ANÁLISE – Procurador Mauro muda disputa ao Senado e abala caciques
Nunca duas cadeiras foram tão disputadas em Mato Grosso como agora. Um amontoado de nomes está de olho nas vagas ao Senado. Desde o domingo, 5, esse acirramento ainda é maior com a entrada em cena de Mauro César Lara de Barros, o Procurador Mauro (foto), do PSOL, que dá urticária a grandes caciques com a simples citação de seu nome. Com ele, o quadro toma nova configuração, que naturalmente deverá atingir em cheio as candidaturas de Jayme Campos (DEM), Adilton Sachetti (PRB), Carlos Fávaro (PSD) e Nilson Leitão PSDB). Parece que a partir de agora começa o período de atuação do chamado Robin Hood Eleitoral.
O Procurador Mauro é uma espécie de catapora, que aparece a cada quatro anos, mas cada vez mais forte e sem vacina contra ele. Mas, afinal, o que pode mudar com a participação desse cuiabano servidor público federal e estrela de Os Ciganos, o conjunto que arrasa ao ritmo do lambadão cuiabano?
Antes do Procurador Mauro, Jayme, Fávaro, Leitão e Adilton estavam em campo, tentando a melhor capilaridade possível para seus nomes nos municípios, mas todos, apostando em bom desempenho em suas bases domiciliares. Jayme sonhava em arrebentar no filé eleitoral em Várzea Grande, sua cidade, e Cuiabá; Adilton é político com muita densidade de votos em seu município, Rondonópolis; Leitão é o nome de Sinop ao Senado; e Fávaro lidera em Lucas do Rio Verde. Agora muda tudo. Muda, porque exatamente nas grandes cidades se verifica o maior desencanto com a classe política, o que inevitavelmente desaguará muitos votos para o homem do lambadão.
São duas as cadeiras em disputa. O Procurador não poderia abalar a briga por ambas. Isso em tese é fato, mas ele move de tal modo as peças do tabuleiro político, que poderá estender sua força sobre a cadeira que – também em tese – não seria a dele.
Possivelmente muito bem votado em Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop e Lucas do Rio Verde, o Procurador Mauro tomaria votos de primeira e segunda opção nessas que são as maiores cidades de Mato Grosso, atingindo em cheio Jayme, Adilton, Fávaro e Leitão. Essa mexida não afetaria duas candidaturas: a de Selma Rosane (PSL) e Maria Lúcia (PCdoB). Selma é a essência da direita e simboliza para alguns a moralização política, por sua atuação enquanto juíza em Cuiabá, onde mandou para cadeia alguns figurões do poder. Maria Lúcia é a única entre os que disputam o Senado, que tem uma fatia de votos fidelizados: o voto de esquerda, que sua coligação contempla bem com a participação do petista Professor Gilmar do Sintep em sua chapa.
Numa análise mais ampliada sobre as quatro maiores cidades, no topo da disputa é possível imaginar que o Procurador Mauro ou seria o primeiro ou o segundo voto. A esquerda votaria em Maria Lúcia e nele. A direita em Selma e nele. Nem o grupo de Selma nem o de Maria Lúcia trocariam votos, tanto pelo perfil de ambos quanto pela necessidade de sobrevivência.
A briga entre Maria Lúcia e Selma tem desfecho imprevisível. A primeira arrasta uma fatia universitária e da Educação, a militância petista e seu pequeno partido comunista, além de contar com simpatia em outras esferas. A ex-juíza é uma espécie de reedição do ‘voto honrado’ recebido por Valtenir Pereira em 2006 que o elegeu deputado federal pelo PSB, quando se apresentou enquanto defensor público moralizador – o que não se confirmou na Câmara; Selma conseguiu expressivo número de admiradores, mas ao longo da campanha deverá sofrer questionamentos pois suas sentenças não chegaram ao PSDB, nem mesmo na ação do desvio de recursos da Secretaria de Educação (Seduc) da qual o ex-titular tucano Permínio Pinto é réu confesso.
Para rotulagem ideológica o Procurador Mauro é PSOL, partido que anda na contramão da lógica democrática e está alguns passos à frente da esquerda. Seu desempenho nacional é pífio, mas em Mato Grosso seu principal – e único nome – é favorecido pelo desencanto do cidadão do povo com a classe política.
Nanicos
Disputa se faz entre todos. No contexto das candidaturas ao Senado, o advogado, escritor, historiador presidente licenciado da Academia Mato-grossense de Letras e ex-vereador por Barra do Garças, Sebastião Carlos/Rede (foto), o criminalista Waldir Caldas (Novo) e Aladir Leite Albuquerque (PPL) travam uma guerra sem trégua pelo voto, por legendas pequenas, ausentes em alguns municípios e praticamente sem espaço no horário eleitoral gratuito e na imprensa.
Pode ser que a esse grupo se junte algum outro nome, pois o desfecho das convenções de pequenos partidos realizadas no domingo ainda não foi divulgado.
Caciques
Jayme, Fávaro, Adilton e Leitão formam o grupo do conservadorismo político. Jayme foi prefeito de Várzea Grande em três mandatos, governador e senador. Fávaro dirigiu entidade classista (Aprosoja), foi vice-governador e representa um naco do agronegócio que responde por boa parte do PIB mato-grossense, além de contar com apoio de alguns prefeitos. O deputado federal Adilton dirigiu entidades ruralistas, foi prefeito de Rondonópolis, secretário de Estado e presidente da defunta Agecopa que virou Secopa (Secretaria Especial da Copa do Mundo).Leitão foi vereador e duas vezes prefeito de Sinop, deputado estadual e presidiu a poderosa Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA); é deputado federal em segundo mandato e lidera a bancada do PSDB na Câmara.
Com tantos títulos políticos assim os quatro caciques deveriam brigar pelas duas cadeiras, com dois vencendo e os demais chegando perto do poder. Porém, com o desgaste da classe política, terão dificuldades, principalmente nos grandes centros. O que aconteceria com eles, observando-se minimamente a realidade eleitoral do agora?
Fávaro, Adilton e Leitão se neutralizam num canibalismo sem tamanho. Os três empunham a bandeira do agro e Leitão ainda carrega outra, a do enfrentamento com os povos indígenas. Fávaro não deixa por menos e – dizem – que seu cordão tem o desenho de um correntão daqueles que os tratores arrastam para derrubar o cerrado.
Com adversários fortes pelo potencial de voto resultante do cenário de agora, os três formam uma espécie de sublegenda burra, que cisca pra fora, mas nenhum dá sinal de recuar. Sublegenda foi um artifício criado por Golbery do Couto e Silva no tempo do regime militar, em que o bipartidarismo permitia o lançamento de três nomes aos cargos majoritários, sendo eleito o mais votado do partido que alcançasse melhor desempenho nas urnas.
Jayme é o ontem. O eleitorado jovem não o conhece bem e ele não dá sinais de preocupação com isso. Ao invés de propostas parlamentar usa seus pronunciamentos para desancar o governador Pedro Taques (PSDB), que tenta a reeleição e do qual foi companheiro carne e unha até recentemente.
Os quatro caciques montaram equipes de marketing e de jornalismo imaginando um cenário, que agora muda por completo. Todos dependerão muito de seus assessores para construírem ou reconstruírem suas imagens os aproximando do eleitor e os apresentando na condição de conhecedores das demandas mato-grossenses. Em caso contrário, os três mosqueteiros de agora, que a exemplo de seus precursores na história são quatro, cairão de quatro. No caso específico de Jayme, para desespero do deputado federal democrata Fábio Garcia, que foi expurgado da tentativa de reeleição para compor sua suplência.
Os novos ventos misturam tempo e regiões no contexto histórico e o atrevido e surpreendente Robin Hood simbolizado pelo Procurador Mauro com seus amigos (Selma e Maria Lúcia) poderá derrotar o quarteto mosqueteiro D’Artagnan, Athos, Portos e Aramis simbolizado por Leitão, Fávaro, Jayme e Adilton.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS: Arquivo
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