Silêncio por Mato Grosso e gritos pela Venezuela

Eduardo Gomes 

@andradeeduardogomes

Fraude grotesca. Com esta frase María Corina Machado, líder da oposição venezuelana define o resultado apresentado pelo Conselho  Nacional Eleitoral (CNE) que reelege Nicolás Maduro Moros presidente com 51,2% dos votos. Há um clima de forte tensão entre os venezuelanos e nenhum desfecho para a crise instalada pode ser descartado. Enquanto isso, em Mato Grosso muitas vozes com ácidas críticas se levantam, mas será que o barulho de agora nas redes sociais tem sustentação nos atos dos mesmos no ontem bem recente?

Antes de questionar a isenção de mato-grossenses para o protesto é preciso falar sobre María Corina, trazendo-a figuradamente para o Brasil, uma vez que ela foi impedida de disputar a eleição e teve que indicar o diplomata Edmundo González Urrutia para substituí-la.

Os venezuelanos votaram no diplomata como se o voto fosse para María Corina. É uma grande liderança sul-americana e como tal tem que ser respeitada.

No Brasil aconteceu um fato análogo ao pleito de agora na Venezuela. Juscelino Kubitschek seria candidato a presidente em 1965, mas os militares criaram o Colégio Eleitoral, porém mantendo eleição para os governos estaduais. Sem alternativa, JK entrou em cena para disputar o governo de Minas, mas foi cassado em 8 de junho de 1964. A oposição lançou dona Sarah Kubitschek, mulher de JK, para governadora. Conspirador, o general Golbery do Couto e Silva criou um mecanismo de exceção que estendia ao casal a cassação de um dos cônjuges. O MDB, de oposição ao regime, indicou Israel Pinheiro e ele venceu em 719 dos 721 municípios mineiros, perdendo apenas nas pequenas cidades de Alpercata e Jordânia. Minas pode questionar a rapinagem eleitoral no país vizinho.

Mato Grosso ocupa as redes sociais questionando as atas da eleição, que claramente foram fraudadas. Onde os que ora gritam se encontravam em 2010 quando do escândalo da fraude na ata da convenção estadual do PDT e seu aliados, da qual Pedro Taques, que recentemente havia deixado o Ministério Público Federal. saiu candidato ao Senado, com uma controversa suplência com José Medeiros (PPS) e Paulo Fiúza (PV)?

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Tanto aqui quanto na Venezuela aconteceram escândalos que interferiram na vida pública e que na amplitude do entendimento é uma forma de violação da vontade soberana do eleitor. Taques cumpriu quatro anos de mandato no Senado, sem que a Justiça Eleitoral sentenciasse com trânsito em julgado a famosa e alardeada fraude na ata de sua convenção, como denunciou Paulo Fiúza. Em 2014, Taques venceu a eleição para governador e seu primeiro suplente José Medeiros (PPS) concluiu o mandato.

A classe política foi omissa na questão da ata da convenção em Mato Grosso, em plena normalidade democrática e sem ameaça ditatorial como ocorre na Venezuela. A Imprensa, idem. Os movimentos sociais permaneceram calados e nas redes sociais o assunto ganhou desqualificação – tudo com as exceções de praxe.

Enquanto não aprendermos a enfrentar os nossos problemas não devemos nos meter com os casos em nosso entorno. Lamentável o que ocorre na Venezuela. Triste o episódio da ata em Mato Grosso.

Ouçam María Corina, que tem legitimidade para gritar. Que a mea culpa mato-grossense nos poupe da histeria verborrágica no segundo andar.