Fabris, o acuado deputado que sabe muito
Preso preventivamente desde a sexta-feira, 15, recolhido à Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá, e afastado do cargo de deputado, o vice-presidente da Assembleia Legislativa, Gilmar Fabris (PSD) é visto nos meios políticos enquanto ameaça aos colegas parlamentares, ao governador Pedro Taques (PSDB) e empresários da construção pesada. De temperamento forte, irrequieto e falante, Fabris certamente sofre um grande baque atrás das grades. Sua prisão, que não tem prazo para acabar, o abandono a que foi relegado e seu gênio poderão levá-lo a abrir a boca e com sua fala atingir boa parte do que resta da classe política mato-grossense.
A fundamentação do Ministério Público Federal (MPF) para o pedido da prisão de Fabris foi obstrução de justiça. O deputado teria saído às pressas de seu apartamento em Cuiabá, no dia 14, momentos antes que a Polícia Federal ali cumprisse mandado de busca e apreensão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o mesmo que decretou sua prisão e afastamento da atividade parlamentar. Segundo a denúncia apresentava a Fux, Fabris fugiu de pijama em seu carro acompanhado por sua mulher. Sua assessoria nega. Sustenta que ele deixou cedo a residência para vistoriar em Várzea Grande, obras executadas com recursos de emendas parlamentares de sua autoria.
Busca e apreensão no apartamento de Fabris aconteceu mais tarde. Aquela ação policial é um dos tentáculos da Operação Malebolge que surgiu com a delação premiada do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) ao MPF com homologação de Fux. Em seu desenrolar policiais vasculharam gabinetes na Assembleia, Tribunal de Contas do Estado, Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo (Sedec), prefeituras de Cuiabá e Juara, residências e endereços comerciais dos investigados e inclusive no apartamento do ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
Fabris não foi capturado por policiais federais. Ele compareceu à Superintendência da PF em Cuiabá, onde se entregou. No primeiro momento o noticiário dava conta de que a Assembleia deveria se reunir, de imediato, e decidir em plenário pela manutenção ou não do seu trancafiamento. Não foi bem assim. Constitucionalmente o Legislativo pode tomar tal decisão, em alguns tipos de crime. Mas, o STF botou freio na questão e o caso Fabris foge ao controle dos deputados. Paralelamente a isso o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (PSB), trata o assunto com a cautela de quem pisa em ovos. Aparentemente há temor generalizado entre os deputados e nenhum quer entrar em colisão com o MPF e Fux. Em resumo: que Fabris seja boi de piranha.
Figura sempre presente no governo desde 1983 quando o então governador Júlio Campos tomou posse, Fabris conhece os meandros do poder, como poucos. Desde 1991 ora enquanto titular ora na condição de suplente em exercício na Assembleia, ele participa do dia a dia dos dois poderes e, segundo analistas, é peça-chave na articulação entre o empresariado da construção pesada e o Palácio Paiaguás.
Com poucas mudanças o empresariado da construção pesada é o mesmo desde Júlio Campos, sem excluir Silval e Taques.
Praticamente toda a Assembleia está sob investigação por suspeita de recebimento de mensalinho, negociatas e propinas. No governo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, Carlos Avalone é um dos investigados. Avalone além de político é empresário da construção pesada. O ex-secretário de Educação de Taques, Permínio Pinto, foi preso (reconquistou a liberdade) acusado e réu confesso em crime de superfaturamento de construção e reforma de escolas. Nesse cenário, onde alguns empresários já fizeram delação premiada e outros ensaiam a mesma jogada, Fabris poderia fazer um strike como resposta à sua prisão.
Atrás das grades, Fabris está longe das ruas, mas acompanha o que acontece na Assembleia, onde seu suplente Meraldo Sá (PSD) caminha saltitante igual menino que ganha pirulito. Meraldo conta os minutos para ocupar a cadeira do titular preso. Na tribuna nenhuma voz se levanta pelo colega encarcerado.
Escolado pela vida, Fabris sabe que poderão ser decretadas mais preventivas contra ele – no mesmo ritmo do que aconteceu com Silval, que colecionou três um ano e nove meses no xilindró.
A palavra delação ainda não está no noticiário sobre a prisão de Fabris, mesmo assim ninguém duvida que ele poderá explodir a qualquer momento, jogando tudo para cima. O tempo dirá.
Da REDAÇÃO
Foto: MARCOS LOPES/AL
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