Um tucano na China

Meus amigos, meus inimigos: Zé Pedro Taques – tucano que, para a surpresa de muitos, anda considerando a possibilidade de deixar o PSDB -, acabou indo pra China, em busca de investimentos para tocar pra frente esse Mato Grosso. Seria mais natural que Zé Pedro procurasse parceria nos Estados Unidos, a pátria do Trump, que é com quem se identifica o pensamento tucano no Brasil.

Mas o Trump e a sua gente, todos nós sabemos, até o Zé Pedro sabe, quer mesmo é que continuemos como uma república das bananas, produzindo alimentos in natura, sem competir com a grande nação do Norte, através do avanço de uma industrialização à brasileira.

Vejam só que engraçado: a esperança, mesmo para nossos tucanos privatistas, para escapar dos rigores da atual crise econômica, pode vir de uma China superestatizada, onde a opção pela centralização da economia nas mãos do Estado é que vai produzindo resultados fenomenais.

“Identificamos na China a possibilidade de grandes parcerias, já que possuímos interesses em comum”, afirmou o governador Zé Pedro Taques, na coletiva que concedeu em pleno feriadão de Finados. Ele e os seus secretários e os jornalistas trabalhando normalmente, enquanto todas as estruturas do Estado, do Judiciário e do Legislativo estavam desativadas, naqueles dias mortos, em nome da preguiça bem remunerada às custas dos cofres públicos.

Que interesses em comum podem existir entre os comunistas chineses e os tucanos de Mato Grosso que, nesse momento, falam em reduzir ainda mais a combalida estrutura do Estado, com a PEC do Teto dos Gastos? Na China, Mao comandou o Grande Salto Adiante. Será que inspirado no modelo chinês, Zé Pedro se arriscaria em um projeto tal e qual, abandonando a contrição imposta por Temer, a partir de Brasília? Será que passeando pela China, Zé Pedro Taques vai encontrar um tempo para finalmente ler o Livro Vermelho de Mao Tse Tung?

Lá da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 23), que acontece na Alemanha, virão 17 milhões de euros para premiar os esforços desenvolvidos em nosso Estado para conter o desmatamento e preservar nossas matas, nossos rios, nossas riquezas naturais. Também temos, neste caso, uma contradição. Afinal de contas, somos o Estado em que o agronegócio é quem dá as cartas na política e vive sempre tentando avançar para cima de territórios ainda intocados por suas lavouras, como as reservas indígenas.

As contradições marcam, enfim, o governo de Zé Pedro Taques. Um governo que se balança entre o agronegócio e os maoístas, entre os desmatadores e os preservacionistas, não como resultado de um planejamento de longo prazo mas, simplesmente, tentando sobreviver até o teste das urnas, em 2018.

 

Enock Cavalcanti, jornalista e blogueiro, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá