de Cuiabá edição 16 setembro 2018 Pág. A4 e postada na edição eletrônica daquele matutino em www.diariodecuiaba.com.br