Joaquim Murtinho – Pelo Imortal Acadêmico Ubiratã Nascentes

Joaquim Murtinho

Estamos abordando um consagrado vulto da história nacional e do nosso Estado, autodidata tanto na medicina quanto na macroeconomia nacional, cujo fundamento preliminar brotou na docência desse inveterado estudioso solitário, uma singular genialidade servindo o bem.

Começou num berço diferenciado, seu pai José Antônio Murtinho era médico, chegou a Presidente da Província em 1868/9. A genitora, Rosa Joaquina Murtinho teve 3 filhosː Manuel Murtinho foi Presidente de MT em 1891/5 e Ministro do que seria hoje o Supremo de 1897/917; José Antônio Murtinho elegeu-se Dep. Federal em 1897/99 e 1907/08 pelo DF-RJ, senador por 18 anos de MT – 1912/30; Joaquim Duarte Murtinho, o caçula em 7 dezembro 1848. O pequeno perecebe-se tinha uma estrela, seu padrinho foi ninguém menos que Augusto Leverger – Barão de Melgaço, na época Tenente-coronel, exercia o cargo de Diretor do Arsenal de Marinha.

Concluíu os estudos no Seminário Episcopal de Cuiabá, educandário fundado pelo Bispo José Antonio dos Reis, que na época era a única escola de ensino secundário da Província ! Com apenas 13 anos Murtinho, empreende uma longa e tortuosa viagem para o Rio de Janeiro – capital do Império, junto com os irmãos e matricula-se em 1861 no Colégio Kopke de Petrópolis, depois ingressa no Colégio Episcopal S. Pedro de Alcântara – “Colégio dos Padres Paiva” no Rio. Faz exames para a Escola Central – RJ, aprovado em 1865, aos 17 anos inicia engenharia civil. Perdendo a genitora para a peste da varíola – bexiga, a tristeza provocou um forte abalo na saúde, recolhendo-se na fazenda de um tio em Mendes – RJ buscando recobro da moléstia que o atingira, leu “Organon e Matéria Médica Pura” de S. Hahnemann, e conheceu a terapêutica homeopática. Entusiasmado com o sucesso da homeopatia, matricula-se na Faculdade de Medicina do RJ, mesmo estando na terceira série do curso de engenharia, no qual veio a formar-se no ano 1870. Inicia a carreira do magistério em 1872, e quando a Escola Central foi transformada na Escola Politécnica – 1874, torna-se o lente da cadeira de zoologia no curso de ciências físicas e naturais. Conclui medicina quando lecionava, em 1873, doutorarando-se com a tese “Do Estado Patológico em Geral: Acústica, Acupressura, Respiração”, onde abre destaque para a orientação homeopática. A genialidade manifesta-se na sua cultura científica, pois indo além das ciências físicas e naturais, matemáticas, medicina, engenharia e direito; lecionou inúmeras disciplinas, a saberː geometria, álgebra, cálculo diferencial e integral, física experimental, mecânica racional e aplicada, química inorgânica e noções de mineralogia, meteorologia, botânica e zoologia, para encerrar … desenho !
Gerou proficientes estudos para a agricultura brasileira, ainda leciona biologia industrial até 1879.

Assumiu a direção dos Anais da Medicina Homeopática entre os anos 1882/87, lastreado na vida academica, veio a ser um dos fundadores do Instituto Hahnemaniano do Brasil, na sua clínica formou prestígio, obteve dentre os ilustres clientes o Marechal Deodoro da Fonseca. O sucesso inicial consolidou-se através da medicina, em seu consultório no Bairro de Sta. Tereza, atendia pobres e ricos independente de metais / pagas, receitava até por carta, torna-se consenso !

A sua postura política externa-se mais efetivamente no último decênio do Império, sendo republicano e abolicionista, inovava soluções, pois gerou e apresentou um programa de reformas sociais visando fazer o aproveitamento da mão-de-obra, criando novas feições ao Brasil.

Impregnavam quando fizera os seus estudos superiores, as filosofias cientificistas, “Positismo” – teoria de Augusto Comte, raízes no “… pensamento livre como a respiração, convergindo todos para o Amor, o Bem Comum …”, influenciaram as idéias do jovem Murtinho. “Evolucionismo” de Charles Darwin – “Evolução Biológica por Seleção Natural”; em definitivo o “Darwinismo Social”, Herbert Spencer – aderindo à concepção da “Sobrevivência dos mais aptos”.

Surgiu o autodidata ao aplicar esta base teórica, marcante na trajetória de sua vida. Assim, combinou os novos pressupostos com os da economia política clássica, que igualmente teve a oportunidade de conhecer como disciplina na Escola Central, assentando as bases do seu pensamento econômico, esta simbiose formou seu, original Liberalismo Econômico – desde 1870. Este o escopo das idéias básicas que o acompanhariam pelo resto da vida, como a não intervenção estatal direta na economia, apenas no aparelhamento da infraestrutura ː na construção de ferrovias, no incremento dos meios de comunicação, e a ortodoxa posição no tocante à circulação monetária. Seus pensamentos foram expostos em 1878, ao diretor da Politécnica, o Visconde do Rio Branco.

Com o advento da República em 1899, Murtinho ganha um considerável impulso com sua ascensão política, sendo em 1890 eleito para representar Mato Grosso no Senado Federal, oportunidade necessária para colocar em efetiva prática, os fundamentso liberais que fomentava. Nesta perspectiva mostra resultados de monta ao criar a primeira instituição bancária do Estado, explicitando seu apego, o Banco Rio e Mato Grosso, sede no Rio, agências em Cuiabá e Corumbá.

Durante a gestão de Prudente J. de Morais, empossado em 15 de novembro 1894, Murtinho assume o Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, em 20 de novembro 1896. Estavam abertas as portas para a definitiva ascenção no cenário global que o imortalizou. – segue.

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