MT – Um ângulo humano na região

Irmã Adelis

Uma estrela 

Os motores dos tratores ainda fumegavam após a abertura da clareira para fundar Vera, no Nortão, quando Irmã Adelis ali chegou em 1972 pelas mãos do colonizador da região, Ênio Pipino.

 

Ali, Irmã Maria Adelis iniciou a ímpar trajetória humanitária no Nortão cuidando de doentes, onde a malária e as balas das armas de fogo matavam implacavelmente a ponto de surgir a máxima popular, “aqui se morre de bala ou malária, ou ainda de balária”.

Adelheid Helena Schwaenen era o nome civil dessa religiosa alemã da Ordem Missionária do Santo Nome de Maria. Em 1985, Irmã Maria Adelis mudou-se para Matupá, também no Nortão, onde fundou o Hospital da Malária.

Irmã  Adelis foi bálsamo, consolo e enfermeira de milhares de garimpeiros e dos moradores do Nortão, vítimas da malária, a doença tropical transmitida pela fêmea do mosquito anofelino.

Enferma e muito debilitada, Irmã Adelis foi para Maringá no Paraná.

Fechou os olhos em 24 de fevereiro de 1998.

Na terra Irmã Adelis foi anjo de luz.

Ao fechar os olhos virou estrela. Brilha no céu.

MATUPÁ – Município com 6.822,118 km², Matupá, na divisa com o Pará, tem 16.793  habitantes, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,716 e a renda per capita R$ 38.399,56.

Sede de comarca, com a cidade à margem da BR-163 e da MT-122, que faz a ligação com São José do Xingu, Matupá tem aeroporto com pista pavimentada, mas sem homologação para voos noturnos.

Matupá

A base econômica é a pecuária e no município uma planta frigorífica abate bovinos.

Matupá se emancipou de Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo,  em 4 de julho de 1988, por uma lei do deputado Sebastião Júnior sancionada pelo governador Carlos Bezerra.

A cidade de Matupá nasceu de um projeto de colonização do Grupo Ometto, que foi executado pelo engenheiro João Carlos de Souza Meirelles. Seu nome – conta Meirelles – surgiu acidentalmente. Operários descansavam à margem do rio Peixoto de Azevedo, perto da área urbana, quando um barranco se desagarrou e caiu na água sendo arrastado pela correnteza. Um índio que trabalhava para Meirelles lhe disse que aquilo era Matupá pedaço de terra que fluta enquanto é levado pela água.

Meirelles gostou do nome Matupá e o sugeriu ao presidente do Grupo Ometto, Hermínio Ometto, que o aprovou.

FOTOS:

1 – blogdoeduardogomes

2 – Prefeitura de Matupá

 

A visão social de Jair Mariano

 

FOTO: Arquivo blogdoeduardogomes

 

Jair Mariano

Carrinho de picolé empurrado por homem maduro, de semblante triste, com roupas surradas, chinelos e o olhar perdido na linha imaginária do horizonte. Todos já viram esse quadro. Nem todos tiveram oportunidade de conversar com os personagens que protagonizam essa cena.

Normalmente o vendedor de picolés e sorvetes no carrinho colorido e com a buzina que faz a festa da criançada é ex-trabalhador rural que após esgotar sua força física ajudando abrir fazendas, formar invernadas e construir cercas perde o emprego para outro, mais novo, e engrossa a silenciosa fileira do êxodo que esvazia o campo e incha a periferia das grandes e médias cidades mato-grossense.

Vendedor de picolés não é o único exemplo da migração silenciosa para os bairros periféricos. Vigilantes noturnos e trabalhadores que se oferecem para limpar quintais também carregam o DNA dos brasileiros anônimos que na força dos braços ajudaram fazendeiros de gado e produtores rurais a transformar Mato Grosso no campeão nacional da carne, grãos e plumas de algodão.

Por não participar de movimentos organizados, pela idade considerada avançada para o serviço braçal e principalmente pela insensibilidade do governo em todas as suas esferas, o ex-trabalhador rural com 45 anos ou mais é descartado da atividade econômica e sobrevive de bicos com o carrinho de picolés, com o apito de vigilante…

“Mato Grosso tem uma grande dívida social com essa gente (os personagens do carrinho de picolés)”, argumentou o então deputado estadual Jair Mariano ao apresentar o projeto que foi aprovado pela Assembleia Legislativa e sancionado em 24 de abril de 2000 pelo governador Dante de Oliveira e se transformou na Lei 7.271, que criou o Programa de Assentamento de Trabalhadores Rurais Nossa Terra, Nossa Gente.

Graças a essa lei o governo de Mato Grosso assentou 1.198 famílias em 40 municípios, retirando da informalidade homens e mulheres com idade igual ou acima de 45 anos, com perfil idêntico ao do vendedor de picolés figurado na abertura deste texto.

Quem tem mais de 45 anos e nessa quadra da vida perdeu o emprego no campo, que foi para a periferia da cidade e posteriormente recebeu uma parcela do Nossa Terra sabe avaliar o que significa a lei criada por Jair Mariano. Quem se dispuser a analisar sobre o caso, também entenderá sua importância.

Peça complementar no contexto da reforma agrária, o Nossa Terra foi implantado nas imediações das cidades para reduzir o custo de sua infraestrutura (rodovia, energia, transporte escolar etc.) e para aproveitar a estrutura urbana em benefício do parceleiro (posto de saúde, escola, segurança, prestação de serviços e mercado para a produção da agricultura familiar). Suas parcelas variam entre 1,2 hectare e 2,5 hectares, que contam com moradia de alvenaria, energia e uma cultura âncora, para assegurar maior volume de produção,o que facilita a conquista de grandes clientes.

Jair Mariano é mineiro de Guaxupé, morou no Iraque e optou por Mato Grosso instalando oficina de refrigeração em Alta Floresta. Foi deputado estadual pelo PPS (1999/2002). Presidiu o Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), onde executou o Nossa Terra, no primeiro mandato do governador Blairo Maggi (2003/2006).

Ao criar o Nossa Terra, Jair Mariano abriu horizontes para milhares de mato-grossenses natos ou não. Do mesmo modo, tirou o ranço da luta de classes e da politização da reforma agrária, mantendo-a exclusivamente na esfera do enfoque da justiça social corrigindo uma grave injustiça que Mato Grosso – ainda – comete contra tantos que deram o melhor de sua vida no campo e que à véspera da terceira idade são abandonados à própria sorte na zona urbana.

Nossa Terra foi descartado no segundo governo de Blairo (2007/2010). O ex-governador Silval Barbosa não o recriou e seu sucessor Pedro Taques também não. A insensibilidade que começou com Blairo passou por Silval e continua com Pedro Taques.

PS – Texto extraído de um dos capítulos do livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir publicado em 2015 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade com ilustração de Generino e capa de Édson Xavier; a obra não teve apoio das leis de incentivos culturais.

 

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO; blogdoeduardogomes

 

O padre cumpriu a promessa

 

Padre Antônio Heidler e…

Ingratidão mata. Padre Antônio Heidler morreu vítima desse mal.

 

Por longo tempo padre Antônio esteve à frente da Paróquia São Judas Tadeu, em Vera, onde era homem dos sete ofícios.

Sacerdote por opção e crença, padre Antônio casava, batizava, evangelizava, estendia às mãos aos recém-chegados.

Poeta. Compositor e autor do hino local. Jogador de baralho. Amante da cerveja. Delegado e juiz de paz entre aspas. Defensor do povo.

A cidade o reverenciava enquanto homem dos sete ofícios.

Pela falta de razão que somente a Santa Madre entende a Diocese de Diamantino transferiu padre Antônio para Itaúba. Não foi. Adoeceu. Morreu em 20 de fevereiro de 1987, em Cuiabá.

... Sua capela

Cumpriu sua missão na Terra e seu pacto com Deus: somente trocaria Vera pelo céu.

Reconhecendo seu papel a comunidade católica de Vera deu seu nome à primeira capela do lugar, ao lado da qual se construiu a Matriz São Judas Tadeu.

Capela Padre Antônio Heidler é uma igrejinha em madeira, bem ao molde das primeiras construções do Nortão.

A capela recebe bom número de visitantes, principalmente de antigos moradores, que convieram com padre Antônio Heidler

FOTOS:

1 – Paróquia São Judas Tadeu – Vera

2 – blogdoeduardogomes

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