De dar as mãos
Mato Grosso diz a uma só voz – repetindo o coro nacional – que sua representação política precisa mudar, que é necessário renovar, que é imprescindível o afastamento dos corruptos e fichas sujas do processo eleitoral. Esse é o barulho com destinação coletiva. Quando se trata de dar nomes aos bois, tudo que se ouve é o silêncio sepulcral (com uma ou outra exceção). Como mudar o status quo diante de tanta subserviência? De tamanha conivência consciente ou não? De velhaco comodismo? Tal mudança exige nova postura tanto do internauta/leitor/ouvinte/telespectador e do jornalismo, e isso incluindo novos conceitos para os que fazem das mídias sociais sua estrada da vida.
Com tristeza, vejo a insensibilidade mato-grossense diante dos fatos políticos e politiqueiros que nos enojam. Esse comportamento tanto em Cuiabá quanto nos demais municípios contrasta com a vibração das mesmas figuras silenciosas quando o tema é de abrangência nacional: Lula, Bolsonaro, Aécio, Dilma e outros vultos que transcendem os limites territoriais de Mato Grosso sempre estão no centro das críticas e dos elogios. Porém, quando se trata de Pedro Taques, Mauro Mendes, Jayme Campos, Wellington Fagundes, Adilton, Botelho, Pivetta, Fávaro, Leitão etc. o disco muda – calam-se as vozes e o sepulcral silêncio entra em cena.
Observo atentamente essa dualidade. Escrevo sempre sobre temas locais, que via de regra são tratados com indiferença; quando cito algo na esfera nacional não faltam comentários – alguns até agressivos. Imagino que nas urnas esse comportamento não deverá mudar e, diante disso, avalio que não devemos esperar nenhum tipo de mudança na representação eleitoral mato-grossense no governo estadual, Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional.
Ontem (25), postei um alerta ao Ministério Público Eleitoral sobre uma agenda casada do governador Pedro em alguns municípios no Chapadão do Parecis e em seus contrafortes no polo de Diamantino. Trata-se de uma nota distribuída pelo PSDB regional, com foto, e com um texto que intercala informações sobre vistorias de obras por parte de Pedro e elogios eleitorais de prefeitos a ele. Quem bancou a viagem da comitiva de Pedro àqueles municípios? Quem pagou ou pagará as diárias de seus assessores? Como reagirá o MP Eleitoral diante desse fato que configura campanha eleitoral extemporânea, abuso de poder e outros crimes? Tanto a imprensa quanto os internautas estão em silêncio. O que os leva ao bico calado? Respondam-me!
Teremos eleições diferenciadas no Brasil. Será o primeiro pleito com campanha interativa. O eleitor brasileiro dispõe de muitos canais para fiscalizar e denunciar, mas ao que tudo indica essa prerrogativa não será bem aproveitada em nosso abençoado Mato Grosso.
A denúncia no momento é contra Pedro, pelas razões apresentadas. No transcorrer da disputa, todos os crimes ou indícios de crimes eleitorais merecerão cobertura jornalística de minha parte. Mais: quero levantar a vida pública dos candidatos majoritários, estampando seu passado com seus erros e acertos.
Seria cômodo mostrar Pedro na região de Diamantino, com o pé na estrada fiscalizando obras de seu governo. No entanto, não vejo isso como manchete, por se tratar de dever legal. O que conta naquela andança é o desafio à lei com a utilização da máquina do governo e a subestimação da legislação eleitoral que impõe regras no período pré e eleitoral aos detentores de mandatos eletivos que estejam em busca da reeleição ou de outros cargos.
Seria cômodo mostrar o ex-vice-governador Carlos Fávaro (PSD) na condição de bom mocinho que renunciou ao cargo em respeito ao contribuinte, uma vez que sua função era decorativa. Seria cômodo passear pelo currículo do senador Wellington Fagundes (PR), por seus incontáveis mandatos exercidos. Seria cômodo mostrar Otaviano Pivetta (PDT) enquanto empresário milionário que administrou Lucas do Rio Verde em três mandatos. Seria cômodo elogiar Jayme Campos (DEM) enquanto líder político em Várzea Grande e pecuarista milionário. Seria cômodo destacar Mauro Mendes (DEM) por sua passagem pela prefeitura de Cuiabá. Seria cômodo citar que a juíza aposentada Selma Rosane de Arruda (PSL) mandou figurões para a prisão. Seria cômodo reforçar que os deputados federais Adilton Sachetti (PRB) e Nilson Leitão (PSDB) são líderes do agronegócio. Tudo isso seria cômodo, mas em termos jornalísticos seria a soma da informação filtrada com a omissão, a distorção e a conivência para induzir o eleitor ao juízo superficial sobre os candidatos que buscam o poder ou se manter nele.
A quem se destinará o texto isento e considerado audacioso para os padrões mato-grossenses, se o internauta o vê com indiferença, ou o descarta, ou teme sua leitura? Para nada, respondo. Portanto, para que possamos fazer do jornalismo uma eficiente ferramenta de mudança e um canal sempre pronto a denunciar com seriedade, é imprescindível a interatividade.
Espero continuar desenvolvendo um jornalismo isento e voltado para os interesses de Mato Grosso, desde que haja receptividade e interatividade com o mesmo. Fora disso é pregar no deserto, é exercício da irrealidade. Não pelo que pretendo escrever sobre a disputa e candidatos, mas pela democracia, por nossa terra, pelo amanhã de nossos descendentes, espero que possamos dar as mãos.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista e edita este site
eduardogomes.ega@gmail.com
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