Feitiço ao contrário na decisão

Noite de sexta-feira, semana da decisão do Campeonato Estadual de 1971 entre o Operário e o Dom Bosco. Rubens dos Santos chega à concentração do tricolor para pegar Bife e Fagundes para uma sessão especial de descarrego com o conhecido pai de santo várzea-grandense Alírio, cujo terreiro ficava na Capela do Piçarrão.

Alírio já tinha sido consultado por Rubens dos Santos e garantido que seu “trabalho” era tão forte que bastava “preparar” dois jogadores para assegurar a vitória. Foram escolhidos, então, quem pegava a bola no gol (Fa-gundes) e quem marcava os gols (Bife).

Um de cada vez, os dois foram colocados dentro de um círculo de pólvora, enquanto Alírio fazia suas mandingas, rodopiando, gesticulando e in-vocando seus guias para ajudar Fagundes e Bife a garantirem a conquista do título.

“Era tanta pólvora que quase queimou minhas roupas”– queixava-se Bife toda vez que falava sobre esse episódio que marcou sua vida de jogador de futebol.

Completado seu “trabalho”, Alírio confirmou sua previsão: o Operá¬rio ia ser campeão. E até revelou o placar: 2×1, com os 2 gols de Bife, eviden-temente.

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Vitória garantida, os dois jogadores voltaram para a concentração cheios de moral e trataram logo de espalhar a boa notícia entre os companhei-ros, que, claro, passaram a compartilhar da alegria de Bife e Fagundes. Afinal, ganhar um título estadual em cima de um time como o Dom Bosco ia ter um sabor especial…

Chegou o dia do grande o jogo e o placar foi mesmo de 2×1, como o macumbeiro Alírio havia previsto, só que para o Dom Bosco… com 2 gols de Jorge Cruz.

PS: Bife não fez nem um: o gol operariano foi marcado por Pé de Coelho. Pior: o que Alírio não previu foi que no final do jogo haveria uma briga feia, com os jogadores, dirigentes, policiais, juízes e bandeirinhas, gandulas e torce¬dores participando da pancadaria.

Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino