Padre Lothar é guarda-chuva social de Rondonópolis
Por
Eduardo on 5 de dezembro de 2024
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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Rondonópolis, 24 de janeiro de 1979. Chuvas fortes transbordam o rio Arareau na área urbana, onde desemboca na margem direita do rio Vermelho. As águas invadem casas e centenas de moradores ficam desabrigados. Padre Lothar Bauchrowitz sensibiliza-se com a situação e consegue com o prefeito Walter Ulysséa alguns lotes da prefeitura nas vilas Ipê e Mariana, para construir moradias para os atingidos.
Com essa iniciativa, mais que resolver um problema, o sacerdote encontrou o caminho da casa própria para desabrigados e carentes, que em 44 anos ultrapassou 3.100 moradias, que foram repassadas a necessitados.
Somente foi possível construir tantas casas assim porque padre Lothar contava com apoio da Cáritas Diocesana, de órgãos governamentais e de mão de obra de mutirões com a participação dos beneficiários. O contemplado com a casa não a recebia gratuitamente, salvo os portadores de necessidades especiais, viúvas e alguns que se encaixam em outros grupos de necessitados. A chave da moradia era entregue mediante compromisso de pagamento de 10% do salário do chefe da família, durante 10 anos; em caso de doença ou desemprego, as parcelas recebiam quitação social. “Não podemos darrr o peixe; o serrr humano tem que saberrr pescarrr”, resume num sotaque de berço alemão que trouxe de sua terra Königsberg, onde nasceu em 1º de julho de 1938. Königsberg foi anexada pela União Soviética ao término da Segunda Guerra Mundial, ganhou o nome de Kaliningrado – exclave russo no Báltico.
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Os programas habitacionais do governo esvaziaram a demanda para moradias fora de seu guarda-chuva social. Porém, quando o Estado Brasileiro não conseguia enxergar os sem-teo, padre Lothar abrigou milhares deles em Rondonópolis.
Padre Lothar é uma das referências em Rondonópolis. Há 58 anos assumiu a Paróquia da Igreja São José Operário, em Vila Operária,, onde celebrou sua primeira missa em 15 de agosto de 1964, numa cerimônia com o bispo Dom Wunibaldo Talleur. Seu trabalho evangelizador e social começou em Rondonópolis; sua ordenação ocorreu em 28 de julho de 1963, na catedral de Mongucia, na Alemanha, pelo cardeal Volk.
O sacerdote revela que ao chegar a Mato Grosso morava na sede da então prelazia, na região central, e que durante três anos, de bicicleta, fazia o percurso de ida e volta à sua igreja, da qual foi vigário e depois pároco.
Rondonópolis respeita padre Lothar por sua condição de evangelizador dedicado e que responde por uma paróquia com dezenas de comunidades numa das áreas mais densamente povoadas da cidade. Porém, sua atuação no campo social é que o fez mais conhecido no município e região. Além de construir mais de três mil casas, o sacerdote mantém um leque de proteção social: criou o Recanto dos Idosos, administra creches, mantém Clubes de Mães e o Albergue Noturno de Vila Operária, administra o Centro Social João XXIII (criado em 1969) e o Conselho de Desenvolvimento Distrital de Vila Operária (Condivo).
A porta da casa de padre Lothar, ao lado de sua igreja, na avenida dos Bandeirantes, está sempre aberta e a sala repleta de pessoas em busca de auxílio e de quem vai até lá para ajudá-lo direta ou indiretamente. Sua rotina é estafante. Celebra missas, faz batizados e casamentos, administra sua paróquia, promove eventos para arrecadar fundos e visita paroquianos e sua obra social. Ela torna-se ainda mais estafante por tratar-se de um homem octogenário que recentemente enfrentou sério problema de saúde. Mesmo sem tempo aparente para outros tipos de atividades, em 2009, o sacerdote escreveu o livro, “Memória de um padre alemão em terras brasileiras”.
Além do reconhecimento da população pelo trabalho social singular de padre Lothar, a classe política também o reverencia. A cidade tem um bairro e um residencial com seu nome; uma taça de futebol para jovens foi denominada Padre Lothar; a Assembleia Legislativa concedeu-lhe o “Título de Cidadão Mato-grossense” e a Câmara Municipal, a “Cidadania Rondonopolitana”.
PS – Texto do livro de minha autoria DNA do melhor lugar do mundo, primeira edição, publicado em 2023 sem apoio das leis de incentivos culturais
Infografia:
Marco Antônio Raimundo
Foto:
Felipe Barros
Capa do livro:
Edson Xavier