Enquanto prefeitos correm em direção ao projeto CASAMT, que somente neste ano investe R$ 340 milhões na construção de três mil moradias em 25 municípios gerando cerca de 8,5 mil empregos diretos e indiretos, o prefeito de Água Boa, Mauro Rosa, o Maurão (PSD), se afasta desse programa de cunho social. O distanciamento é prejudicial ao município, e em especial aos que sonham com a casa própria. Essa opção de Maurão abre uma larga avenida para o empresário e candidato a prefeito Maurício Tonhá (DEM) vender terrenos em loteamentos no entorno da cidade.
Em março o governador Mauro Mendes lançou a primeira etapa do CASA MT, que é uma parceria entre o Estado, prefeituras e Caixa Econômica Federal, para construção de moradias mais confortáveis e baratas financiadas a longo prazo. Essa proposta habitacional mobiliza prefeitos de todas as regiões, sem se prender a interesses de grupos políticos controlados por empresários, como parece ser o caso em Água Boa.
Para participar o município tem que aderir ao programa e assumir o compromisso de doar os lotes para a construção das casas. Maurão não permitiu que a prefeitura aderisse, pois se o fizesse a atividade imobiliária de Maurício Tonhá seria prejudicada, uma vez que perderia os mutuários em potencial do CASA MT.
Para Nova Marilândia, que tem 3.303 habitantes, a parceria da prefeitura com o governo e a Caixa resultará na construção de 200 unidades residenciais. Estimando-se que em média as famílias são formadas pelo casal e dois filhos, 800 moradores serão contemplados. Isso significa basicamente um quarto da população. Ou seja, o CASA MT zera o déficit habitacional local. Um detalhe interessante: o presidente do CASA MT, Wener Santos, foi prefeito de Nova Marilândia e não se reelegeu em 2016, mas tanto ele quanto o prefeito Juvenal Alexandre da Silva deixaram de lado as questões políticas e colocaram o cidadão de Nova Marilândia em primeiro plano. Em Água Boa não foi assim.
Em suma: Água Boa perde o CASAMT, o programa que vai modernizar o sistema habitacional mato-grossense. Enquanto isso, estão à venda lotes no loteamento Araguaia Park, com 900 unidades; Araguaia Park Olímpico, em duas etapas sendo a primeira com 200 lotes; e casas no condomínio Jardim Di Napoli – todos esses empreendimentos de Maurício Tonhá ou dele em sociedade.
Com essa decisão, Maurão, no apagar das luzes de seu duplo mandato de oito anos, prejudica o setor habitacional de Água Boa, município que teve crescimento populacional de 77,71% entre 2000 e 2020, período em que saltou de 14.745 para 26.204 habitantes, segundo o IBGE. Com a expansão da fronteira agrícola, o fortalecimento do comércio e prestação de serviços locais, e a aguardada construção da ferrovia FICO ligando a cidade a Mara Rosa (GO), Água Boa dará um salto populacional. À demanda habitacional reprimida se juntarão os novos moradores, que serão atraídos pelo previsível boom com o apito do trem.
Maurão na prefeitura substituiu Maurício Tonhá, que também administrou por oito anos. A soma dos mandatos deles resulta em 16 anos, período em que os dois não puderam, não quiseram ou não souberam criar infraestrutura habitacional. Agora, às vésperas de transferir o município ao seu sucessor, que toma posse em janeiro de 2021, Maurão desperdiça a oportunidade de contribuir para a realização do sonho da casa própria de muitos moradores que pagam aluguel, compartilham residências ou vivem em sub-habitações.
Eduardo Gomes é jornalista em Cuiabá
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTOS:
1 e 3 – blogdoeduardogomes
2 – Mayke Toscano – Site público do Governo de Mato Grosso
Revisado em 27 de outubro sw 2020