ENTREVISTA – Com incentivo e buscando pacificação
ELEIÇÃO 2018 – Mauro Mendes não promete VLT, defende apoio à indústria e às cadeias produtivas da agricultura familiar e lamenta distorção de fatos
Mauro Mendes Ferreira, 54 anos, nascido em Anápolis (GO), engenheiro eletricista e empresário, casado, filiado ao Democratas, é candidato ao governo de Mato Grosso pela segunda vez e foi prefeito de Cuiabá. Mauro está à frente da coligação Pra mudar Mato Grosso, formada por oito partidos: DEM, PDT de seu vice Otaviano Pivetta, MDB do cacique Carlos Bezerra, PSD do ex-vice-governador e candidato ao Senado Carlos Fávaro, PSC, PMB, PHS e PTC. Jayme Campos, ex-governador e ex-senador candidato ao Senado, divide com ele a liderança democrata. Mauro presidiu o Sistema Federação das Indústrias (Fiemt) de 2007 de 2012 na condição de um dos capitães do empresariado mato-grossense. Paralelamente a isso, por um período, foi vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em 2008 foi candidato a prefeito de Cuiabá numa dobradinha com a professora e ex-deputada estadual Verinha Araújo (PT), mas não se elegeu. A derrota não o desmotivou. Dois anos depois Mauro continuava no palanque, mas dessa vez correndo atrás de votos para o governo tendo Otaviano Pivetta compondo sua chapa. Mesmo acumulando duas derrotas consecutivas, Mauro continuou no palanque. Em 2012, pelo PSB, em segundo turno foi eleito prefeito de Cuiabá. Agora, rompido com seu antigo aliado Pedro Taques (PSDB), disputa o governo repetindo a dobradinha com Pivetta. Lamentando que alguns adversários tenham se especializado em distorcer fatos sobre ele, foi cauteloso nas palavras. Elogiou Pivetta. Não prometeu obras, nem mesmo a do VLT – por conta da falta de recursos. Sua única promessa foi política: disse que em caso de eleição entregará o governo muito melhor do que o encontrará em janeiro de 2019. Defendeu a pacificação de Mato Grosso.
DIÁRIO DE CUIABÁ – Uma de suas denúncias mais recorrentes é sobre as finanças do governo. Isso é conhecimento ou dedução?
MAURO MENDES – Conheço uma parte dessa realidade através de relatórios que são no Tribunal de Contas e no Portal Transparência. Com mais profundidade e detalhes, somente quem está vivendo o dia a dia e não eu na condição de cidadão comum e de postulante ao cargo. Eu conheço o suficiente para ver, e.
DIÁRIO – Essa terrível situação financeira impede a retomada do VLT?
MAURO – O VLT demanda, segundo o governo, investimento de R$ 1 bilhão. Esse governo já teve as viaturas da Polícia Militar recolhidas por falta de pagamento, UTI sendo fechada por falta de pagamento. Escolas fazendo greve por falta de pagamento. A Santa Casa fechou o atendimento por falta de pagamento. Todos os fornecedores do Estado estão com meses e meses, chegando até ano, de atraso por falta de pagamento. Se o Estado não consegue honrar o básico do dia a dia, onde ele vai arrumar R$ 1 bilhão se ele não tem hoje condição de tomar novos empréstimos exatamente por essa dificuldade financeira de não ter capacidade de pagar? Nós vamos ter que ser muito criativos, encontrar soluções novas, estudar com profundidade as alternativas. Tanto que esse governo ficou três anos e nove meses sentado em cima do problema e não foi capaz de apresentar solução para a sociedade.
DIÁRIO – Como funcionaria seu anunciado consórcio com municípios para compra de medicamentos?
MAURO – Isso já existe em outros estados. Você monta um consórcio, a exemplo de outros consórcios que já existem no Estado, para coletivamente receber as demandas, processá-las, aglutiná-las e aí fazer as licitações em conjunto. Isso vai poupar dinheiro, porque comprando junto, comprando em quantidade, compra-se mais barato, além de aliviar a carga burocrática dos municípios, porque hoje temos 141 pessoas ou equipes cuidando de comprar remédios. Se nós juntarmos isso (os 141 compradores) e comprarmos 100 remédios, ou 10 mil remédios, ou 100 mil remédios de determinado tipo, o trabalho é o mesmo. Só tem um ‘numerozinho’ que muda ali. Então, nós vamos ter uma grande economicidade, inclusive de gente, porque não vamos ter os 141 municípios fazendo a mesma coisa. E compra de remédio pela quantidade de laboratório envolvido é um trabalho enorme, que ao centralizarmos vamos ter vários tipos de economia, além da regularidade no fornecimento para todos os municípios.
DIÁRIO – Saúde não se resume a remédio. Como fazê-la funcionar bem?
MAURO – Nós precisamos regularizar a infraestrutura dos hospitais regionais, ampliar a urgência e emergência. Melhorar a infraestrutura significa dar melhor condição de trabalho aos profissionais e atender melhor os usuários do sistema público de saúde no interior de Mato Grosso. Melhorando o atendimento no interior, nos hospitais regionais, nós vamos aliviar os polos, como Cuiabá e Várzea Grande, que recebem aí milhares, praticamente quase 50% de pessoas do interior que vão para os polos pelo não funcionamento adequado dos hospitais regionais.
DIÁRIO – Defina os servidores públicos.
MAURO – Eu penso que são extremamente importantes. Já mostrei isso quando prefeito de Cuiabá. Soube reconhecer e valorizar o trabalho desses servidores. Respeitei direitos, trabalhamos juntos para que esses direitos fossem efetivamente pagos. Se governador do Estado, vou trabalhar da mesma forma, respeitar direitos, criar um ambiente de respeito e de atuação em conjunto para que nós possamos tirar Mato Grosso dessa dura realidade em que se encontra. Vai depender não só do governador, mas de todos os servidores e de muitos atores da sociedade civil, também.
DIÁRIO – Como será sua relação com os poderes e as instituições?
MAURO – Com diálogo, com transparência, com a verdade. Mostrando essa dura realidade, sem briga. Não dá para viver num Estado sob ameaça, sob o medo, sob tensão. Porque aí você tira o foco dos problemas e não constrói soluções.
DIÁRIO – Seu governo ouviria a população, seus aliados…
MAURO – Sempre fui uma pessoa que tem uma grande capacidade de interlocução, de ouvir, de dialogar para que nós possamos tomar as melhores decisões que interessam a Mato Grosso e aos mato-grossenses.
DIÁRIO – Esse diálogo chegaria à Assembleia após as eleições, para articular o próximo orçamento?
MAURO – Seguramente vamos dialogar, sim, com os deputados para que possamos, na medida do possível, ajustar o próximo orçamento às prioridades que, se eleitos, teremos que executar a partir de 2019.
DIÁRIO – Defina seu vice, Otaviano Pivetta.
MAURO – Otaviano Pivetta, meu vice, é um empreendedor. Ele foi três vezes prefeito de Lucas (do Rio Verde). Já mostrou muita competência e muito trabalho. Tenho certeza que nós dois seremos capazes de compartilhar atuação, como se faz numa grande empresa. Vamos definir áreas de atuações e certamente Otaviano Pivetta vai contribuir muito com Mato Grosso e com a nossa administração.
DIÁRIO – Quais serão seus critérios para compor o secretariado? Político? Técnico? Híbrido?
MAURO – Híbrido. Com competência técnica, com competência política, com pessoas experientes que já mostraram que quando tiveram alguma oportunidade foram capazes de dar resultado. Mato Grosso vai precisar muito de muitas pessoas que estejam dispostas a trabalhar para tirá-lo da dura realidade em que ele se encontra hoje.
DIÁRIO – Como enfrentar os gargalos da infraestrutura em transporte?
MAURO – A infraestrutura ainda é um problema sério em Mato Grosso. Nós temos ainda o sonho da ferrovia; embora ela esteja em Rondonópolis, existem ainda muitas regiões demandando ferrovia. Existe a FICO como alternativa, a Ferrogrão entrando pela região norte chegando até Sinop. Esses modais vão ter que estar no centro das atenções e da busca de alternativas para que um dia se tornem realidade.
DIÁRIO – E as rodovias?
MAURO – As rodovias federais, vamos fazer gestão junto à nossa bancada federal para que aquelas que ainda não foram pavimentadas possam ser, a 158, a 174, vamos trabalhar com muita prioridade a MT-100 (rodovia estadual) na região sul. Vamos trabalhar em todas as alternativas desenvolvidas para que elas possam ter aí uma exequibilidade dentro do menor espaço de tempo possível tornando uma malha um pouco mais eficiente para ajudar o crescimento da produção de Mato Grosso.
DIÁRIO – Como sua equipe planejaria o governo?
MAURO – Planejamento dentro de nossa perspectiva de crescimento, de futuro. Planejamento não se faz só com obras. Você tem que ter planejamento para fazer a saúde funcionar, para melhorar o serviço de saúde. Você tem que ter um bom planejamento para que a Educação possa, no médio prazo, sair da 22ª posição entre os estados e melhorar. Nós queremos ter Mato Grosso entre os 10 melhores em Educação do país. Qualquer iniciativa demanda planejamento, mas demanda acima de tudo boa capacidade de executar, ter foco, formar equipe, saber delegar e saber cobrar. Sempre fiz isso e por onde passei dei resultado.
DIÁRIO – Seu governo botaria os incentivos fiscais na parede?
MAURO – Não. Os incentivos são prioritários para Mato Grosso. Gente, Mato Grosso está distante dos centros de consumo, aqui temos a energia mais cara do Brasil, temos o óleo diesel mais caro do Brasil. Nós estamos distantes dos centros de consumo para que nós possamos industrializar e transportar. Se temos esses diferenciais competitivos negativos e se nós não dermos incentivo fiscal, nenhuma empresa vem pra cá, nenhuma indústria fica aqui. Quem discorda disso desconhece a realidade do mundo econômico. Desconhece a realidade que todos os estados possuem políticas de incentivos fiscais. Todos os países do mundo industrializado possuem política de incentivo fiscal. Não tem nada de errado. Podemos melhorar a (política de incentivo) que existe hoje, podemos formatá-la dentro de princípios e conceitos mais modernos e eficientes para o desenvolvimento industrial e econômico de Mato Grosso; mas é necessário que haja uma política de incentivo fiscal.
DIÁRIO – Nesse contexto a Lei Kandir entra em cena…
MAURO – A Lei Kandir é um padrão de lei que tem no Brasil e da mesma forma tem no mundo inteiro. Todo mundo hoje tem a desoneração dos impostos dos produtos que são exportados, porque o Brasil para exportar não está competindo conosco – ele está competindo com os países do mundo inteiro. Se nós quisermos exportar impostos, os nossos produtos serão mais caros e não vão ser vendidos lá fora e aí ficaremos com 100% de nada. Portanto, a Lei Kandir, que desonera os impostos das exportações, é o tipo de lei que o Brasil tem e que todos os países que exportam também têm. O governo federal criou um mecanismo de compensação que poderá ser aprimorado, e já existem discussões sendo travadas pelos estados nessa linha e Mato Grosso pleiteia, assim como outros estados, uma elevação desse recurso para que isso possa compensar essa desoneração que facilita as exportações e que é muito bom para a balança comercial brasileira.
DIÁRIO – Opositores levaram para a propaganda eleitoral críticas suas à agricultura familiar…
MAURO – Meus adversários estão se especializando – tem alguns deles – em ficar distorcendo a realidade, mentindo para a população e acham que com a mentira vão ganhar as eleições. A agricultura familiar é muito importante. Eu nasci numa família de agricultores familiares, da pequena agricultura, num sítio de pouco mais de 100 hectares lá no interior de Goiás. Sei muito bem o que é isso (agricultura familiar), a dificuldade, sei da importância. O que tenho dito é que nós precisamos incentivar mais as cadeias (produtivas) e fazer com que cadeia, algumas delas, possam ter começo, meio e fim, e que esses produtos possam ter competitividade fora de Mato Grosso, pois aqui temos uma população relativamente pequena. Temos mais de 100 mil famílias (na agricultura familiar). Se nós não criarmos cadeias mais perenes para que os produtos possam sair de Mato Grosso e serem levados para outros estados e até para outros países, nós não vamos ter trabalho para todo mundo. Temos que investir nos hortifrutigranjeiros, investir na produção de frutas, temos que investir em alguns produtos e dou como exemplo o café, que vi lá na cidade de Colniza, na região noroeste. E esses produtos podem, sim, devidamente competitivos na sua produção local ganhar o Brasil e até ganhar o mundo. Essas cadeias que podem ter esse tipo de competitividade fora de Mato Grosso precisam ter incentivos, porque aí, sim, vamos gerar muito mais empregos na agricultura familiar do que fazemos hoje.
DIÁRIO – O que Cuiabá pode esperar de Mauro Mendes?
MAURO – Muita coisa como fiz por Cuiabá (quando prefeito). No meu governo vamos ter menos conversa fiada e menos obras sendo lançadas somente na conversa e entregar resultado como entreguei (na prefeitura) obras importantes. Até agora só vi conversa fiada, porque de prático mesmo pouca coisa está acontecendo. Estamos a menos de quatro meses (do final do mandato do governador Pedro Taques) e de quase tudo que foi falado quase nada foi feito.
DIÁRIO – Por que razão votar em Mauro Mendes?
MAURO – Porque eu tenho um currículo recente enquanto prefeito de Cuiabá, entreguei resultado (administrativo) na minha capital. Sou um homem que mostrou serviço quando lhe deram oportunidade de ser prefeito de Cuiabá. Estou com muita vontade, tenho experiência, tenho muita energia e uma experiência acumulada ao longo de mais de 30 anos enquanto empreendedor e ao longo de quatro anos na gestão pública. Se me derem oportunidade, vou entregar um Estado muito melhor do que aquele que vamos receber em 1º de janeiro de 2019.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO: Assessoria de campanha do Democratas
PS –
Entrevista publicada no Jornal Diário de Cuiabá edição 22 setembro 2018 Pág. A4
e também disponível na edição eletrônica daquele matutino em www.diariodecuiaba.com.br
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