Capítulo:
Muleta na convenção da Arena
Vereador por Rondonópolis e ex-delegado de Educação naquele município, o professor Antônio Alberto Schommer tem apoio político incondicional do prefeito e seu correligionário Walter de Souza Ulysséa, para se candidatar a deputado estadual pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) em 1978.
Schommer precisa de dois votos na convenção do partido para pedir o registro de sua candidatura, pois a Arena não lançaria chapa consensual em razão das disputas intestinais entre seus filiados remanescentes dos extintos PSD, UDN e PTB, que se abrigam em suas sublegendas para a disputa de prefeituras, mas que se refletem nas eleições proporcionais.
Schommer era convencional por Rondonópolis, o que lhe facilitava a caminhada. O voto que faltava foi costurado em banho-maria com o prefeito Márcio Cassiano da Silva, de Jaciara, que era delegado de seu município no Diretório Estadual da Arena.
Márcio Cassiano, goiano muito habilidoso, de fala mansa, dominava a política em seu município, onde colecionou mandatos de prefeito e tinha força para transferir votos. Seu trânsito na cúpula da Arena e do governo estadual o fazia respeitado nos meios políticos e, por isso, além de procurado por Schommer, também recebeu vários pedidos para apoiar outros candidatos a deputado estadual.
Para não desagradar a ninguém, Márcio Cassiano prometia apoio a todos os que o procuravam, mas nunca declarava abertamente que votaria nesse ou naquele.
Na data da convenção Schommer viaja de carro de Rondonópolis para Cuiabá. No caminho dá carona a Márcio Cassiano, que está com uma perna fraturada e engessada, e o leva no maior paparico possível para o plenário da Assembleia Legislativa – onde aconteceria o evento político -, então situada na Praça Moreira Cabral, na Rua Barão de Melgaço, ao lado do marco geodésico da América do Sul. Hoje, esse é o endereço da Câmara Municipal da capital mato-grossense.
Na Assembleia, Schommer senta-se ao lado de Márcio Cassiano e o carrega no colo para votar, porque a muleta do prefeito, propositalmente foi deixada pelo candidato a candidato no porta-malas do seu carro, para que pudesse ficar o mais próximo possível de seu eleitor estratégico.
Apurada a votação da convenção, Schommer assusta-se muito e vê seu mundo desabar: teve somente um voto: o dele próprio. Márcio Cassiano o traiu.
Finda a festa dos vitoriosos, a Assembleia fica vazia e os carros que lotam suas imediações se vão, menos o Corcel de Schommer.
No meio da noite, duas horas depois da proclamação do resultado, quem passa pelo coração da América do Sul não entende os motivos que levam um homem alto, vermelho, transtornado e em lágrimas, bater a esmo no chão, com uma muleta até fazê-la em cavacos.
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