Prefeitura e o poder de mão em mão

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

Cláudio (dir.) e Altemar

Em Rondonópolis prefeitos foram eleitos pelo voto direto, um por votação indireta pela Câmara e vice-prefeitos assumiram o poder. Antes da primeira eleição para o cargo, no município, o comerciante Rosalvo Fernandes Farias foi nomeado prefeito constitucionalmente. Rosalvo é focalizado no Editorial.

Em outubro deste ano o deputado estadual, paisagista e biólogo Cláudio Ferreira de Souza(PL) elegeu-se prefeito de Rondonópolis. Seu vice e correligionário é o médico neurocirurgião e pastor da Igreja Visão Profética, o paranaense de Paranavaí, Altemar Lopes da Silva, de 55 anos.

A chapa de Claudio recebeu 56.356 votos (45,74%) seguida pelo deputado estadual Thiago Silva (MDB), com 40.831 votos (33,14%) e pelo geógrafo e servidor público municipal Paulo José (PSB), com 26.027 votos (21,12%).

Cláudio será o primeiro prefeito nascido em Rondonópolis e eleito pelo voto direto.

A data de 10 de dezembro, reverenciada no blog por artigos, vídeos, editorial, reportagens temáticas e especiais, é muito importante para Rondonópolis, cuja história institucional no âmbito da prefeitura é detalhada nesta matéria.

A primeira vez em que a data ganhou destaque foi em 1924, quando a Estação Telegráfica local entrou em operação, tendo por seu primeiro chefe Benjamim Rondon; e depois, em 1953, quando da emancipação política.

Em 13 de maio de 1976 o distrito de Pedra Preta emancipou-se de Rondonópolis por uma lei de autoria do deputado Afro Stefanini e sancionada pelo governador Garcia Neto.

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No polo de Rondonópolis, Pedra Preta foi o último município emancipado na área remanescente de Mato Grosso, antes da divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul em 11 de outubro de 1977.

A cidade de São José do Povo e parte daquele município pertenciam a Rondonópolis. A emancipação aconteceu em 4 de julho de 1989, por uma lei de autoria das bancadas do PMDB, PDS e PFL, com sanção pelo governador Carlos Bezerra

A base territorial de São José do Povo é também formada por áreas que pertenciam a Guiratinga e Pedra Preta.

SUCESSÃO – Em 31 de janeiro de 1955 Rosalvo transmitiu a prefeitura ao prefeito eleito e comerciante Daniel Martins de Moura.

Daniel Moura recebeu várias homenagens de Rondonópolis e, dentre elas, empresta seu nome a uma escola estadual em Vila Operária – uma das maiores de Mato Grosso.

A Câmara Municipal criou a Medalha Daniel Martins de Moura, concedida anualmente a maior de 30 anos que tenha prestado relevantes serviços ao município, ao país ou a humanidade. A entrega ocorre em abril e apenas um vereador, por sorteio, poderá indicar o homenageado.

Daniel Moura não está mais entre nós.

Daniel Moura foi sucedido pelo engenheiro civil Luthero Lopes em 31 de janeiro de 1959.

Luthero Lopes renunciou em meio a uma crise política e o vice-prefeito e comerciante Lauro Mendes o sucedeu, mas Lauro também caiu e o presidente da Câmara Municipal e pecuarista Antônio Joaquim Alves, o Antônio Abóbora, concluiu o mandato.

O segundo maior estádio de futebol mato-grossense é o Engenheiro Luthero Lopes, em Rondonópolis, que com seu nome homenageia o ex-prefeito que o idealizou e o entregou à população, na avenida dos Bandeirantes, sendo que mais tarde o mesmo foi permutado com o Atacadão, que construiu o novo Luthero Lopes .

Luthero Lopes, Lauro Mendes e Antônio Abóbora não estão mais entre nós.

Em 2 de fevereiro de 1963 Antônio Abóbora transmitiu a prefeitura ao engenheiro civil Sátiro Pohl Moreira de Castilho.

Castilho foi professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) no campus de Cuiabá.

Também na capital Castilho presidiu o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

Na prefeitura Castilho construiu a rede pluvial do quadrilátero central. Transcorridos 60 anos daquela obra a mesma permanece recebendo as águas das chuvas, e nunca exigiu reparos.

Castilho não está mais entre nós.

Em 31 de janeiro de 1967 o cartorário e pecuarista Hélio Cavalcante Garcia sucedeu Castilho.

Hélio Cavalcante adotava como slogan de sua administração a frase “Estamos trabalhando” escrita com letras pretas sobre um fundo branco nas tampas traseiras móveis das caçambas dos caminhões basculantes da prefeitura.

Hélio Garcia era natural de Cáceres e morreu aos 89 anos, no dia 11 de novembro de 2021, em um hospital na capital paulista.

Em 30 de janeiro de 1969 o engenheiro civil, servidor público e pecuarista Zanete Ferreira Cardinal foi empossado prefeito.

Em 1970, quando começou o grande fluxo migratório para Rondonópolis, Zanete era o prefeito.

Essa migração foi motivada pela política oficial do governo federal sob os bordões “Integrar para não Entregar” e “Terra sem Homens para Homens sem Terra“, e pela busca natural por espaço para a agricultura e pecuária por parte de moradores nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

A luta por cursos universitários em Rondonópolis começou em 1970, quando Zanete era prefeito do município.

O movimento foi liderado pelo bispo diocesano Dom Osório Williberto Stoffel.

Dom Osório não está mais entre nós.

Zanete foi deputado estadual, suplente do então senador Júlio Campos e reside em Rondonópolis.

Em 31 de janeiro de 1972 o farmacêutico e empresário Cândido Borges Leal Júnior, o Candinho, tomou posse.

Em 24 de janeiro de 1975 Candinho anunciou a conquista do ensino superior, por uma lei de 2 de dezembro de 1974 que criou o Campus Pedagógico de Rondonópolis (CPR) vinculado e enquanto extensão do campus da Universidade do Estado de Mato Grosso em Corumbá/UEMT (agora Mato Grosso do Sul).

Candinho ganhou espaço na imprensa nacional porque cobrava uma taxa para conceder audiência no gabinete da prefeitura, então instalada na avenida dos Bandeirantes, próxima ao antigo Estádio Luthero Lopes.

Em 31 de janeiro de 1977 Candinho transmitiu a faixa de prefeito ao advogado Walter de Souza Ulysséa, que administrou até 31 de janeiro de 1983.

Candinho não está mais entre nós.

Walter era prefeito em 9 de janeiro de 1980, quando o CPR desvinculou-se a UEMT e passou a integrar à UFMT, como parte da divisão dos próprios de um e outro Estado ao seu legítimo titular, como consequência da divisão territorial que criou Mato Grosso do Sul em 1977.

Em 1982, também no período da administração de Walter Ulysséa, o CPR ganhou sede própria numa área doada pelos empresários Áureo Cândido Costa e William Cândido Moraes, inicialmente de 50 hectares e posteriormente ampliada para 60 hectares.

Walter não está mais entre nós. William Moraes, também não.

Eleito em 1982, o advogado, empresário e deputado federal Carlos Gomes Bezerra tomou posse em 1º de fevereiro de 1983.

Bezerra desincompatibilizou-se do cargo na prefeitura em 14 de maio de 1986 para disputar e vencer a eleição ao governo e foi sucedido pelo vice-prefeito e médico Fausto de Souza Faria.

Fausto Faria permaneceu no cargo de prefeito até 31 de dezembro de 1988, quando seu mandato foi concluído.

O período da administração de Fausto Faria foi caracterizado por intensa movimentação política, por conta de candidatura de Bezerra ao governo, mas ao término do mandato seu partido, o PMDB, estava desgastado perante a opinião pública e não conseguiu eleger seu sucessor, o à época deputado federal constituinte Percival Muniz.

Após o mandato Fausto Faria foi secretário de Estado.

Aos 77 anos, Fausto Faria morreu em Porto Alegre (RS) no dia 5 de maio de 2012, vítima da covid. O ex-prefeito residia na capital gaúcha.

Em 1º de janeiro de 1989 o radialista, agente fiscal da Secretaria de Estado de Fazenda e posteriormente deputado estadual e aposentado enquanto deputado estadual pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP) Hermínio Barreto sucedeu Fausto Faria.

Barreto cumpriu mandato até 31 de dezembro de 1992. Antes de ser prefeito foi vereador e deputado estadual constituinte; depois exerceu mandatos de deputado estadual e foi suplente de deputado federal.

Aos 69 anos, Barreto morreu em 9 de maio de 2018, vítima de um acidente rodoviário no Km 278 da BR-364/163, no município de Jaciara. Alton Pereira, o Ita, cunhado e motorista de Barreto, também morreu no acidente.

Barreto viajava de Cuiabá para Rondonópolis, onde residia. Uma carreta desgovernada atingiu 11 veículos, inclusive o dele. A rodovia é duplicada, mas no local do acidente não há duplicação, e essa obra, transcorridos seis anos, permanece desafiando o Dnit.

Carlos Bezerra novamente foi eleito prefeito. Dessa vez tomou posse em 1º de janeiro de 1993, sucedendo Barreto e administrou até 29 de março de 1994, quando deixou o cargo para disputar e vencer a eleição ao Senado Federal.

Com a desincompatibilização de Bezerra, o vice-prefeito José Rogério Salles assumiu o cargo.

José Rogério Salles é empresário, contador, economista e administrou até 31 de dezembro de 1996.

Em 1998 Rogério elegeu-se vice-governador pelo PSDB na chapa do seu correligionário Dante de Oliveira, que em 2002 deixou o cargo para concorrer ao Senado, sem sucesso. Rogério o sucedeu, concluiu o mandato e transmitiu o Palácio Paiaguás ao à época rondonopolitano Blairo Maggi.

O médico, empresário e pecuarista Alberto Carvalho de Souza assumiu a prefeitura em 1º de janeiro de 1997 e renunciou em 20 de dezembro de 1998, para não ser julgado pela Câmara Municipal por suposto crime de corrupção no escândalo da Semanada – recebimento de propina semanalmente para garantir à empresa Transportes Coletivos Rondonópolis (TCR) o monopólio do transporte coletivo.

Uma gravação de áudio feita por alguém nunca identificado, mas que teria agido a mando do vice-prefeito Percival dos Santos Muniz – como se comentava à época – levou Alberto a um diálogo com um homem, que o prefeito imaginava que fosse o dono da TCR, e os dois trataram de pagamento e recebimento de propina semanal para garantir o monopólio do transporte coletivo para a TCR.

Alberto foi substituído pelo vice-prefeito Percival dos Santos Muniz, que concluiu o mandato e se elegeu ao cargo em 2000 ficando na administração até 31 de dezembro de 2004.

Percival assumiu a prefeitura em meio a uma grande crise política e buscou apoio suprapartidário. Um dos fiadores da administração foi o à época deputado federal Wellington Fagundes, em troca de apoio de Percival para sua candidatura a prefeito em 2000.

Percival assegurou a Wellington que o apoiaria, mas não faz: ao contrário, disputou a eleição e venceu Wellington nas urnas.

Em 1º de janeiro de 2005 o arquiteto, empresário e agricultor Adilton Domingos Sachetti assumiu a prefeitura e cumpriu mandato até 31 de dezembro de 2008.

Adilton chegou ao poder com apoio de seu compadre, vizinho em Rondonópolis e governador Blairo Maggi.

Em 2008, mesmo com Blairo reeleito governante, Adilton tentou novo mandato, mas foi derrotado. Segundo se comenta dos bastidores, a queda de Adilton seria a razão para que a sede do grupo Amaggi, da família de Blairo, transferisse sua sede de Rondonópolis para Cuiabá.

Após a prefeitura Adilton foi secretário de Estado e deputado federal.

O professor  universitário, matemático  e engenheiro civil José Carlos Junqueira de Araújo, o Zé do Pátio, tomou posse em 1º de janeiro de 2009 e foi cassado por crime eleitoral em decisão unânime pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), juntamente com a vice-prefeita Marília Salles.

A cassação foi por crime eleitoral praticado no dia da eleição – distribuição de camisetas temáticas da campanha além do número autorizado pela Justiça Eleitoral.

Marília Salles foi a primeira vice-prefeita de Rondonópolis.

Em 15 de maio de 2012 o presidente da Câmara e advogado Ananias Martins de Souza Filho assumiu a administração até a realização de eleição indireta ao cargo.

Em 13 de junho do mesmo ano Ananias foi eleito prefeito pela Câmara Municipal recebendo 9 votos num pleito que também foi disputado pelo vereador Mohamed Zaher, que recebeu 3 votos, e o ex-vereador José Ferreira Lemos Neto, o Juca Lemos, que não foi votado por nenhum vereador.

Ananias foi eleito juntamente com sua vice-prefeita Valéria Bevilácqua de Carvalho, na única eleição indireta para prefeito em Rondonópolis.

Valéria Bevilácua foi a segunda-vice prefeita do município.

Na eleição de 2012 o ex-prefeito Percival  dos Santos Muniz  elegeu-se e em 2013 reassumiu a prefeitura encabeçando uma chapa que tinha Rogério Salles como vice-prefeito.

Em 2016 Percival tentou a reeleição, sem sucesso. Seu vice-prefeito Rogério também concorreu ao cargo e foi derrotado. A divisão de forças entre eles – que nos meios políticos é chamada de sublegenda burra – facilitou a eleição de Zé Carlos do Pátio,

Em 2016 Zé do Pátio novamente foi eleito prefeito e em 2020 reeleito. Em ambos os mandatos o prefeito não se entendeu com o vice-prefeito; no primeiro, o professor Ubaldo Tolentino de Barros, foi defenestrado; no atual, Aylon Arruda foi descartado administrativa e politicamente por Zé do Pátio.

Zé do Pátio transmitirá a prefeitura para Cláudio Ferreira em 1º de janeiro de 2025.

EM FAMÍLIA – Marília Salles é mulher de Rogério Salles.

Rogério Salles foi vice-prefeito em dois mandatos – e Marília uma vez.

Percival é casado com Ana Carla Muniz, filha do ex-prefeito Candinho e prima da ex-primeira-dama Teté Bezerra, casada com Bezerra, que por duas vezes foi prefeito do município.

Ananias é filho do ex-vereador Ananias Martins de Souza, que não mais está entre nós.

Valéria Bevilácqua é mulher do vereador Manoel da Silva Neto, o Dr. Manoel (União), que à época era vereador pelo PMDB.

RONDONOPOLITANOS – Entre os prefeitos e vice-prefeitos, além de Cláudio Ferreira,  Ananias e Ubaldo Barros nasceram em Rondonópolis.

As duas vice-prefeitas, Marília Salles e Valéria Bevilácqua, nasceram em Minas Gerais.

CASSAÇÃO – Zé do Pátio, o único prefeito cassado em Rondonópolis, não é caso isolado em sua família. Seu avô paterno, Melquíades Figueiredo Miranda, venceu a eleição para prefeito de Itiquira em 1962. Em 1963 Melquíades tomou posse e naquele mesmo ano foi cassado.

Quem substituiu Melchíades na prefeitura foi o vice-prefeito Anfilófio de Souza Campos, que cumpriu o restante do mandato até 1967

Em 2000, preparando uma reportagem para os 500 anos da descoberta do Brasil, ouvi Anfilófio em seu posto de combustível em Itiquira. Anfilófio disse que Mechíades foi cassado por um conjunto de crimes: improbidade administrativa, inadimplência junto a fornecedores da prefeitura e falta de repasse de recursos para a Câmara Municipal.

Melquíades e Anfilófio não estão mais entre nós.

Em Rondonópolis a prefeitura construiu no bairro Pedra 90 a Escola Municipal de Ensino Fundamental Melchíades Figueiredo Miranda.

Em Itiquira a prefeitura construiu a Escola Municipal de Educação Básica Anfilófio de Souza Campos.

HISTÓRICO – Sete prefeitos antes de exercerem esse cargo foram vereadores: Antônio Joaquim Alves (Antônio Abóbora), Walter Ulysséa, Hermínio Barreto, Alberto Carvalho, Percival Muniz, Zé Carlos do Pátio e Ananias.

O vice-prefeito de Walter Ulysséa, José Moraes Filho, o Beda, foi vereador.

Infografia:

Marco Antônio Raimundo 

Fotos:

1 – Divulgação campanha Cláudio para prefeito

2, 17 e 20 – Matusalém Teixeira

3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 14, 15 e 16 – Museu Rosa Bororo

13 e 18 – Dinalte Miranda

19 – Divulgação/PL

21 – Prefeitura de Rondonópolis

Comentários (1)
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  • Marcia Cesario

    Narrativa precisa e com franqueza para criticar. Parabéns Eduardo

    Marcia Cesário – Rondonópolis