Boa Midia

Especial UFR – Sobrevivente também obedece

“Manda quem pode: obedece quem tem juízo”. Esta frase resumiu o posicionamento do então deputado federal republicano Wellington Fagundes, no começo de 2010, quando seu sonho de disputar o Senado foi sufocado pela decisão do à época governador Blairo Maggi (PR) de deixar o Palácio Paiaguás e se lançar candidato a senador.

De certo modo Wellington é obediente da lógica política, mas ele prefere ser visto enquanto sobrevivente.

– Sobrevivente?

– Isso mesmo; é assim que o senador pelo PR, Wellington, eleito em 2014, se sente e não deixa de ter razão para tanto. Senão vejamos:

A pequena São José do Povo, que foi distrito de Rondonópolis, sempre foi bom pesqueiro de votos para Wellington. Na eleição de 2002 ele foi o mais votado para deputado federal naquela localidade, com 692 votos, seguido de longe por Augustinho de Freitas (PTB), e Teté Bezerra (PMDB), ambos com 249 votos; Teté é o nome político de Aparecida Maria Borges Bezerra.

Na sexta-feira, 19 de agosto de 2005, Wellington foi a São José do Povo em companhia do então deputado estadual Jota Barreto (PR), pra assistir um rodeio com montaria em touros e, claro, costurar seus interesses eleitorais. Barreto é casado com a professora Olinda, prima de Wellington.

O locutor da festa anunciou sua presença. Na arquibancada o público respondeu sem muito entusiasmo. Desapontado, mas escondendo do povo a decepção, Wellington olhou para Barreto dizendo em silêncio que o terreno estava minado. Em seguida o prefeito Florisberto Oliveira (PTB) o convidou e também a Barreto, para que fossem ao centro da arena, onde receberiam homenagens. O convite e a entrega das honrarias aos dois não despertaram os espectadores.

Enquanto Wellington e Barreto eram homenageados, um mestiço bravo investia contra as cercas do brete que o prendiam à espera do rodeio. Cada vez mais enfurecido o boi batia a cabeça e dava coices pra todos os lados.

Com a homenagem debaixo do braço Wellington caminhou para a cerca acompanhando Barreto. A arena que estava silenciosa de repente explodiu num grito a todos os pulmões: – Weeeeeeeeeeeeeelington! Weeeeeeeeeeeeeelington! Weeeeeeeeeeeeeelington! O coração de Wellington disparou de alegria. “O povo tá comigo”, pensou com seus botões. Não era bem isso. Na verdadea arquibancada gritou pra avisá-lo que o mestiço rompera a cerca e avançava feio em sua direção.

“Pluft, pluft, pluft”. O mestiço moeu Wellington, feriu Barreto levemente, arrombou a cerca, vazou entre a multidão e entrou na lateral da primeira casa de um grupo de 25, de um conjunto habitacional do governo, que estava em obra com recursos do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab). O boi derrubou todas as paredes de uma fileira de moradias. O animal foi contido por um método que não falha e virou carne de panela.

Levado às pressas para o Hospital Sara Kubitscheck, em Brasília, Wellington foi atendido pelo médico Aloysio Campos da Paz Júnior e sua equipe; Paz Júnior diagnosticou entre outras coisas que Wellington sofreu fratura cominutiva na perna direita – quando o osso é quebrado em pedacinhos. Resultado: muitas dores, incontáveis medicamentos, alguns pinos, meses de cadeira de rodas, muletas e bengala.

Por isso, Wellington se sente mais sobrevivente que obediente. Detalhe, em 2006, na eleição seguinte ao ataque do boi, Wellington manteve o primeiro lugar entre os candidatos a deputado federal em São José do Povo, com 533 votos ao passo que o segundo colocado, Carlos Bezerra (PMDB) patinou com 363 votos. Vale observar que Bezerra foi o governador que sancionou a lei de emancipação daquele município.

Wellington está sempre na estrada correndo atrás de votos, independentemente da proximidade ou não de eleição. Agora, mais precavido e escaldado por sua condição de sobrevivente, foge dos rodeios, mas nem por isso tira São José do Povo de seu roteiro

PS – Extraído do livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir” escrito e publicado em 2015 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais, ilustrado por Generino Rocha e com capa de Édson Xavier.

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