Política e futebol

Meus amigos, meus inimigos: o grande problema da política partidária e da gestão governamental é que continuam sendo atividades que motivam e interessam a uma parcela pequena da sociedade.
Olhem para os nossos jovens. As redes sociais demonstram que o que mais motiva esses jovens são as aventuras pessoais, os programas da turminha, o tão ansiado gozo cotidiano da vida. Parece que eles não percebem que, nessa vida, está tudo interligado.

As pesquisas falam da dianteira de Lula e do Bolsonaro na disputa pela presidência da República em 2018. Fica parecendo que toda a nossa gente tá ligada nos rumos do País. Mas não é nada disso. Geralmente as pesquisas levantam a opinião, de forma meio forçada, de uns 2 ou 3 mil sujeitos. E mais do que nomes o que as pesquisas revelam é que o desinteresse pela política é crescente, o que muito me espanta.

Já pensou se o brasileiro prestasse tanta atenção na política como presta no futebol? Seria muito bom, pois toda vez que paro para reparar nas pessoas, nas mais diversas classes sociais, as vejo conversando sobre caminhos e descaminhos do Flamengo, do Corinthians, do Grêmio porto-alegrense.

As pessoas atentam, infelizmente, muito mais para os dribles do Neymar do que para as movimentações dos vereadores Marcelo Bussiki e Mário Nadaf, dentro da Câmara Municipal de Cuiabá. O interesse pela política é difuso, por isso, talvez, os aperfeiçoamentos neste campo aconteçam de forma tão arrastada.

E olha que a gente investe tanto dinheiro, através dos impostos, para sustentar os trabalhos dos vereadores, da Assembleia, e lá em Brasília. A expectativa é sempre que alguém se preocupe em reorientar os rumos, de forma que não tenhamos que nos inquietar tanto devido à violência nas ruas, ao caos da Saúde, à falta de vagas para nossos bebês nas creches públicas.

Sim, deveria haver vagas nas creches para todas as crianças mato-grossenses. Cuidar desses garotos e garotas que iniciam suas vidas é vital – tanto que, nas escolas particulares, a mensalidade no ensino maternal chega a custar incríveis 2 mil reais por mês.

Mas como atrair as pessoas para a política, se a rotina dos partidos e dos parlamentos, e dos governos, se mostra tão repetitiva, tão chata?

Depois de quase um ano do rombo nas contas do Fundeb, com 230 milhões possivelmente desviados pelo Governo do Estado, é que o assunto agora está sendo tratado nas tribunas, no TCE, no MP. É tudo muito lerdo, muito confuso, muito corrompido.

Daí que a beleza de uma “caneta” do Neymar nos encanta instantaneamente – e a gente bem que gostaria que a vida fosse tão ágil e tão surpreendente como um jogo de futebol. Só que não.

 

Enock Cavalcanti, jornalista e blogueiro, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá