No próximo dia 14 Sinop completa 44 anos de fundação. Reverenciando aquela que é a maior cidade do Nortão, blogdoeduardogomes posta todos os dias, ao longo de uma semana, textos sobre Sinop e sua gente. Trata-se de material que extraído de alguns de meus livros.
Acompanhe a série que terá o indicativo SINOP 44 ANOS. Nela, o coloniziador Ênio Pipino, personagens, pioneiros, economia e o conjunto da história daquele município.
Plínio Callegaro (foto) é personagem do quarto capítulo da série
Plínio Callegaro, pioneiro que ajudou construir a cidade
Poeira. Sol. Calor. Mosquitos. Meio zonzo pela longa viagem Plínio Callegaro desceu do carro e pisou no solo de Sinop. Olhou para um cidadão que passava por perto, puxando prosa: “horário bom pra chegar; são 12 horas”. O estranho retrucou: “Negativo. Aqui em Mato Grosso são 11 horas”. O calendário marcava 9 de agosto de 1973. (Assim começou a relação do pioneiro Plínio Callegaro com Sinop e essa se manteve no melhor nível, de ambas as partes, até seu adeus em 28 de janeiro de 2010, portanto há dois anos).
Não restou dúvida. Plínio Callegaro sentiu que aquele lugar era bem diferente de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, onde nasceu, e de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, onde residiu. Essa diferença começava pelo fuso horário, era desafiadora e o motivou ainda mais à luta.
Plínio Callegaro bateu à porta do colonizador Ênio Pipino pedindo um terreno. O anfitrião sorriu quando escutou o plano do visitante em seu escritório. “Churrascaria? Montar churrascaria se aqui temos clientes, mas ainda não temos carne?”, questionou. Sem se curvar Plínio Calegaro insistiu. Ênio Pipino gostou de sua ousadia. “É de gente igual a você que precisamos”.
A conversa com Ênio Pipino foi a mais proveitosa possível. Plínio Callegaro deixou o escritório do colonizador com o documento de um terreno na Avenida dos Mognos – mais tarde Avenida Júlio Campos.
A construção foi rápida e a churrascaria tornou-se a sétima casa na vila perdida nos confins da Amazônia, na calha do rio Teles Pires, município de Chapada dos Guimarães. Freguesia nunca faltou. Todos os dias levas e levas de José, Ricardo, Renata, Ana, Agenor, Gabriel, Nicolas, Jeisa, Luiz, Victoria, Cláudia, Mara, Milena, Carlos, Carolina e dezenas de outros chegavam ao projeto de colonização de Ênio Pipino. Carne também nunca saiu do cardápio. O entusiasmado dono do estabelecimento mantinha pescador pra garantir peixe frito, grelhado e ensopado. O charque era presença constante nas mesas. Frango caipira e leitões criados no quintal diversificavam a oferta. Além disso, Plínio Callegaro comprava vacas em Nobres e Rosário Oeste e as carneava bem ao estilo gaúcho para saciar o apetite da população flutuante de Sinop e os operários que trabalhavam na construção das primeiras casas.
Em 14 de setembro de 1974 a churrascaria de Plínio Callegaro ficou pequena pra tanta gente. Sinop estava em festa naquela data: era a inauguração oficial da vila, por Pipino e pelo ministro do Interior, Rangel Reis, com direito a corte de fita.
Construções brotavam por todos os lados quando em 24 de julho de 1976 Sinop foi elevada à Distrito de Paz de Chapada dos Guimarães. A participação de Plínio Callegaro na luta pela criação do Distrito o fez respeitado politicamente e em 15 de novembro daquele ano elegeu-se vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), precursor do PMDB. Naquele pleito o Nortão conquistou quatro das 11 cadeiras à Câmara Municipal de Chapada dos Guimarães.
A luta pela emancipação do município era causa comum, compartilhada por todos, mas Plínio Callegaro destacou-se por seu empenho tanto junto ao governo quanto a Assembleia, além de seu relevante papel nas reuniões mensais da Câmara.
Em 17 de dezembro de 1979, portanto antes que Plínio Callegaro concluísse o mandato, o governador Frederico Campos sancionou a lei que emancipou Sinop de Chapada dos Guimarães.
Sinop reconhece a luta de seu pioneiro e ex-vereador por sua emancipação. Tanto assim, que o logradouro mais bonito e central da cidade recebeu o nome de Praça Plínio Callegaro.
Em 28 de janeiro de 2010, aos 67 anos, vítima de um infarto, Plínio Callegaro fechou os olhos para sempre, na cidade de São Miguel do Iguaçu, onde visitava parentes. Seu corpo está sepultado na cidade que ajudou a construir.
Texto do jornalista Eduardo Gomes na edição de setembro de 2010 a Revista MTAqui – com base num depoimento em fevereiro de 2006 em sua casa
FOTO: Biro Curado – em arquivo de 2006