Tributo ao iluminado Mário Marques

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes


Mário Marques tinha o que falta para a maioria (a grande maioria) dos jornalistas mato-grossenses t-e-x-t-o-. Isso, Mário Marques era preciso, objetivo e seu português impecável.

Com esse predicado Mário Marques militou por algumas décadas no jornalismo mato-grossense produzindo preciosidades. Felizes os que leram suas reportagens, artigos e análises.

Deus nos dá um ciclo terreno que tem por marco referencial os 70 anos. Alguns ultrapassam essa barreira, mas geralmente quando se consegue essa proeza os dias subsequentes são marcados pelo uso contínuo de medicamentos, convívio diário com dores e a inseparável companhia da fraqueza física. Mário Marques era forte e foi além da imaginária linha temporal que separa os planos físico e espiritual. Chegou aos 76 anos no último dia 5 de abril, mas tombou diante do implacável relógio biológico, que no seu caso se escondia por trás das sequelas do silencioso e traiçoeiro diabetes.

O ser humano Mário Marques não está mais no plano físico. Ficaram suas lições ministradas sem que ele sequer notasse que transmitia conhecimento e sabedoria com seu texto, e seu inconsciente sensitivismo que o levava a opinar e a extrair a essência do fato.

Humilde, despojado de vaidade, Mário Marques estava entre nós, mas sempre distante do estranho mundo do jornalismo dito moderno do virtualismo de agora, com as ressalvas de praxe. Esse mesmo mundo é arrogante e tem o nariz empinado, o que resultou no seu afastamento daquele jornalista que mal aguardou sua gestação de nove meses para começar a escrever nas terras avermelhadas de Dourados, em Mato Grosso do Sul, quando aquele estado ainda não havia sido criado.

Quais ensinamentos Mário Marques poderia repassar aos jovens jornalistas mato-grossenses? Sinceramente não saberia dizer, mas de uma coisa tenho certeza: aqueles que o ouvissem, prestassem atenção em sua fala, tivessem a humildade para um bate-papo aprofundado receberiam valiosos conhecimentos para o exercício profissional.

O saber jornalístico não se resume ao aprendizado acadêmico. É preciso abrir a janela e olhar além da linha do horizonte para se alcançar o arejamento profissional. Mário Marques era a figura ideal, talhada para transmitir o quê da questão. A arrogância e o nariz empinado não deixaram que as palavras de Mário Marques chegassem aos ouvidos de muitos que imaginam que fazem Comunicação.

A geração digital que lê pouco, que literalmente não conhece o chão onde pisa, que não preza pela exclusividade, que não opina, que treme diante dos donos do poder, que se imaga suplente de Deus – acreditando que o Senhor está enfermo e que em breve o sucederá – perdeu o bonde da história.

São poucas as figuras iluminadas e elas ofuscam as trevas da ignorância e em consequência disso, quase sempre são solitárias. Mário Marques passou pela Terra irradiando luz, a luz que falta em tantas cabeças que não souberam se deixar iluminar.

Em 1978 conheci Mário Marques. Tive a felicidade de conviver e de compartilhar Redação com ele. O jornalista que irradiava vitalidade no passado manteve seu pique produtivo, mesmo enfrentando um quadro permanente de problemas de saúde na terceira idade.

Seu adeus, em Cuiabá, na tarde da sexta-feira, 7 de junho, deixou um vazio nos meios jornalísticos, mas sua partida não significa que deixarei de ser seu leitor. Farei uma assinatura do Jornal de Deus, que desde ontem tem novo editor: Mário Marques de Almeida.

Comentários (9)
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  • Pedro Pereira Campos Filho

    Eduardo justa e merecida homenagem e para tanto, haveria de ser com esse belo texto.

    Pedro Pereira Campos Filho – juiz de direito aposentado – Rondonópolis – via Facebook

  • Celino Teodoro Melo

    Texto maravilhoso…Conheci Mário Marques na infância – foi inquilino de minha mãe em Roo – e já se percebia a sua inteligência e o dom p escrever…

    Celino Teodoro Melo – Tecnólogo – Rondonópolis – via Facebook

  • Roberto Barcelos

    Parabéns velho Brigadeiro! E que Deus acolha Mario Marques!

  • Israel Borges

    Velho guerreiro do PMDB. VAI A DEUS.

    Israel Borges – empresário – Rondonópolis – via Facebook

  • Baltazar Ulrich

    Meus parabéns. Como sempre cirúrgicas as tuas palavras. Foi uma pessoa memorável . Eu admirava os textos dele. Igual eu admiro os teus textos

    Baltazar Ulrich – advogado e empresário – Cuiabá – via Facebook

  • Cabral Osmar

    Grande figura grande amigo

  • Sérgio Cintra

    Evoé, Mário!!!

    Sérgio Cintra – professor – Cuiabá – via Facebook

  • Mando Nunes Pantaneiro

    Meus sentimentos à família força, grande amigo última vinda à Rondonópolis esteve no ateliê.

    Mando Nunes Pantaneiro – artista plástico – Rondonópolis – via Facebook

  • Antonio Pacheco

    Gostaria de ter escrito algo nessa linha sobre o Mario Marques. Não tive competência para tanto. Guardo entretanto o alento de ter sido um amigo, ainda que tardio. do Mário Marques. Estivemos lado a lado no seu último trabalho nos bastidores político na eleição passada, uma das campanhas eleitorais mais difíceis que já participei desde que me tornei jornalista político. Foram momentos de grande aprendizado e de carinhosa “mentoria” do Mário. Oportunidade em que ele, em um gesto de extrema confiança e que muito me honrou, me elegeu como seu confidente e compartilhou revelações sobre suas venturas e desventuras na profissão, na vida pessoal e também, claro, nos bastidores do poder político que ele exerceu, ajudou a conquistar ou construir ao longo da sua vida. Tínhamos projetado trabalharmos juntos em um projeto jornalístico que passava pela fusão dos nosso dois sites, o meu http://www.pautaextra.com.br e o http://www.paginaunica.com.br dele. Seria um portal de notícias progressista, focado em reportagens de fundo, artigos de opinião e análises. Infelizmente, seu estado de saúde só se agravou do final de 2022 em diante e fomos obrigados a adiar os planos, agora, configurado em um sonho não realizado e em um marco indicador de o quanto o Mário era um homem de ideias, visão, de coragem e, apesar da idade e das limitações da sua saúde, ainda determinado a criar, a realizar, a produzir, a inovar e correr riscos por seus ideais jornalísticos, políticos e humanos.

    Antônio Peres Pacheco – jornalista e escritor – Cuiabá – via Facebook