Mais uma vez a Assembleia Legislativa de Mato Grosso ganha as páginas policiais. Nesta quinta-feira, 2, ao menos 60 integrantes do Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco – Criminal) e o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público fizeram busca e apreenderam documentos em departamentos daquele legislativo. A operação chamada “Déjà vu”, foi desencadeada sob sigilo imposto pelo Tribunal de Justiça (TJ), segundo o promotor Marcos Bulhões, que acompanhou os trabalhos do agentes. Porém, o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM) revelou que se tratou de busca de documentos relativos a verbas de suprimento e verbas indenizatória (VI) de deputados. Botelho antecipou que está entre os alvos, juntamente com os deputados, Walter Rabelo (já falecido), Zeca Viana (PDT), Wancley Carvalho (PV), Emanuel Pinheiro (MDB) e outros. Daí, o nome da operação, que é uma expressão francesa, que em tradução livre significa já visto. Um fonte garante que uma das metas da operação é fechar o cerco contra deputados da legislatura anterior, dentre os quais o agora deputado federal Ezequiel Fonseca.
Déjà vu seria um desdobramento da Operação Metástase, que em 12 de outubro de 2015 prendeu o ex-deputado José Riva (sem partido), que seria o líder de um esquema criminoso para mascarar recebimento de verba de suprimento e (VI); a primeira, com valores entre R$ 4 e R$ 8 mil, era destinada a pequenos gastos mensais nos gabinetes dos parlamentares, mas foi extinta no começo de 2015; a outra continua e também contempla algumas categorias privilegiadas de servidores.
Uma fonte revelou que Déjà vu visa, entre outros, o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP), que foi deputado estadual na legislatura de 2011 a 2014, e que teria participado do esquema de ‘esquentar’ notas fiscais para justificar recebimento de verba de suprimento e VI. Quando de Metástase, Ezequiel tinha prerrogativa de foro e a ação contra ele subiu para o STF. Com o fim do foro, o caso passou à competência da Justiça mato-grossense. Quando Metástase veio à tona Ezequiel negou com veemência seu envolvimento com o suposto esquema.
As investigações silenciosas cumpriram na Assembleia mandados expedidos pelo desembargador do TJ João Ferreira Filho. Mesmo em se tratando de caso conduzido longe da imprensa, Botelho concedeu coletiva onde disse que independentemente de mandados o Legislativo está de portas abertas para facilitar o trabalho do Ministério Público.
Investigados
Emanuel Pinheiro não concluiu o mandato na legislatura anterior, pois em outubro de 2016 elegeu-se prefeito de Cuiabá. Déjà vu é o segundo escândalo em que seu nome aparece. O primeiro foi na lista de supostos deputados mensaleiros revelada em delação premiada pelo ex-governador Silval Barbosa com homologação pelo ministro do STF, Luiz Fux; essa delação é reforçada por um vídeo exibido no Fantástico da Rede Globo, onde Emanuel é filmado recebendo maços de dinheiro de Sílvio Corrêa, então chefe de Gabinete de Silval – nesse episódio um dos pacotes de dinheiro caiu do bolso já abarrotado de Emanuel, o que lhe rendeu o apelido de Paletó.
Zeca Viana, presidente regional do PDT, é feroz crítico do governador Pedro Taques e acusa seu governo de corrupção em alguns setores, a exemplo da Secretaria de Educação.
Wancley, com problemas de saúde, anunciou que não disputará a reeleição.
Botelho – Mesmo com a mea culpa de que estaria sob investigação, a fala do presidente da Assembleia é contraditória, pois no período investigado (2011/14) ele não era deputado.
Walter Rabello morreu aos 48 anos, em 9 de dezembro de 2014, vítima de um ataque cardíaco, em sua residência num bairro em Cuiabá.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Dinalte Miranda
2 – Marcos Lopes/AL
3 – Agência Câmara