Mato Grosso em estado de mamação

Não saberia avaliar as manifestações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro ocorridas ontem, 26, fora de Mato Grosso. Porém, mesmo com minha limitação e pouco conhecimento da nossa realidade, não é difícil entender o que houve aqui, nesta abençoadas e ensolarada terra de Rondon.

Se comparada a manifestações anteriores em Cuiabá e outras cidades mato-grossenses, o movimento em defesa de Bolsonaro, do pacote anticrime do ministro Moro e da reforma previdenciária foi pequeno.

Não pensem que o esvaziamento foi motivado pelo curto do mandato do presidente – o que não lhe permitiu tempo para executar seus planos administrativos. Não foi isso.

Não imaginem que a população esteja contra o presidente ou a um passo de abandoná-lo. Também não foi por isso.

Não avaliem que a chamada esquerda esteja se fortalecendo em Mato Grosso. A ausência do povo não estava atrelada à questão de ordem ideológica.

Explico a razão, mas antes quero um parênteses.

Vi a carreata em verde e amarelo cruzando a avenida Historiador Rubens de Mendonça. Estava na janela do primeiro andar de um prédio, numa posição privilegiada para observar motos, carros e ocupantes. Depois da passagem dos manifestantes fui a um supermercado, onde encontrei-me com uma figura bem conhecida. Tratava-se de um cabo eleitoral com passagem por muitos palanques de diversos partidos e candidatos.

Conversamos sobre política. Ele, que domina bem o assunto, explicou a razão de sua ausência na manifestação.  Botando minhas palavras na versão por ele apresentada:

Quase toda a representação parlamentar mato-grossense, incluindo a esfera estadual, está de bote armado sobre Bolsonaro. A classe – observemos as exceções – milita politicamente fazendo de sua representação verdadeira atividade comercial, mesmo que ilícita. A bancada federal e a Assembleia Legislativa (novamente com exceções) temem que o presidente feche a torneira da corrupção, que dentre suas vertentes tem a emenda parlamentar.

Isso mesmo. Discretamente parlamentares negociam com prefeitos  e até com o governo estadual, liberação de emendas. A negociata é facilitada com a participação de empresas  que tradicionalmente atuam nas áreas públicas executando obras..

Segundo ele, um efeito cascata atingiu em cheio os satélites eleitorais que gravitam em torno dos parlamentares e, isso, os impede de continuarem manifestando publicamente apoio a Bolsonaro – que em Mato Grosso recebeu votação extraordinária.

O deputado chega ao seu grupo e ordena: sai dessa! Com esse Capitão nós não vamos a lugar nenhum. Isso pode parecer texto leviano ou utopia, mas a verdade é que em Mato Grosso existe a figura do cabo eleitoral, que em época de campanhas age como se fosse mercenário contra a democracia, e fora desse período, via de regra, é contemplado com cargos comissionados na Assembleia, governo, prefeitura e câmara municipal.

Carreatas e manifestações se fazem com público. Se buscarmos o perfil do manifestante veremos que ele é formado por militantes políticos, sindicalistas, representantes de entidades de classe, militantes estudantis e universitários, movimento sem terra, servidores comissionados, políticos no poder ou destronados dele, mas a essência do povo que trabalha para se manter, nem sempre tem condições de sair às ruas.

Saio do supermercado.

A dosagem do amargo remédio de Bolsonaro  é maior do que se imaginava. Muitos dos que o elegeram, votaram com um pé no céu – por mudança – e um no inferno – com medo de perder a boquinha.  Daí, que até mesmo figuras que coabitam redes sociais ou desancando o ex-presidente Lula ou apoiando o Capitão – como o chamam,  recolheram os flaps.

Num Estado carente e periférico igual ao nosso, o político tem força descomunal. De uma canetada sua depende o emprego que garante o sustento de uma família. Por isso, até mesmo suplente como é o caso do deputado federal Valtenir Pereira (MDB) é endeusado. Pela mesma razão paira o silêncio sobre a investigação do Ministério Pùblico sobre o escândalo no Detran, que dentre outros bota na mira dos promotores os deputados estaduais Eduardo Botelho (DEM e presidente da Assembleia), Wilson Santos (PSDB), Nininho (PSD) e Romoaldo Jùnior (MDB). Essa força avança para as prefeituras, como é o caso em Cuiabá, onde o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) é mantido no cargo apesar do escândalo do Paletó.

Não é aconselhável falar em corda na casa de enforcado. O pacote anticrime seria um duro golpe na prática corriqueira da corrupção. O Coaf em sua plenitude e com agilidade seria um entrave ao vaivém das montanhas de dinheiro do colarinho branco.  Voltem o olhar para a bancada federal de Mato Grosso e a Assembleia Legislativa. Mirem bem e vejam quantos parlamentares estão sob o cerco do Ministério Pùblico. Francamente, a eles não interessa a moralização. Desse desinteresse surge o efeito dominó que esvaziou o ato de apoio ao presidente.

Ainda fora do supermercado.

A reforma da Previdência é vendida ao público da forma mais distorcida. Avalio que a mesma deva ser aprovada. É preciso corrigir injustiças previdenciárias, é preciso cortar tetas graúdas.

Resumo: o domingo, 26 de maio de 2019 foi o dia em que a corrupção mato-grossense mostrou sua força, deu seu recado: ou Bolsonaro baixa a bola ou vai para o limbo. A menagem foi bem dura: a corruptolândia tem controle sobre boa parte da massa popular, domina a mídia e, matreiramente compartilha bandeiras com a dita esquerda no pior incesto político possível em Mato Grosso, pela continuidade  dos esquemas que enriquece os poderosos, garante o pão ao pessoal da arraia-miúda e movimenta boa parte da mídia nesta terra em estado de mamação.

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTO: Agência Brasil em arquivo

 

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Comentários (1)
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  • Inácio Roberto Luft

    Caramba. Grandes verdades.