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O Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, informou neste sábado (7/9) que o governo da Venezuela retirou a autorização para o Brasil custodiar a embaixada da Argentina no país.
O Brasil estava tomando conta das instalações argentinas em Caracas desde o início de agosto, quando o governo de Nicolás Maduro decidiu expulsar as equipes diplomáticas de pelo menos sete países – incluindo Argentina – após acusações de fraude nas eleições presidenciais.
De acordo com o Itamaraty, o Brasil já foi notificado sobre a decisão e informou à Venezuela que seguirá representando os interesses da Argentina em Caracas até que seja designado um substituto.
No início da tarde deste sábado, a Venezuela publicou uma nota informando que revogou a autorização concedida para que o Brasil represente os interesses da Argentina na Venezuela.
Em um trecho do comunicado à imprensa, a Venezuela diz que tomou a decisão porque tem provas de que o local seja usado por terroristas.
“A Venezuela é obrigada a tomar esta decisão motivada pelas provas disponíveis sobre a utilização das instalações dessa missão diplomática para o planejamento de atividades terroristas e tentativas de assassinato contra o Presidente Constitucional da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro Moros, e da vice-presidenta executiva, Deley Rodríguez Gómez, pelos fugitivos da justiça venezuelana que nela permanecem”.
Por fim, a Venezuela diz ainda que toma essa medida “de acordo e em total conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e a Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963”.
Horas depois, o Brasil emitiu um comunicado informando que está surpreso com a decisão “do governo venezuelano de que pretende revogar seu consentimento para o Brasil proteger os interesses da Argentina na Venezuela”.
O comunicado do Brasil informa que, “de acordo com disposto nas Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas e Relações Consulares, o Brasil continuará com a custódia e defesa dos interesses argentinos até que o governo argentino indique outro Estado aceitável ao governo venezuelano que exerça tais funções”.
O Brasil informou ainda que, nos termos das Convenções de Viena, “a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina, que atualmente abriga seis requerentes de asilo venezuelanos, bem como bens e arquivos”.
A situação marca mais um capítulo na escalada de tensões entre os governos de Brasil e Venezuela – e também entre Argentina e Venezuela.
Dentro da embaixada argentina, estão ao menos seis opositores a Maduro e assessores de María Corina Machado, a principal líder da oposição venezuelana.
Na sexta-feira (6/9), Pedro Urruchurtu, integrante da equipe de María Corina Machado que está asilado na embaixada, publicou vídeos nas redes sociais e disse que agentes do governo Maduro, “juntamente com oficiais encapuzados e armados, cercam e sitiam a Residência Argentina em Caracas, sob custódia e proteção do governo brasileiro”.
Neste sábado (7/9), outra das pessoas refugiadas no prédio, Magalli Meda, ex-chefe de campanha de Machado, publicou que o fornecimento de eletricidade está interrompido e que os acessos ao prédio estão restritos.
De acordo com fontes do Itamaraty, funcionários da diplomacia brasileira costumam passar pelo prédio da Argentina, mas não há informações sobre se estariam no local em meio à escalada de tensões. Quem cuida das necessidades básicas do prédio, diz a fonte, são funcionários venezuelanos contratados pela própria Argentina.
O cerco aconteceu logo após a decisão da Argentina, anunciada na sexta, de pedir ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que emita ordens de prisão contra Nicolás Maduro e outros integrantes do governo venezuelano.
O governo de Javier Milei foi um dos primeiros a acusar a eleição venezuelana de fraudulenta e a reconhecer uma vitória da oposição.
Na nota divulgada neste sábado, o Itamaraty ressaltou “nos termos das Convenções de Viena, a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina”.