Não é futebol. Se fosse, Mato Grosso poderia pedir música ao Tadeu, no Fantástico da Rede Globo, pois numa semana o Estado em crise foi governado por três: o titular Pedro Taques, que viajou para a China e Alemanha; o vice-governador Carlos Fávaro, que seguiu os passos do chefe e embarcou para as terras alemãs; e o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, que ora segura a chave do cofre do Palácio Paiaguás.
Pra China, Taques embarcou no final da semana passada levando um trenzinho da alegria com dezenas de servidores públicos. De lá, rumou para Bonn, onde acontece a conferência sobre o clima – COP 23 – promovida pelas Nações Unidas. Secretário de Meio Ambiente, Fávaro também desembarcou na Alemanha. Segundo na linha sucessória, Botelho assumiu o governo.
Governador e vice deixaram o Estado num dos momentos mais difíceis para Mato Grosso, na área institucional. Salários de servidores em atraso. Duodécimo e transferências constitucionais e de Fundos em aberto. Empreiteiros sem conseguir receber por obras entregues. Com a associação dos prefeitos (AMM) em contagem regressiva para o próximo dia 30 – decidida em assembleia – para denunciar Taques por apropriação indébita, pedir seu impeachment por improbidade administrativa e requerer o bloqueio dos saldos do governo para garantir o recebimento pelas prefeituras dos recursos que o Estado teima em não repassar.
Com o caos instalado, Taques viaja por dois continentes e seu vice vai atrás. Enquanto isso, Botelho tem a responsabilidade de tentar botar a casa em ordem, o que parece não será fácil. Num pronunciamento na AMM, na sexta-feira, 10, o chefe da Casa Civil, Max Russi, disse que o governo não tem recursos para quitar as dívidas com os municípios e liquidar o duodécimo dos poderes – relativo a setembro e outubro – se não houver aporte financeiro extraorçamentário. Max citou que a União terá que repassar R$ 496 milhões do Auxílio Financeiro para o Fomento às Exportações (FEX); que a Conab deve R$ 109 milhões ao Estado em ICMS desde 1985; e que a bancada federal destinou uma emenda impositiva de R$ 126 milhões para a Saúde. Caso Mato Grosso receba R$ 731 milhões que é a soma do FEX, com o crédito junto à Conab e os recursos da emenda, os compromissos serão honrados; prevalencendo o pior, nem Deus sabe o que acontecerá.
O tempo avança. O governo assegura que amanhã, terça-feira, anunciará o calendário do pagamento do salário acima de R$ 5 mil referente a outubro, mas sequer toca na questão do duodécimo e dos repasses represados dos municípios.
Botelho tem pela frente uma semana atípica, porque no meio há um feriado nacional, o que praticamente esvazia Brasília, que é onde está a esperança do governo para reabastecer seu caixa.
ASSEMBLEIA
Botelho (PSB) foi para o governo e expôs a vergonhosa situação em que se encontra a Assembleia. Seu sucessor é o vice-presidente Gilmar Fabris (PSD); Fabris não aceitou assumir alegando que faria exames clínicos. Na verdade, o que se escuta no corredores do Legislativo é que Fabris recuou da Presidência para não despertar a atenção nacional para seu caso: recentemente o deputado foi mantido por 40 dias preso por força de uma prisão preventiva decretada pelo ministro Luiz Fux (STF); o deputado é um dos investigados numa operação que apura crimes de colarinho branco e teria fugido de sua casa momentos antes da chegada de agentes da Polícia Federal que ali cumpririam mandado de busca e apreensão – por isso o Ministério Público Federal o denunciou por obstrução de justiça.
Sem Fabris o segundo na linha sucessória seria o segundo-vice-presidente Max Russi ((PSB) que está licenciado para chefiar a Casa Civil. O terceiro sucessor é o secretário Guilherme Maluf (PSDB); Maluf é alvo de várias investigações policiais e também tratou de se escafeder.
Sem Fabris, Russi e Maluf, o quarto sucessor é Nininho (PSD); Nininho foi delatado pelo ex-governador Silval Barbosa, a quem teria pago propina de R$ 7,5 milhões para sua empresa Morro de Mesa, ganhar a concessão da rodovia MT-130 entre Rondonópolis e a BR-070 em Primavera do Leste.
Nesta segunda-feira, 13, o silêncio do governo e da Assembleia deixava dúvida se Nininho teria ou não assumido a Presidência. O deputado insistia para que Botelho lhe mandasse ofício nesse sentido; Botelho tirava o corpo fora.
Essa situação é tratada com cautela pela quase totalidade da Imprensa em Cuiabá. O Fórum Sindical, que representa os sindicatos dos servidores públicos, também não comentou o caso.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO/Arquivo/José Medeiros/Governo de Mato Grosso