Da explosão do garimpo, – fofoca, como se diz no jargão garimpeiro – ao êxodo. Da riqueza fácil ao caos que a deixou a um passo de ser cidade fantasma. Foi assim com Peixoto Azevedo, que viveu o ciclo do ouro no Nortão e que é a referência urbana daquele curto período marcado por assassinatos, malária, balanças de precisão em muitas portas abertas na Rua do Comércio, de intensa movimentação de mono e bimotores, camionetes de frete transportando doentes e sonhadores, ônibus despejando levas de aventureiros. Em suma, no auge da opulência e quando o declínio começou Peixoto era um fuzuê danado, onde a verdadeira moeda circulante era o grama do metal mais cobiçado no mundo inteiro.
O grama cotava o sexo nos incontáveis cabarés e também era parâmetro para compra de ingressos aos shows no Clube Maranhense, com Amado Batista, Waldick Soriano, Walter Basso, Gretchen – a Rainha do Bumbum -, Pedro Bento & Zé da Estrada. Também era ele que garantia nas farmácias a salvadora dose de quinino para espantar a febre quando o Hospital da Malária da Irmã Adelis, na vizinha Matupá, estava superlotado.
Fortunas arrancadas da terra e do leito dos rios da noite para o dia. Assim era Peixoto, uma cidade onde a imaginária linha que separa a extrema pobreza, da riqueza, não passava de um punhado de metal amarelo que cabia na palma da mão. A cidade de garimpeiros que trabalhavam do nascer ao pôr do sol, era a mesma onde eles se esbaldavam à noite nas orgias, de crimes e impunidade. Aquele período não mais existe. Cedeu lugar a uma nova era, de comércio solidificado, de agricultura e pecuária com sinais de vitalidade, de extração mineral organizada e ambientalmente correta.
O ciclo do ouro se estendeu de 1978 ao começo de 1995. A política mineral do governo federal e até mesmo a escassez do metal para extração manual pelos garimpeiros decretaram o fim daquele período. Em 1995 no auge da movimentação a população chegou a 47.009 habitantes e dez anos depois despencou para 19.224. Casas vazias, lojas fechadas, a cidade ganhou ar fantasmagórico.
A aventura se foi. Ficou a realidade peixotense. O município, com 14.257,800 km² na divisa com o Pará, tem 33.296 residentes e sua densidade demográfica é de 2,16 habitantes por quilômetro quadrado. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,649 numa escala de zero a um. O Produto Interno Bruto (PIB) é de R$ 345.536.000 e a renda per capita, de R$ 10.643,67. O rebanho bovino de Peixoto alcançou 315.580 cabeças de mamando a caducando. Em 2016 Peixoto não exportou, mas importou da Austrália US$ 1.694 (FOB) em concentrados para metais.
O ritmo alucinado da extração foi engolido pelo tempo, mas quem pensa que o ouro acabou está enganado. O que aconteceu foi o fim da aventura e da garimpagem sem critérios ambientais, mas o metal continua lá, firme, porém em menor quantidade, o que impede o surgimento de fortunas fáceis, como antes, mas em compensação gera renda para o município e seus vizinhos Novo Mundo, Matupá, Guarantã do Norte, Nova Guarita e Terra Nova do Norte. Gilson Cambuim, líder da Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (Coogavepe) revelou que em 2015 seus cinco mil cooperados extraíram 1,9 tonelada do metal e estimou que na área, naquele ano, o volume extraído foi de quatro toneladas. A movimentação em 2016 somente será apurada em meados de 2017 após cruzamento de informações.
Peixoto tornou-se distrito de Colíder em 16 de novembro de 1981, por uma lei de autoria dos deputados Zanete Cardinal e Pedro Lima, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Frederico Campos. A emancipação sobre uma área de Colíder e Sinop aconteceu em 13 de maio de 1986 por uma lei de autoria das Bancadas do PDS e PMDB.
O município tem a vila de União do Norte, à margem da MT-322 e distante 90 quilômetros da cidade. É sede de comarca de segunda entrância, da 33ª Zona Eleitoral, de uma Vara da Justiça do Trabalho e de um batalhão da Polícia Militar. Parte da área urbana é pavimentada. A água chega a todos os domicílios e uma limitada rede de esgoto atende a aproximadamente 20% da população. Peixoto é um dos divisores das amazônicas bacias do Teles Pires, formador do Tapajós, e do Xingu.
Em Peixoto 244.931 hectares pertencem a duas áreas indígenas. Capoto/Jarina mede 467.366 hectares e Menkragnoti 124.758 hectares. Ambas são homologadas. Na primeira estão aldeados caiapós, mentuktires e tapaiúnas, e dentre eles o cacique Raoni Metuktire. Na outra, caiapós e menkragnotis.
TRAGÉDIA – Às 20 horas do dia 29 de setembro de 2006 no município de Peixoto, um choque a 37 mil pés de altura entre um Boeing-737 da Gol Linhas Aéreas com um jato executivo Legacy 600 da companhia norte-americana Excel Aire matou os 154 ocupantes do primeiro avião, sendo que seis eram tripulantes. Os dois pilotos e os cinco passageiros do Legacy não se feriram e em razão do impacto sofrido pela aeronave seus pilotos Joseph Lepore e Jean Paul Paladino fizeram um pouso de emergência do Campo de Provas Brigadeiro Velloso, mais conhecido como Base Aérea do Cachimbo, da Força Aérea Brasileira (FAB) no Pará.
O avião da Gol voava de Manaus para o Rio de Janeiro com escala em Brasília. O Legacy seguia de São José dos Campos (SP) para Manaus onde faria uma escala para atendimento de exigência alfandegária e depois seguiria para os Estados Unidos, onde a Excel tem base operacional.
O inquérito que apurou as causas do acidente revela que o Legacy voava com o transponder – peça do sistema de detecção de outras aeronaves – desligado. O jato executivo bateu na chamada barriga do avião da Gol e abriu um buraco em sua fuselagem, o que provocou sua desintegração estrutural e ele caiu na reserva indígena Capoto/Jarina. Quase uma década depois os dois pilotos foram condenados pelo juiz federal Murilo Mendes, de Sinop, a penas de três anos, um mês e 10 dias em regime aberto, por atentado contra a segurança do transporte aéreo e eles a cumprem nos Estados Unidos, onde residem.
MEMÓRIA – Nos anos 1950 e 60 seringueiros da empresa Rio Novo trabalhavam na área que mais tarde seria o município de Peixoto. Porém, a fixação do homem somente aconteceu a partir de 1973, com a abertura da BR-163, e logo em seguida, com a descoberta de ouro por garimpeiros de Itaituba (PA).
A primeira casa da futura cidade foi construída pelo fazendeiro Orestes Belmonte de Barros, que chegou à região em 1973, para demarcar uma área que havia comprado no rio Peixoto de Azevedo. Juntamente com Orestes, alguns outros proprietários rurais também demarcaram seus imóveis, mas somente ele permaneceu no lugar.
Encravada às margens da BR-163 a cidade tem suas raízes ligadas à rodovia. Nas margens do rio Peixoto de Azevedo o 9º Batalhão de Engenharia de Construção do Exército (9º BEC) montou um acampamento. Em torno dele, surgiram casebres, bares, restaurantes, cabarés, pequenas mercearias, oficinas mecânicas e outros estabelecimentos que deram origem a um vilarejo perdido na Amazônia.
O nome Peixoto de Azevedo foi dado ao rio que banha a cidade em homenagem ao coronel da Polícia Militar Antônio Peixoto de Azevedo citado no capítulo sobre a região. Com o surgimento da vila, inicialmente sem nome, quem se referia a ela, dizia “lá na vila do Peixoto de Azevedo”. Daí, a denominação do município.
PS – Capítulo do livro NORTÃO BR-163: 46 ANOS DEPOIS publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais.