Estrada nem pensar. O único meio de acesso, na prática, era pelo rio; utopicamente havia a alternativa aérea – o que era impensável para a realidade da região àquela época. Navegando pelas esverdeadas águas do Tapirapé, os mascates embarcados chegavam ao vilarejo de Cedrolândia. Invariavelmente encontravam os moradores festando em bailes. Eram poucos os habitantes e, todos, participavam das festas. Esse estado de espírito sepultou o nome do lugar e os embarcados passaram a chamá-lo de Porto Alegre, pois se situava na barranca do rio onde os barcos atracavam. Mais tarde, quando o mesmo virou cidade alteraram sua denominação para Porto Alegre do Norte.
Os mascates vendidam de quase tudo. Da lanterna a espingarda cartucheira. Da botina ao chapéu. Do Benzetacil pra combater a gonorreia ao maço de vela que garantia a claridade nos quartos e a devoção aos santos. Do fumo de corda ao amargo da branquinha de alambique. Da lã e do novelo de linha ao facão Tramontina e o anzol que garantia a fartura do peixe. Festa e mais festa!
Quando os mascates deram o nome ao lugar, a população era bem pequena e seus pioneiros foram os vaqueiros de Lúcio, Alexandre Quirino de Souza, Cícero Laranjinha e Domingos Pereira – o Domingão – que cuidavam do rebanho bovino por ele mantido em suas invernadas na região.
Cedrolândia começou por volta de 1952, pouco tempo depois de seu fundador Lúcio Pereira da Luz ter dado o sopro de vida ao patrimônio de Barranco Alto, que se tornou Luciara – misturando os nomes de Lúcio com o do rio Araguaia, que banha o lugar: Luci + ara.
Comarca no Vale do Araguaia, Porto Alegre do Norte tem 12.307 habitantes. A cidade é dividida ao meio pela BR-158 e banhada pelo Tapirapé. O município tem pouca relação com Cuiabá. Seus moradores são mais identificados com Goiânia e Palmas (TO). Na região, sequer o horário mato-grossense é observado: a hora oficiosa por lá é a de Brasília.
PS – Síntese da formação de Porto Alegre do Norte
FOTO: Arquivo Eduardo Gomes de Andrade de 1992