…E a soja chegou
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Deus estava inspirado quando pediu aos céus que criassem um lugar diferenciado na face da Terra. Em sua onipresença, onisciência e onipotência o Senhor observou um conjunto de casebres brotando nas barrancas à direita do Poguba, que passa ficando rumo ao Pantanal onde rende-se ao imponente São Lourenço, e viu além do tempo, que 20 anos depois aquele lugar chamado Rondonópolis encontraria sua vocação econômica com a chegada da leguminosa chinesa glycine max, que atende pelo nome de soja.
Rondonópolis é o tema de todas as matérias, artigos, vídeos e do editorial deste blog. O conteúdo aborda a trajetória institucional do período de 71 anos, no pós-emancipação e divide-se em duas fases: o antes e o depois da chegada da soja.
A história rondonopolitana tem um capítulo especial sobre a soja, mas antes dela a cidade já crescia e tinha uma espécie de visgo que prendia aqueles que a visitavam. Brasil afora, onde houvesse um sonhador com o amanhã numa região em fase de colonização o nome Rondonópolis soava emblemático. Em 1973, o ano do primeiro cultivo da soja, havia 62.815 rondonopolitanos, a energia era gerada por conjuntos estacionários, não existia telefonia interurbana e a pavimentação para Campo Grande (BR-163) e Goiânia e Cuiabá (BR-364) acabara de ser inaugurada; as referências para atendimento médico eram os hospitais em Mineiros (GO) e o Hospital Santa Maria Bertilla, em Guiratinga.
À época da chegada da soja o município plantava roças de algodão em lavouras de toco. O armazém de Elias Medeiros, o Medeirão, era o destino da produção no entorno de Rondonópolis; Medeirão a enviava para as indústrias Gessy Lever, em São Paulo. A mania de grandeza rendeu ao lugar o título de Rainha do Algodão.
O cerrado, até então rejeitado pelos pecuaristas, que buscavam as chamadas terras de cultura, entrou no processo macroeconômico, com as lavouras de arroz de sequeiro.
O grande braço para a exploração do cerrado foi o trator CBT-1090, que ganhou um importante ponto de vendas: a concessionária Sociedade de Máquinas e Implementos Agrícolas (Somai), inicialmente instalada na rua Fernando Corrêa da Costa no cruzamento com a avenida Cuiabá, e de propriedade de João Belmonte Aigner e Dilson Cardozo. Durante alguns anos a Somai chegou ao topo das vendas ocupando o primeiro lugar no país.
Pelas ruas empoeiradas ou enlameadas caminhava sob um enorme chapéu, o peão Aníbal de Araújo, o Anibão, que era respeitado nacionalmente nos meios pecuários porque foi o primeiro campeão do Rodeio Cutiano na Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos (SP).
A conquista de Anibão aconteceu em 1956 e depois daquele feito o campeão passou a trabalhar em fazendas de pecuária no Vale do Jurigue, que era chamado de Santuário do Boi. O Jurigue nasce na Serra da Petrovina, banha Pedra Preta e Rondonópolis, e deságua na margem esquerda do rio Vermelho (Poguba para os Bororos), na área suburbana de Rondonópolis.
A cidade ganhou ares cosmopolitanos em 1958 com a inauguração de uma filial das Lojas Riachuelo. O hasteamento da bandeira daquela empresa em Rondonópolis foi anunciado por um carro de som, que percorreu as poucas ruas da época, criando assim a comunicação de massa local.
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O primeiro gerente da Riachuelo foi Vilson Marino, que mais tarde passou a integrar os quadros dos fiscais da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz).
Antes da soja, nós bebíamos o Guaraná Marajá, refrigerante produzido e envasado pela Marajá, indústria instalada na cidade pelo empresário visionário Djalma Pimenta e sua mulher Adney Pimenta. Os que foram para Rondonópolis arrastados pela leguminosa, também passaram a bebê-lo.
O Guaraná Marajá foi a primeira marca mato-grossense conhecida e consumida em todos os municípios de Mato Grosso. Com a idade avançada, Djalma Pimenta vendeu a fábrica para um grupo de Várzea Grande, que a transferiu para aquela cidade, onde continua em produção.
Rondonópolis, dita Terra de Rondon, o Patrono das Comunicações, tinha telefonia somente local e explorada pela empresa Serviço Telefônico Autônomo de Rondonópolis (STAR), criada em 1968 pelo empresário Antônio Estolano.
Quem precisasse fazer ligação telefônica para fora da cidade tinha que percorrer 200 km até Cuiabá, onde a Telemat mantinha postos telefônicos.
MEMÓRIA – Rondonópolis emancipou-se de Poxoréu na quinta-feira, 10 de dezembro de 1953, por força da cabalística Lei 666 de autoria do deputado estadual João Marinho Falcão sancionada pelo governador Fernando Corrêa da Costa.
À época o município recém-criado era imenso vazio demográfico, com um pequeno grupo de moradias e estabelecimentos comerciais, ao passo que a cidade-mãe fervilhava com o garimpo do diamante, que enlouquecia milhares de garimpeiros de todos os cantos do Brasil e recebia voos da Real Transportes Aéreos, com três frequências semanais, da rota São Paulo-Cuiabá.
Poxoréu não queria a emancipação de seu distrito ao qual era ligada por uma estrada aberta nos braços pelo garimpeiro mineiro Jacinto Silva, uma vez que o governo não assumia seu papel. Mesmo com a resistência, João Marinho levou adiante sua decisão de criar o município de Rondonópolis, muito embora sua base eleitoral fosse poxoreana.
A estrada de Jacinto é a MT-130 Rodovia Osvaldo Cândido Moreno, que foi pavimentada em 1985 pelo então governador Júlio Campos; Osvaldo Moreno foi prefeito de Poxoréu e deputado estadual.
A emancipação aconteceu em 1953 e a eleição do primeiro prefeito em 1954. A legislação estabelecia que até a posse do eleito e da Câmara Municipal, o governador nomeava o juiz de paz para o cargo de prefeito.
O juiz de paz era o empresário e pioneiro poconeano Otacílio Fontoura, mas Otacílio não aceitou a nomeação. Fernando Corrêa então convocou o primeiro suplente de Otacílio, Rosalvo Fernandes Farias, pecuarista baiano.
Rosalvo aceitou a nomeação e administrou Rondonópolis até a posse do primeiro prefeito Daniel Martins de Moura.
As postagens começam nesta quinta-feira, 5, e prosseguem até a data festiva, sempre identificada com o selo ora apresentado e criado pelo designer gráfico Marco Antônio Raimundo. A leitura dos conteúdos descortina a alma rondonopolitana. Nem todos, mas alguns textos se completam.
Agradeço a Deus por minha condição de rondonopolitano, por memorizar fatos tão relevantes sobre a nossa cidade e transmiti-los neste blog. Registro minha gratidão aos autores dos artigos, aos fotógrafos e ao designer gráfico Marco Antônio Raimundo – todos colaboram para a qualidade da informação.
Fica o convite à leitura.
Muito gratificante relembrar tantos lugares e pessoas de nossa Rondonopolis, uma deliciosa volta ao passado através desse texto tão rico em detalhes! Sua memória histórica é um presente para Roo e seu povo, Brigadeiro 🫰👏👏
Mais do que uma bela matéria jornalística, essa reportagem é um documento histórico. Parabéns, Eduardo.