Os 10 últimos dias do Pedrismo

Duodécimo em atraso, mas relação em alta com os presidentes da Assembleia (Botelho) e do TJ (Rui Ramos – dir.)

Pedro Taques  (PSDB), o governador mais reverenciado, mais endeusado por veículos de Comunicação, o político que chegou ao Palácio Paiaguás em primeiro turno, está a 10 dias de transmitir o poder. Assumiu o governo e por mais de três anos teve Mato Grosso aos pés. Agora, sai cabisbaixo deixando o Estado à beira do precipício.

Pedro governou com apoio irrestrito da Assembleia Legislativa e sem questionamento pelo órgão técnico de contas do Legislativo, o Tribunal de Contas do Estado. A bancada federal em peso limpava caminho para ele em Brasília. A Imprensa, amiga e empenhada, não economizava manchetes. A austera igreja do Rosário e São Benedito o coroava na procissão do Santo Negro. Tribunal de Justiça e Assembleia não o questionavam sobre o crônico atraso e parcelamento do duodécimo.

A associação dos prefeitos (AMM) nunca o acionou judicialmente pelos atrasos dos repasses constitucionais, principalmente na área da saúde. A entidade rugia, mas na hora agá, recuava, com seu presidente Neurilan Fraga apresentando razões para tal.

Obras lançadas não saiam do papel. Algumas, como é o caso da inacabada trincheira no trevo das rodovias estaduais 010 e 251, na área urbana de Cuiabá, apresentam custo acima dos apresentados pelo governo Silval Barbosa, de triste lembrança. O metro da trincheira iniciada por Pedro é mais caro do que o metro da Trincheirona que Silval construiu na avenida Miguel Sutil, para a Copa de 2014.

Pedro não concluiu as obras da Copa do Mundo. Do veículo leve sobre trilhos (VLT) então nem se fala. A duplicação de 3 quilômetros da MT-010 em Cuiabá engatinha em ritmo tartaruga.

A inadimplência média do governo de Pedro com fornecedores é de seis meses, mas há casos de atrasos superior a dois anos. Isso soa contraditório, pois no período houve permanente crescimento da receita do Estado.

A Saúde Pública no governo Pedro virou caso de polícia. Os três hospitais regionais por ele prometidos na campanha ao governo e nos primeiros meses do mandato não passaram de promessas.

Os servidores enfrentaram problemas para recebimento da RGA e o Fórum Sindical permaneceu em silêncio por bom tempo.

Instalou-se um regime policialesco em Mato Grosso.

O secretariado experimentou um ciclo de alta rotatividade. O entra e sai de secretários virou rotina.

Enquanto o governo Pedro botava Mato Grosso sob suspeita, fatos gravíssimos aconteciam em sua cúpula. De seu secretariado, nove foram presos por acusações diversas: Rogers Jarbas, Luiz Soares, Evandro LescoAirton Sampaio, Ronelson Barros, Paulo Taques, André Baby, Permínio Pinto e Airton Siqueira.  Paulo Taques, primo de Pedro, foi preso três vezes. Além deles, figuras de escalões inferiores também foram parar atrás das grades.

O ex-secretário Permínio Pinto (Educação), réu confesso numa ação que apura rombo milionário na construção e reforma de escolas delatou Pedro o apontando enquanto chefe do esquema que o levou à cadeia. O empresário Alan Malouf também delatou o governador com a delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Pedro responde a ação no STJ por sua suposta participação no vergonhoso caso de Grampolândia Pantaneira – uma arapongagem recorrente que atingiu políticos, servidores, jornalistas, médicos e a deputada estadual Janaína Riva.

O afunilamento do governo acontece paralelamente ao recolhimento de viaturas locadas, por falta de pagamento contratual à locadora.

O vice-governador de Pedro, Carlos Fávaro (PSD), renunciou no começo deste ano, por discordar do titular. Foi o primeiro e até agora único caso dessa natureza na história política nacional.

Nas urnas, em outubro, Pedro foi fracasso. Ficou em terceiro lugar na tentativa de reeleição. Recebeu menos 561.836 votos do que a votação que o elegeu quatro anos antes. Compôs sua chapa com Rui Prado (PSDB), que é umbilicalmente ligado ao ex-deputado estadual José Riva – Riva sempre foi alvo de críticas de Pedro.

Daqui a 10 dias encerra o Pedrismo – como se tornou conhecido esse curto período – e Pedro deixa o Paiaguás ao sucessor Mauro Mendes (DEM). Não vai deixar saudade. Infelizmente Mato Grosso paga alto pelo canto da sereia que levou seu eleitorado a errar na escolha do governador em 2014.

Como diria o Barão de Itararé. Pedro sai da vida pública e vai para a privada.

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Flickr de campanha de Pedro Taques

2 – Arquivo Gabinete de Comunicação do Governo de Mato Grosso

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