Muito animado, lá se foi o selecionado de futebol de Mato Grosso enfrentar o Acre, em Rio Branco, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções de 1952. Uma seleção fortíssima, integrada por jogadores do nível técnico de Dito Nascimento, Uir, Totó Traçaia, Leônidas, Batista, Jaquinha, Vidal, Dionísio e tantos outros…
Até Manaus, a viagem no DC-3 da Varig transcorreu muito tranquila. Mas assim que o avião decolou da capital do Amazonas para continuidade da viagem aérea com destino a Rio Branco, o comandante da aeronave fez uma revelação que deixou muita gente com medo: o avião ia passar por uma área de grande turbulência no encontro das águas de dois grandes rios da Amazônia.
Alguns jogadores pensaram, a princípio, que o comandante estava brincando. Mas chegaram à conclusão que o homem estava falando sério, quando ele passou a mão num tubinho semelhante ao aspersório que os padres usam para aspergir água benta nos fiéis nas missas e ritos católicos e começou a benzer os passageiros e a tripulação. Podia ser uma brincadeirinha para descontrair os passageiros, entretanto de muito mau gosto.
Felizmente, não aconteceu nada até o desembarque da delegação em Rio Branco. Mas que muita gente voou com o coração nas mãos, voou. Principalmente depois que o comandante advertiu que de vez em quando caía um avião naquela área de turbulência. E teve gente que até apelou para orações quando num trecho da rota a aeronave começou a perder altura e balançar.
O jogo com a seleção do Acre foi uma verdadeira guerra dentro de campo. O tempo normal da partida terminou empatado em 1×1. Veio então a prorrogação, cujo placar não saiu do 0x0.
Nisso, o chefe da delegação e técnico da seleção mato-grossense, Ranulpho Paes de Barros, foi até o vestiário e voltou com um enorme livro sobre legislação esportiva. Depois de muito bate-boca, Ranulpho convenceu os acreanos a disputar o mata-mata para definir qual seleção continuaria na disputa. E Mato Grosso se classificou, marcando o gol de ouro.
Recorda Totó Traçaia que o jogo no Acre serviu para desmascarar o atacante Leônidas, que vivia dizendo para alguns jogadores que ele era o mais esclarecido, o mais sabido, o mais viajado do futebol de Mato Grosso…
Durante o almoço a bordo, na rota Amazonas-Acre o sabichão Leônidas foi pego tentando jogar pela janelinha do avião o osso de uma coxa de galinha!. Ah!, a partir desse hilariante episódio no avião, foi gozação que não acabava mais em cima de Leônidas…
PS– Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino