Resposta ao prefeito de Água Boa

Não é confortável ao cidadão receber alerta de que será processado. Não é, por conta da legislação que permite a denúncia por mais infundada que seja, muito embora no curso da tramitação a Justiça restabeleça a verdade, que até ser alcançada deixa o processado em situação incômoda. Por um artigo que postei no dia 26 deste outubro, neste site, o prefeito de Água Boa, Mauro Rosa, o Maurão (PSD), via assessoria, alerta que se não houver de minha parte, urgente retratação do texto “a prefeitura tomará medidas administrativas e judiciais cabíveis”. Da forma mais respeitosa possível respondo ao prefeito.

Deus é tão generoso comigo, que em meio século de jornalismo não me vi obrigado a nenhum tipo de retratação, mas que a faria tantas e quantas vezes se fizessem necessário, por eventuais falhas ou desvios de conduta profissional, o que não se caracteriza no texto.

O mandatário se sentiu ofendido com o artigo “Prefeito de Água Boa recusa programa CASAMT; empresário de loteamentos agradece”. Mesmo sob a ameaça mantenho o conteúdo, em nome da minha postura sempre em defesa de Água Boa no campo jornalístico.

O programa cobrado ao prefeito foi lançado em março pelo governador Mauro Mendes, e investirá neste ano, R$ 340 milhões na construção de três mil moradias em 25 municípios gerando 8.500 empregos diretos e indiretos. Por ele, a prefeitura doa o terreno, o governo estadual injeta recursos para várias etapas da obra e oferece apoio logístico, o que reduz significativamente o valor do imóvel, que será financiado pela Caixa Econômica Federal – participante do programa.

Há oito anos no poder, Maurão se prepara para transferir a prefeitura ao sucessor. Seu histórico administrativo não pode ser mudado, mas precisa ser acrescentado com sua adesão ao programa, cujo prazo final para tanto é 10 de novembro. Diante da relevância do CASAMT e o silêncio do prefeito não restava outro caminho para cobrança jornalística senão um artigo contundente, o que aconteceu.

Água Boa à espera do trem

Creio que o silêncio de Maurão sobre o programa seja uma forma de defender interesses de seu amigo e aliado político Maurício Tonhá, que é dono de loteamentos no entorno da cidade e que disputa sua prefeitura pelo Democratas. Nesse caso a crença pode ser abstrata, mas tudo indica que ela tenha fundamentação, pois se assim não fosse, o prefeito teria aderido e faria dessa opção uma bandeira a mais em defesa da candidatura de Maurício Tonhá. Daí minha cobrança.

Minha mão sempre esteve estendida a todos, indistintamente. A ofereço ao prefeito. Proponho que ao invés de usar a caneta para assinar denúncia contra mim, que a utilize para aderir ao programa – Água Boa agradecerá. Caso Maurão aceite, independentemente de alerta sobre processo, o site blogdoeduardogomes abrirá manchete à adesão, não pelo ato em si, que é exigido pela razoabilidade, mas por Água Boa.

Fica meu compromisso. Adesão assinada, manchete assegurada. Não se mata o carteiro quando não se gosta do conteúdo da carta. Que o artigo sirva de alerta, pois a administração pública não está acima do bem e do mal, e cabe a Imprensa acompanhar seus atos e omissões.

Acrescento que ao escrever o artigo o fiz em defesa de Água Boa, que precisa se estruturar por várias razões e, dentre elas, a chegada do trem. Muito embora resida em Cuiabá, há longos anos sempre estive na trincheira pela Cidade Coração do Brasil. Bem antes da Internet, quando poucos moradores do município acompanhavam a Imprensa cuiabana, já mantinha intransigente posicionamento pela cidade de Norberto Schwantes, e nunca vacilei quanto a isso, mantendo-o até hoje.

Escrevi textos pela operacionalização da Hidrovia Mortes-Araguaia-Tocantins, que a Navbel , representada pelo Artêmio,tentava explorar em meados dos anos 1990 – buscando instalar estrutura portuária no Porto Rima –  e que tanto motivava o saudoso ex-prefeito Luiz Elias Abdalla.

Protestei na Imprensa quando da exclusão da ponte sobre o rio das Mortes, na MT-326, que seria construída pelo governo de Dante de Oliveira com recursos oriundos de um financiamento pelo Banco Intesa San Paolo, através do Programa de Perenização de Travessias. Mesmo estando em Cuiabá protestava contra a utilização dos recursos que seriam para a travessia do rio das Mortes, para bancar parte da construção da estaiada Ponte Sérgio Motta, que liga a capital a Várzea Grande.

Nunca economizei textos ao divulgar o potencial da pecuária da região, apresentada pela grande vitrine comercial que é o Megaleilão da Estância Bahia, de Maurício Tonhá.

Quando do lançamento da proposta de construção de hospitais estaduais regionais vesti a camisa de Água Boa, que sofria concorrência de Canarana. Fui apenas uma voz, mas não me calei e vejo com alegria o funcionamento do Hospital Paulo Alemão.

Quando a ameaça rondava a antiga Borecaia, que mais tarde seria distrito de Água Boa com o nome de Nova Nazaré, publiquei matérias, artigos e editoriais defendendo a inviolabilidade daquela área, que forças ambientais tentavam transformar em terra indígena, pela desespero de seu então prefeito, o saudoso José Queiroz.

Tive a felicidade de publicar uma página de jornal narrando o trabalhado abençoado da Irmã Vita, em Borecaia, que ela rebatizou por Nova Nazaré, então município de Água Boa.

Aplaudi o governador goiano Marconi Perillo em 1999, quando do início da ponte sobre o Araguaia, em Cocalinho. Acompanhei sua paralisação, a retomada da obra e sua inauguração pelos governadores Perillo e Pedro Taques, em 29 de julho de 2017, por entender que sua construção é uma grande conquista para a logística de Água Boa.

Estive presente em muitos momentos de Água Boa. Agora, a bandeira é a FICO. Esse projeto sempre esteve em meus textos. Cobri visita do ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos, há 14 anos, quando ele, acompanhado pelo travesso Juquinha da Valec, anunciou que um dia o trem apitaria no Coração do Brasil.

Acompanhei com desencanto a morosa obra da travessia urbana de Água Boa, que se arrastou por sete anos e que está sob investigação em razão de suspeita de superfaturamento e de má qualidade de alguns itens.

Se enumerasse todos os textos que produzi empunhando a bandeira de Água Boa esse artigo se tornaria cansativo. O faço por amostragem, pra que todos saibam que minha relação com a cidade é antiga e constante.

Evidentemente que cobrança se faz a quem administra ou legisla. Foi assim com Maurão. Seria com qualquer outro que exercesse o cargo de prefeito.

Espero a adesão de Água Boa ao programa. Mesmo ao apagar das luzes do prazo para  o sim ao CASAMT ainda sonho em escrever sobre isso. Que Maurão reflita sobre a cobrança e aja. Que não faça jogo de palavras em nome do calendário, que embora lhe permita dizer que ainda tem prazo para tanto, deixa bem claro que até agora o programa foi desqualificado por ele, conforme me revela fonte confiável no governo.

Que Água Boa se mobilize pela adesão, que não será somente do prefeito, mas da população e todas as autoridades – da vice-prefeita Rejane Garcia, da Câmara Municipal presidida pelo vereador Cesinha e do deputado estadual Dr. Eugênio que representa o município e o Vale do Araguaia na Assembleia.

Que venha o trem da FICO e que Água Boa esteja preparada para recebê-lo com moradias construídas pelo CASAMT. Que Maurão entre para a história enquanto prefeito que participou da criação de um programa de alcance social, ainda que tardiamente e sob forte pressão da Imprensa.

Que Deus me dê forças para levar adiante, na condição de coadjuvante, mais uma causa por essa cidade que para mim é ÁGUA MUITO BOA.

Eduardo Gomes  é jornalista em Cuiabá

eduardogomes.ega@gmail.com

 

Também postado em:

www.folhamax.com.br – Cuiabá

 

manchete
Comentários (11)
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  • Jacyara Cortez

    Gostei meu combativo Brigadeiro

    Jacyara Cortez

  • Walter de Fátima

    Irretocável resposta….

    Walter de Fátima

  • Interativa Água Boa

    O bom jornalismo se pauta pelo campo das ideias e argumentos. Quem não estiver satisfeito, pode buscar outros meios. Mas a imprensa tem o direito de divulgar.

    Interativa – Água Boa

  • Osmar de Carvalho

    Bela argumentação, amigo.

    Osmar de Carvalho

  • Joilson Palika Prates

    E acrescento, a sociedade precisa saber tbm sobre a recusa da adesão ao programa

    Joilson Palika Prates

  • Daniel Cunha

    Pela soma do resto
    La vai a pergunta?
    Porque temos problemas com Água Boa ??
    Qual a relevância financeira desse município?
    Veja os números do que recolhe em ICMS e o que recebe de FPM e cota ICMS

    Certos problemas administrativos são como filhos que nos dá trabalho
    Ocorre que não podemos vender os filhos.

    Daniel Cunha

  • Joilson Palika Prates

    Se for direta, tome as providências. Fundamente-se com o Wener uma matéria

    Joilson Palika Prates

  • Vicente Vuolo

    A minha opinião sobre a adesão ao programa de construção de casas em Água Boa é a seguinte: o jornalista Eduardo simplesmente retratou um fato importante porque está em jogo milhares de moradias para a comunidade carente. Ao invés de ameaçar o jornalista com processo, o prefeito deveria justificar o porque da não adesão. Ou, caso contrário, dizer que foi um equívoco a informação e que o Alcaide irá aderir ao programa. A democracia agradece !

    Vicente Vuolo

  • Antônio Wagner

    Em apoio vou replicar esse seu artigo e o que gerou o entrevero em todos os locais de mídia. Abs e minha solidariedade

    Antônio Wagner

  • Paulo Bonfim

    Choque de interesses, político e Social, com as atividades empresariais dos “amigos do rei”.

    Paulo Bonfim

  • Antoinne Saad

    Muito bom. Gostei.

    Antoinne Saad