Com 24 novos municípios, 13 de maio de 1986 é dia para sempre
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
Um dia para sempre. Assim é 13 de maio de 1986, a data em que Mato Grosso deu o grande salto para a ocupação de seu vazio demográfico, com a emancipação de 24 municípios em sua vastidão territorial e com critérios para contemplar as divisas estaduais e a fronteira com a Bolívia.
A decisão da subdivisão municipal foi do então governador Júlio Campos que sancionou as leis que criaram as cidades de Guarantã do Norte, Araguaiana, Sorriso, Primavera do Leste, Cocalinho, Marcelândia, Figueirópolis D’Oeste, Nova Olímpia, Indiavaí, Comodoro, Porto Esperidião, Reserva do Cabaçal, Novo São Joaquim, Paranaíta, Alto Taquari, Campinápolis, Vila Rica, Porto Alegre do Norte, Terra Nova do Norte, Itaúba, Vera, Nova Canaã do Norte, Novo Horizonte do Norte e Peixoto de Azevedo.
À época Mato Grosso tinha 1.436.219 habitantes em 55 municípios e o vazio demográfico ameaçava seu amanhã. Isso, porque as levas migratórias sulistas preferiam o Pará e o Norte de Goiás (atual Tocantins), enquanto os capixabas e mineiros em sua maioria mudavam-se para Rondônia. Era preciso criar infraestrutura para atrair a migração, mas somente as obras não seriam suficientes: era imperativo criar municípios. Com essa visão Júlio Campos transformou vilas em cidades. Para tanto contou com apoio das duas bancadas na Assembleia: o PDS governista e o PMDB de oposição.
A distribuição geográfica dos municípios facilitaria a ocupação do vazio demográfico e irradiaria para a criação de mais cidades.
Na fronteira com a Bolívia, que tem 983 km de extensão, com 730 km em solo firme, o governador criou Comodoro e Porto Esperidião.
As divisas estaduais foram contempladas por Cocalinho, Comodoro (que além da fronteira faz divisa com Rondônia), Alto Taquari, Araguaiana, Vila Rica, Paranaita, Peixoto de Azevedo e Guarantã do Norte.
Nas diversas regiões, mas fora da fronteira e da divisa brotaram Sorriso, Primavera do Leste, Marcelândia, Nova Olímpia, Indiavaí, Reserva do Cabaçal, Figueirópolis D’Oeste, Novo São Joaquim, Campinápolis, Porto Alegre do Norte, Terra Nova do Norte, Itaúba, Vera, Nova Canaã do Norte e Novo Horizonte do Norte.
Mato Grosso tem 3.658.649 habitantes e soma da população dos 24 municípios criados em 1986 é de 453.594 residentes. Com os 24 novos municípios o Estado criou mais condições sociais para receber os migrantes que deixavam sua terra em busca do amanhã. Com o tempo as novas cidades deram vida a outros municípios, desmembrando-os de seus territórios.
Mesmo com a visão municipalista de Júlio Campos e após a criação de dezenas de outros municípios, ainda há claro populacionais e oito municípios têm áreas superiores a 20 mil km²: Colniza, Juara, Juína, Cáceres, Apiacás, Comodoro, Paranatinga e Aripuanã. Em São Félix do Araguaia, com 15.621 habitantes e 16.682 km², o grande desafio da prefeita Janailza Taveira é atender às demandas do distrito de Espigão do Leste, conhecido como Baianos, distante 220 km da sede de São Félix.
Em 1986 Mato Grosso precisava da redivisão territorial municipal defendida por Júlio Campos. Nos municípios que cederiam áreas para a criação de novas cidades, as lideranças políticas também apoiavam esse posicionamento. Para emancipar a vila de Sorriso, o governador conversou em seu gabinete com os prefeitos José Barbosa de Moura, o Dedé (Paranatinga), Luiz Gonzaga Nogueira Barbosa (Nobres) e Geraldino Dal Maso (Sinop). Os três avalizaram a emancipação de Sorriso. O diálogo foi mantido com todos os municípios.
Júlio Campos entende que não se pode falar em desenvolvimento e crescimento sem que haja cidade. “O município é o ponto de partida para a transformação social e econômica, e quando sancionei a lei criando 20 cidades havia ainda a concorrência de outros estados, que ofereciam certas condições aos que desejam mudar para as novas regiões. Corri contra o tempo para que Mato Grosso pudesse oferecer um município para que eles vivessem seu sonho”, sintetizou.
Municípios criados em 13 de maio de 1986
Sorriso (110.635 habitantes), à margem da BR-163, no Nortão, tem a sexta população mato-grossense; é o maior município agrícola do mundo. É polo agroindustrial com esmagamento de soja e descaroçamento de algodão; é centro universitário e sua base populacional é predominante sulista.
Alto Taquari (10.904) na tríplice divisa (MT/MS/GO) é polo agroindustrial e tem um terminal da ferrovia Rumo Logística, que liga Rondonópolis ao porto de Santos com terminais intermediários em Itiquira e Alto Araguaia.
Vila Rica (19.888) dividia ao meio pela BR-158, no Vale do Araguaia e na divisa com o Pará, com um dos maiores rebanhos bovinos mato-grossenses é estratégico ponto do corredor que escoa commodities agrícolas do Vale do Araguaia para os portos do Arco Norte no Pará e Maranhão.
Terra Nova do Norte (10.616), à margem da BR-163, no Nortão, tem uma grande bacia leiteira e produz lácteos que são vendidos Brasil afora. Terra Nova foi piloto em Mato Groso para a criação da colonização por agrovilas idealizadas pelo colonizador e pastor luterano Norberto Schwantes. Terra Nova do Norte e Peixoto de Azevedo cederam áreas para a criação de Nova Guarita.
Nova Olímpia (16.352), no Vale do Rio Cuiabá, é centro sucroalcooleiro e um dos pioneiros do Proálcool. O investidor Olacyr de Moraes instalou naquele município a maior usina de álcool do mundo.
Primavera do Leste (85.146), no polo de Rondonópolis, é um dos mais destacados municípios do estado, é um dos líderes na produção agrícola e na agroindústria. O cruzamento da BR-070 com a MT-130 na cidade lhe confere ganho logístico; a primeira liga Cuiabá a Brasília via Barra do Garças, e a outra faz a ligação de Rondonópolis com Paranatinga.
Cocalinho (6.220), à margem do rio Araguaia e na divisa com Goiás, além de polo pecuário e um dos mais belos roteiros turísticos do Brasil interior. Cocalinho e São Félix do Araguaia cederam áreas para a emancipação de Novo Santo Antônio à margem do rio das Mortes.
Campinápolis 915.347), no Vale do Araguaia, se destaca pela bacia leiteira. É o único município de Mato Grosso com maioria populacional indígena. A etnia Xavante.
Com 8.453 aldeados, os xavantes representam 55,08% dos 15.347 habitantes de Campinápolis
Porto Esperidião (10.204), à margem da BR-174, na fronteira e banhado pelo rio Jauru, tem um grande rebanho bovino e seu destaque cultural é a festa do curussé, originária dos Andes bolivianos.
Vera (12.800), no Nortão, é uma cidade moderna, sede de comarca, topografia plana e sua produção agrícola e a base de seu alicerce econômico. Vera foi o primeiro núcleo urbano construído no eixo da BR-163 quando de sua abertura pelo 9º Batalhão de Engenharia de Construção. Vera foi desmembrada para a criação de Feliz Natal.
Desde o ano passado o Grupo 3Tentos opera uma indústria de esmagamento de soja em Vera, gerando 500 empregos diretos, processando diariamente 2.660 toneladas de soja e produzindo mil m² de biodiesel. Em expansão, 3Tentos instala-se em Porto Alegre do Norte.
Porto Alegre do Norte (12.127), no Vale do Araguaia e banhado pelo rio Tapirapé, registra grande crescimento de produção agrícola, recebe investidores e oferece boa qualidade de vida à população. Porto Alegre do Norte, São Félix do Araguaia e Luciara foram fracionados para a emancipação de Canabrava do Norte.
Com investimento de 1 bilhão de reais o grupo 3Tentos construirá uma indústria de etanol de milho, prevista para operar a partir de 2026. Terá capacidade diária de processamento de 2.100 toneladas do cereal devendo produzir 37 toneladas de óleo, 935 m³ de etanol e 587 toneladas de DDG gerando cerca de 500 empregos; a fase de construção deverá gerar três mil postos de trabalho.
Comodoro (18.238), na fronteira e na divisa com Rondônia, é o ponto de convergência das rodovias federais 174 e 364, que rumo Norte ligam Mato Grosso a Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima, e em sentido inverso, a São Paulo. O município tem grandes jazidas minerais ainda inexploradas.
Peixoto de Azevedo (32.714), à margem da BR-163, divisa com o Pará, no Nortão, foi a principal praça garimpeiro no ciclo do ouro em Mato Grosso, que ocorreu de 1976 a 1994. A atividade mineral prossegue, porém observando as regras ambientais. A atividade agropecuária é expressiva. O lendário cacique Raoni Metuktire, principal liderança indígena nacional, é aldeado na Terra Indígena Capoto/Jarina.
Marcelândia (11.396), no Nortão, foi atingida pelo maior incêndio urbano em Mato Grosso. Em 2010 o fogo arrasou 116 residências, indústrias madeireiras, veículos e maquinário. Houve redução populacional, mas o município se recuperou. A lavoura da soja chegou e Marcelândia divide espaço entre o cultivo e as invernadas.
Indiavaí (2.213) na faixa de fronteira e no polo de Cáceres é um dos pequenos municípios da região, mas registra crescimento com a instalação de uma usina sucroalcooleira, que gera emprego e renda.
Guarantã do Norte (31.024), à margem da BR-163 e na divisa com o Pará, é um centro distribuidor atacadista para municípios e vilas paraenses às margens e no eixo da BR-163 até Itaituba, município onde opera um porto no rio Tapajós, que escoa commodities agrícolas mato-grossenses.
Reserva do Cabaçal (2.122), na faixa de fronteira, é próxima a Indiavaí e tem exuberantes rodeiros turísticos ancorados pelo rio Cabaçal que lhe empresta o nome.
Novo São Joaquim (6.919), no Vale do Araguaia, tem a economia calcada na pecuária extensiva.
Itaúba (5.020) à margem da BR-163, no Nortão, recebeu o nome de uma das árvores que eram comuns na região, a Itaúba. Sua economia é agropecuária e a extração de castanha-do-brasil gera renda na cidade, com sua venda nas barracas à margem da BR-163, onde também são vendidos outros produtos do extrativismo e de artesanato.
Parte do município de Nova Santa Helena foi desmembrada de Itaúba, e parte, de Cláudia.
Nova Canaã do Norte (11.707), no Nortão, é um dos principais polos da pecuária estadual.
Além de um grande rebanho o município tem uma planta frigorífica que abate bovinos e uma indústria de laticínio que envasa leite e produz lácteos para o mercado doméstico mato-grossense.
Novo Horizonte do Norte (33.349), no Nortão, dista 27 km de Juara que é polo regional. Sua economia é pecuária.
Figueirópolis D’Oeste (3.187) no polo de Cáceres e na faixa de fronteira tem a economia calcada na pecuária leiteira.
Araguaiana (3.795) no Vale do Araguaia teve sua autonomia administrativa devolvida por Júlio Campos. Em 1948 Barra do Garças era distrito de Araguaiana, mas o prefeito Antônio Paulo da Costa Bilego transferiu a sede do município para o distrito. Sem prejuízo ao novo município, o governador recriou o antigo.
Paranaíta foi fundado pelo colonizador Ariosto da Riva, que planejava transformá-lo num polo da cafeicultura. O ciclo do ouro fez de Paranaíta um imenso garimpo. Aos poucos a pecuária ocupou lugar de destaque na economia. Mais recentemente a construção da UHE Teles Pires, no rio do mesmo nome, na divisa de Mato Grosso e Pará mudou o perfil econômico da região.
Com cinco turbinas essa UHE gera 1.820 MW, energia suficiente para a demanda residencial de 5 milhões de consumidores; é a maior de Mato Grosso. Seu reservatório tem 95 km² e o rio sofre represamento em 70 quilômetros. A altura máxima é de 80 metros com queda bruta de 59 metros e extensão de 1.650 metros. O raio direto tem 84% em Paranaíta e 16% no município de Jacareacanga (PA)..
A usina, que é a maior de Mato Grosso, dista 85 quilômetros de Paranaíta e recebeu financiamento de R$ 5 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Estima-se que cinco mil operários e técnicos trabalharam em sua construção.
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