Eduardo Gomes
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Uma das marcas do prefeito eleito Cláudio Ferreira (PL) é o largo e permanente sorriso. Porém, o transporte coletivo urbano poderá apagá-lo, tamanho é seu desafio. Mais que desafiador, o setor é um espinho na garganta do mandatário, e tem um histórico pouco recomendável politicamente. Afinal, o mesmo foi ingrediente para um estelionato eleitoral e derrubou um prefeito.
Na campanha, Cláudio se viu com um abacaxi nas mãos, assumiu compromisso em descascá-lo e o fez em nome de dois pilares: devolver a exploração das linhas de ônibus para a iniciativa privada e assegurar uma tarifa quase simbólica de 1 real.
Quem opera o setor é a Autarquia Municipal de Transporte Coletivo (AMTC) criada em julho 2022 pelo prefeito Zé Carlos do Pátio (PSB), quase na surdina e de forma parecida com ato monocrático, para substituir a empresa Cidade de Pedra, que durante algumas vezes jogou a toalha demonstrando que se sentia desconfortável operando o monopólio sobre pneus.
Sem conhecimento das entranhas do setor, Cláudio empenhou a palavra e pelo menos no tocante à tarifa, terá que baixá-la de 4,5 reais para 1 real, ao assumir a prefeitura. A privatização não será imediata, por conta da burocracia e dos ritos a que são submetidos os entes públicos.
A derrubada da tarifa enquanto a AMTC operar o setor não será reinvenção da roda. Porém, em caso de privatização, o compromisso de Cláudio fará a festa do empresariado. Ninguém pense que haja milagre para fazer uma frota em circulação com tarifa a 1 real. A diferença, obviamente sairá dos cofres da prefeitura.
Rondonópolis com 280 bairros e itinerários de ônibus pavimentados, tem 40 linhas operadas por 50 ônibus. O transporte diário de passageiros é mistério. Zé do Pátio conduz a prefeitura como se fosse um feudo do clã Araújo. Para saber com exatidão será preciso botar a frota em circulação por, no mínimo, um ano. Isso, por conta da sazonalidade: chove aumenta a movimentação das catracas; em dias de grandes eventos, também; mas há momentos de pouco embarque.
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O desempenho médio das catracas será a base para motivar interesse de empresários do setor; mas não somente ele: a relação do prefeito com a empresa concessionária tanto pode fortalecer seu funcionamento quanto impedir sua chegada ao município. Em 1998 o prefeito Alberto de Carvalho (PMDB) renunciou após ser gravado conversando com alguém que ele supunha ser o dono da concessionária TCR (Transportes Coletivos de Rondonópolis) e que na verdade era um indivíduo plantado para ouvi-lo em busca de fundamentação para sua degola, o que resultou no escândalo da semanada, do qual o vice-prefeito Percival Muniz (PDT) saiu prefeito e Alberto foi jogado na vala comum. Em suma: em caso de relação republicana não faltarão empresas interessadas; eventualmente com semanada, Rondonópolis caminhará em círculos.
CAUTELA – Rondonópolis vê com cautela o transporte coletivo, desde 1982, quando Carlos Bezerra (MDB) foi candidato a prefeito e prometeu construir um metrô de superfície ligando Vila Mariana ao Jardim Atlântico. Portanto, é importante eficiência e tarifa justa, mas sem exageros ao estilo Bezerra.
BOOM – Desde os anos 1970, empurrada pelo agronegócio, Rondonópolis atravessou todas as crises nacionais e internacionais sem perder o pique do crescimento e o tom do desenvolvimento. O município com 259 mil habitantes recebe diariamente uma população flutuante muito grande. O poder aquisitivo rondonopolitano supera a média mato-grossense, o que permite o transporte individual. Segundo o Detran, a frota local é de 216.898 veículos leves e pesados, incluindo as motocicletas. Para cada grupo de quatro moradores há uma moto.
Com tamanha frota é natural que o transporte coletivo encolha, mas caso o mesmo passe a ser oferecido com qualidade, poderá ganhar passageiros e reduzir a movimentação urbana nas ruas centrais sempre congestionadas e com o estacionamento sendo disputado quase a tapas.
Mototaxistas à espera por passageiro