Tum-dum, tum-dum, tum-dum, tum-dum... A batida forte e cadMulticolorido e com máscaras improváveisenciada que se confunde com o rufar dos tambores em alguns ritos africanos é conhecida por todos na cidade e vizinhança. Ela se faz ouvir no carnaval. Seu som ecoa pelas ruas apinhadas de moradores locais e turistas. Todos querem ouvir e, principalmente ver os Caretas. Isso mesmo, os Caretas, o mais antigo grupo carnavalesco mato-grossense, que se ganhasse forma humana seria um respeitável e grisalho senhor da terceira idade.
Caretas é a síntese do carnaval de Guiratinga, a cidade que foi a Rainha do Diamante no Vale do Garças. É um bloco carnavalesco com o DNA da irreverência. Seus integrantes saem às ruas no carnaval trajando as roupas mais improváveis, críticas ou de figuras nascidas da imaginação. A vestimenta é simples: ou chita, ou pano de cores fortes ou ainda tecido brilhoso. O rosto e a cabeça – daí seu nome – são cobertos com máscaras artesanais criadas pelos foliões ou artistas locais – feitas e moldadas com papel, cera, plástico, tinta, cola e muita – muuuuuita – criatividade.
O bloco é a cara do brasileiro desafiado a superar dificuldades, romper barreiras. No final dos anos 1940 Guiratinga era uma praça onde corria muito dinheiro – essa opulência se arrastou até meados da década de 1990. O diamante movimentava sua economia. A cidade era uma das escalas de uma rota doméstica de voos que ligavam Cuiabá ao Centro-Sul. A compra da pedra mais desejada do mundo era feita em dinheiro. Havia uma elite garimpeira dominante, que não se misturava aos pobres, aos meia-praça. Assim, os ricos se esbaldavam nos clubes e em festas nas residências nobres, enquanto o povo não tinha onde nem como brincar. Daí surgiu a ideia de se criar Caretas, um bloco de mascarados, que percorresse ruas sem que seus participante fossem identificados.
Ano após ano Caretas se firmava e ganhava simpatia. Por volta de 1995 o diamante escafedeu-se e o cerco ambiental fechou-se. Muitas riquezas ruíram,mas o bloco, ao contrário do que acontecia no garimpo, se fortaleceu.
Hoje, Careta é referência do carnaval mato-grossense. De tanto sucesso surgiu o Caretinhas, formado pela criançada, que também saí às ruas, a exemplo dos pais, e acompanhados por eles. Todos, grandões e pequeninos usam o mesmo estilo de máscara e de roupas. É uma paixão em todas as faixas etárias.
O que aconteceu em Guiratinga, em outras circunstâncias e regiões marcou a relação social brasileira.
Na escravidão o negro não podia comer carne nobre de porco. A casa-grande lhe dava miúdos, orelhas, toucinho, pés e outras partes. Assim surgiu um dos pratos nacionais de dar água na boca:a feijoada.
Em Cuiabá os negros não podiam entrar na Igreja do Rosário. Eles, então, construíram em anexo a Capela São Benedito. Esse templo religioso foi construído por volta de 1730 e o IPHAN o tombou.
Do mesmo modo nasceram a capoeira, a roda de samba etc.
Tum-dum, tum-dum, tum-dum… Guiratinga com seus 15.045 habitantes repete com convicção: Somos todos Careta!
FOTOS:
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