Grace Carroll
Role,The Conversation*
Quando sofremos com a perda de um animal de estimação, talvez não sejamos os únicos a sentir esta dor. Pesquisas mostram que gatos que são deixados para trás quando outro animal na casa morre, podem vivenciar o luto com a gente.
O luto é uma resposta humana bem documentada à perda — mas suas raízes podem ser muito mais antigas, uma vez que alguns cientistas acreditam que ele evoluiu em espécies extintas de humanos.
Observou-se que os corvídeos — membros da família dos corvos —, primatas e mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, mudam seu comportamento quando um dos seus morre, desde carregar filhotes mortos por dias até ficar perto dos corpos, como se estivessem em vigília.
Uma teoria é que o luto é um subproduto da resposta natural ao estresse à separação observada em animais sociais. De acordo com essa ideia, a angústia e o comportamento de busca provavelmente evoluíram para encorajar os animais a se reunirem com membros perdidos do grupo, o que era benéfico para a sobrevivência. Essas respostas persistem quando a separação é permanente, como na morte, levando à dor duradoura do luto.
Embora haja muitas pesquisas sobre como a perda de um animal de estimação afeta os seres humanos, sabe-se muito menos sobre como os gatos lidam com a perda, algo que foi investigado por uma pesquisa recente das psicólogas comparativas Brittany Greene e Jennifer Vonk, baseadas nos EUA.
Diferentemente das espécies sociais típicas, o ancestral selvagem do gato era em grande parte solitário. No entanto, a domesticação remodelou seu comportamento, permitindo que vivesse em grupos e criasse laços sociais.
O estudo de Green e Vonk sugere que os gatos podem sofrer com a perda de um colega de estimação. Em seu estudo com 452 gatos, muitos apresentaram sinais de angústia, como aumento da busca por atenção, vocalização e diminuição do apetite, após a morte de um companheiro.
O estudo descobriu que a força do vínculo entre os animais, o tempo que passavam juntos e as interações diárias eram fatores-chave neste comportamento semelhante ao luto.
Gato com semblante melancólico deitado em cadeira,Crédito,Getty Images
Legenda da foto,Estudo mostrou que gatos apresentam mudanças de comportamento após a morte de colegas de estimação
Este estudo se baseia em pesquisas anteriores da pesquisadora de bem-estar animal Jessica Walker e sua equipe, em 2016, que analisaram como cães e gatos reagem à perda de um companheiro.
O estudo de Walker, conduzido na Nova Zelândia e na Austrália, descobriu que 75% dos animais de estimação sobreviventes apresentavam mudanças de comportamento perceptíveis — e os gatos demonstravam maior afeição, apego e vocalizações relacionadas à ansiedade.
Vale destacar que ambos os estudos se basearam nas percepções dos donos para avaliar mudanças no comportamento dos animais de estimação, o que apresenta um potencial problema. Embora os donos sejam frequentemente os mais atentos a mudanças sutis em seus animais, as observações deles também podem ser influenciadas por seu próprio luto e estado emocional.
É realmente luto?
Há uma explicação alternativa para as mudanças no comportamento dos animais que os donos observaram nos estudos após a morte de um companheiro de estimação. A presença de um animal morto pode sinalizar perigo no ambiente, fazendo com que os pets mudem seu comportamento como uma medida de segurança, em vez de ser uma resposta de luto.